*Por Simone Gondim
O isolamento social imposto para tentar conter a propagação do coronavírus tem feito o ator Thiago Amaral pensar sobre a vida e reexaminar metas, relações de trabalho e o próprio comportamento. “Não é fácil ficar em casa, faz a gente refletir e reavaliar as relações. É um mergulho interno que obriga as pessoas a se redescobrirem. Meu universo passou a ser dentro do apartamento”, afirma. “Não seremos mais os mesmos depois da pandemia. Tomara que ela também deixe uma herança boa para a gente”, torce.
Para quebrar os momentos de reflexão e tornar os dias mais leves, Thiago tem uma parceira muito especial: a filha Ellora, de 2 anos e meio, fruto do relacionamento com a atriz Ohana Homem. “Estamos nos desdobrando na criatividade, porque a menina não para um segundo. Todo dia tem uma invenção nova, como pintura ou quebra-cabeças. Topo tudo”, conta ele. “Há o momento em que descemos para o play e ficamos meia hora para ela gastar energia. Levo uma bola e corremos como se não houvesse amanhã. Quando voltamos para casa, ela consegue relaxar um pouquinho mais e tirar um cochilo”, acrescenta.
Tão logo Ellora pega no sono, é a chance de Thiago e Ohana darem atenção à vida profissional e aproveitarem para curtir momentos a dois. “A gente redescobre todo o nosso universo dentro de casa. É um exercício muito louco e interessante. Temos esse período em que ela dorme para tocar a nossa vida e a relação como casal, porque tem a divisão pai, mãe e filha, mas é importante focar no lado que é só pai e mãe”, explica o ator. “Cumprimos várias funções. E organizar tudo em casa, dentro de 90 metros quadrados, é um desafio tremendo, mas estamos conseguindo. Tem sido divertido. Apesar de todos os perrengues, sou otimista. Acho que a gente vai sair dessa loucura toda melhor do que entrou”, completa.
Antes da pandemia, Thiago estava no ar como o Wesley da novela “Amor sem igual”, da Record. Para evitar o risco de contaminação por Covid-19, a emissora suspendeu as gravações. O ator, que interpreta o professor de dança de salão da casa de repouso Dia Feliz, faz parte de um núcleo formado, majoritariamente, por atores e figurantes idosos. “Quase todas as pessoas que contracenam comigo são do grupo de risco, por causa da idade. Mantemos uma relação superforte no grupo dos atores da novela. Graças a Deus estão todos bem”, diz ele. “Até sair o anúncio oficial de que a emissora iria parar, fiquei uma semana em quarentena, sozinho no Rio de Janeiro, mantendo minha imunidade alta, para eu não representar risco se fosse gravar com eles. Essa foi uma preocupação muito grande. Eu poderia estar contaminado, sem sintomas, e colocá-los em risco”, lembra.
Assim que saiu o anúncio oficial da Record de que as gravações seriam interrompidas por causa da pandemia, Thiago correu para São Paulo, a fim de se isolar com a mulher e a filha. A viagem de carro, saindo do Rio de Janeiro, foi cercada de cuidados. “Hoje em dia, você se arrisca só de pôr o pé fora de casa. Mas eu estava há muito tempo longe delas e é bem difícil ficar sozinho. Foi um risco que corri, mas é a minha família. Não posso deixá-las na mão”, reconhece. “Levei álcool gel no carro e saí com o tanque cheio, então só precisei abastecer uma vez. Minhas paradas foram estratégicas ao máximo. Levei a maioria das coisas de alimentação. Foi superplanejado, porque era uma necessidade extrema. Apesar do medo, eu não tinha outro lugar para ir a não ser voltar para casa e ficar com elas”, justifica.
Mesmo longe dos estúdios, Thiago não deixa de ensaiar. “Durante a quarentena, boto vídeos no YouTube para fazer um treino de zumba, de salsa. Na novela, a gente já passou por zumba, salsa, bolero e forró, que já teve alguma coisa de aula mas ainda não teve cena. É um universo totalmente novo, mas que me arrebatou. É um desafio maravilhoso”, derrete-se. “Com o Wesley, não é só dançar, ele tem que dar aula. O estudo não é só a dança, você tem que estudar para ensinar. Tem a contagem dos passos, as etapas a prestar atenção para cumprir. É muito legal. Além de estudar os passos, o segredo é a contagem. É mostrar, além da dança, a estrutura”, descreve. “Não lembro de um personagem de novela que desse aula de dança e mostrasse a coreografia. O papel do Wesley, além de ser professor, é de um motivador, o cara que vai validar a vontade de viver daqueles idosos”, conclui.
Thiago revela que adoraria que seu personagem trabalhasse o pasodoble, uma dança de origem espanhola cujos movimentos são inspirados nas touradas, mas acha difícil que isso apareça em “Amor sem igual”. Dos ritmos que já aprendeu por causa de Wesley, o samba foi o mais difícil. “Nunca na vida achei que fosse conseguir sambar, mas sempre tive vontade. Comecei a fazer aula de dança um mês, um mês e meio antes de gravar. De início, pratiquei zumba, mas o samba foi a minha maior dificuldade e é o que está sendo mais explorado, que é a gafieira”, aponta.
“Apesar de não fazermos aula de samba de gafieira em dupla, fazemos o solo, que se aproxima um pouco mais do samba que a gente conhece. Achei que não fosse conseguir e consegui. Foi uma vitória. O processo do Wesley não para nunca e me coloca em um lugar em que eu preciso estar pronto para aprender rápido um estilo de dança. Cada bloco que recebo pode vir com estilo de dança diferente”, complementa.
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