Celso Zucatelli levanta o debate sobre obesidade mórbida na série “Quilos mortais” e estreia como ator de cinema


Celso Zucatelli lança-se em mais uma vertente: o jornalista, correspondente internacional da Record por anos e apresentador do “Hoje em Dia” e da série médica “Quilos Mortais”, estreou como ator de cinema em “Tração”, longa de André Luiz Camargo, que traz Bruna Altieri e Marcos Pasquim como protagonistas. Numa conversa aberta, o repórter falou sobre qual a sua mais importante cobertura da carreira, além de destacar a importância da boa informação em tempos de fake news. Também, com bom humor, relembrou duas gafes icônicas durante a sua primeira passagem pelo “Hoje em Dia”: A Grávida de Taubaté, que enganou a todos, e o boato da morte de Amin Khader. As duas situações viraram até fantasia de carnaval

*por Vítor Antunes

Há alguns anos. as manhãs da Record aliam jornalismo e entretenimento com o “Hoje em Dia“. O programa, que estreou em 2005, passou, quatro anos depois, a ter em seu time o jornalista Celso Zucatelli. Após deixar a emissora em 2015, Zuca voltou à sua atual casa em 2019 e permanece numa profícua relação de parceria com a Record. Desde o ano passado, ele apresenta a série médica “Quilos Mortais” – que estará de volta na segunda quinzena de julho – e, neste ano, voltou ao “Hoje em Dia“, como apresentador eventual. Como se não bastasse o trânsito entre o jornalismo e a verve apresentador de programa de variedades, Celso estreou como ator de cinema na última semana. No filme “Tração” , de André Luiz Camargo, Zucatelli vive Rico Rei, apresentador de telejornal incisivo e inflamado. Sua referência à composição foi o jornalista Marcelo Rezende (1951- 2017). “Eu pensei muito nele. Ainda que eu tenha feito muitos programas desse tipo, e de alguma forma eu ainda faço, fui beber da fonte dos profissionais que têm essa pegada”.

Jornalista há mais de 30 anos, Celso Zucatelli, numa conversa aberta e sincera revisita os melhores momentos da carreira, como a cobertura da posse de Barack Obama em sua primeira eleição nos Estados Unidos, e relembra, também algumas passagens que até viraram meme, como a exibição da matéria sobre a “Grávida de Taubaté” no “Hoje em Dia“. A mulher foi desmascarada e Zuca reforça a importância da credibilidade jornalística e de uma apuração assertiva. Ele é crítico às recentes ondas de desinformação praticadas nas redes e é esperançoso de que haja uma filtragem melhor sobre bons conteúdos jornalísticos na Internet. Além disto, o repórter fala também sobre a importância da adoção responsável e do cuidado para com os pets, sua paixão.

Estreando como ator de cinema, Celso Zucatelli apresenta dois programas na Record (Foto: Antonio Chahestian/Divulgação RecordTV)

ZUCA

Em Portugal, “Zuca” é um título pejorativo dados aos brasileiros. Uma corruptela de “brazuca”. Por aqui, usamos com recorrência a expressão para designar, afetuosamente, as “coisas nossas”: O futebol brazuca, a ginga, o jeito… A arte brazuca é sempre melhor. E, de forma decolonial, usamos do personagem principal desta reportagem, o jornalista Celso Zucatelli – cujo apelido é, justamente, Zuca – para trazer este significado a nós. Desde 2019, Celso está de volta à Record, emissora a qual mais se manteve vinculado e da qual saíra em 2015. Passou por alguns jornalísticos da casa e, no ano passado, voltou ao entretenimento com a série documental “Quilos Mortais“, que aborda a obesidade mórbida. Além deste produto, também apresenta ocasionalmente o “Hoje em Dia“.

Como se não bastassem as já múltiplas habilidades do repórter, Celso agora também pode ser visto nas telonas. Interpreta Rico Rei em “Tração”, filme de André Luiz Camargo que estreou semana passada nos cinemas. Por mais que seja este o seu primeiro longa, não é, exatamente o primeiro trabalho como ator. “O meu envolvimento com dramaturgia é anterior ao do jornalismo. Eu sempre estive envolvido com grupos de teatro e sempre achei muito legal isso, só que a vida de jornalista não permite conciliar as duas carreiras”, conta.

A esposa de Zucatelli, Claudia, é atriz e Celso relata tê-la sempre acompanhado em estreias e lançamentos. Razão que acabou motivando a sua primeira participação em montagens teatrais: “Há alguns anos, eu recebi um convite de um grupo de teatro do ABC Paulista que faz montagens de textos consagrados e sempre convida personalidades. Fui participar e junto aos integrantes atuei em “Hermanoteu na Terra de Godah” e foi muito legal. Saiu uma notinha no jornal sobre a minha participação nesta peça, e foi algo que alcançou a diretora Fernanda Chamma, que estava montando um musical, o “A Christmas Carol” , no qual também trabalhei. Encontrei amigos incríveis nesse processo”.

Apaixonado por velocidade e esportes radicais, ao saber deste filme, “Tração“, Celso acompanhou a produção e “Quando fui convidado pelo André Luiz eu aceitei na hora e com o maior prazer”. No longa, Zucatelli vive um apresentador de telejornal num formato policial/popular. “Quando me passaram o briefing do roteiro, achei que ele precisava de polêmica, de uma postura mais enfrentativa. É legal pensar em pessoas marcantes neste trabalho na TV. Uma referência que usei para dar vida ao Rico foi o Marcelo Rezende (1951- 2017). Pensei muito nele. A luz do filme, escura, nos faz mergulhar nessa atmosfera, em que é possível traz o olho do espectador para dentro da cena”. E Celso faz o inevitável trocadilho: “Foi muito rico fazer o Rico”.

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O fato de tratar-se de um filme sobre esportes radicais, assim como ser um projeto que, além deste pioneirismo, traz uma mulher como protagonista, foi um dos motivadores da participação de Celso. No longa, Bruna Altieri vive Isadora, uma garota que também é fissurada por velocidade e que é impedida pelo pai, Ajax (Marcos Pasquim) em investir nesse sonho. “Eu adoro esportes radicais, velocidade, esse é um universo do qual eu estou muito próximo e sentia falta de haver, no Brasil, uma abordagem desse assunto. Além disso, há aqui no Brasil grandes assaltos, o que é uma realidade. Essas operações de guerra acontecem aqui, razão pela qual o filme é verdadeiro, real, próximo de nós”. A fala do ator se justifica em razão de um grande roubo ter uma importância fundamental na narrativa do projeto, que é, também inspirado nos heist movies, os filmes de assalto.

Celso Zucatelli em cena de “Tração”, vivendo Rico Rei (Foto: Divulgação)

Outro projeto que Zucatelli está e que possui estreia próxima é o “Quilos Mortais“, programa da Record que vai às telas dia 21 de julho. “É importante se discutir a obesidade, um tema apaixonante para mim. Eu adoro falar sobre saúde. Tive o privilégio de entrevistar muitos médicos e foi um presente. Aprendo muito sobre isso.“Quilos” é um programa adaptado para a TV aberta e que oferece um alerta importante quando mistura o entretenimento com o jornalismo. Há gente que começou a fazer dieta por conta de ser telespectador do programa. E essa consciência é importante já que a obesidade é uma das maiores preocupações da OMS (Organização Mundial da Saúde)”

Estamos num país em que as pessoas têm um péssimo acesso à saúde. Temos o compromisso de falar, levar informação sobre vida saudável às pessoas e tenho a certeza de que é possível, com informação, salvar vidas – Celso Zucatelli

“Quilos Mortais” é um programa que traz a obesidade ao debate (Foto: Antonio Chahestian/Divulgação RecordTV)

TRANSFORMAÇÕES NO JORNALISMO

Para compor o personagem de “Tração”,  Zucatelli usou muito das próprias ferramentas e dos referenciais do jornalismo popular. Para ele, “há uma grande identificação do público com esses jornais. Há uma coisa bem verdadeira quando se faz este tipo de programa que tem espaço para o opinativo, que mexe com a gente de verdade e nos faz falar com o fígado. Eu gosto desta provocação também e o diretor do Hoje em Dia faz isso em nós”, diz ele referindo-se ao fato de haver, no programa que conduz, a necessidade de comentar sobre algo que lhe é muito caro – como o maltrato aos animais ou questões relacionadas à corrupção. Para compor o jornalista indignado do longa de André Luiz, Zuca lançou mão deste artifício, de imaginar algo de intensidade figadal. “Busquei o íntimo da minha indignação e busquei na minha experiência a minha emoção, como eu ficaria naquela situação, no que me indigna”.

Agora, com a pulverização dos veículos de comunicação e os perigos das notícias falsas ou distorcidas, o jornalismo se vê diante de um grande cheque. Há, mesmo entre os jornalistas, grande descrença sobre o futuro da profissão. Algo que Zucatelli não concorda. “Eu sou otimista. Quando me perguntam se essa forçação de barra com as manchetes chamativas vai acabar com a credibilidade da imprensa, eu digo que não. Ainda que estejamos diante desta grande confusão, creio que estejamos, também, com um filtro maior junto ao receptor da mensagem – quer seja o ouvinte, o telespectador, ou o leitor”.

O que nos preocupa como jornalistas é uma preocupação geral. Precisamos, claro, de uma imprensa forte, confiável e respeitada. Isso é fundamental em qualquer lugar. Sempre tivemos uma imprensa assim no Brasil, e há uma confiança grande na mídia, ainda que eu creia que em algum momento isso mudou. Hoje, com a ebulição de meios de comunicação, com esse boom de espaços, há coisas que se perdem e fogem do controle – Celso Zucatelli

Dentro do jargão jornalístico, quando se noticia um fato impreciso por imperícia costuma-se dizer que foi uma “barriga”. Para relatar esta situação, não poderia haver palavra mais adequada. Em 2012, uma mulher, moradora da cidade de Taubaté, interior paulista, foi a personagem principal de uma edição do “Hoje em Dia“. Ela dizia estar grávida de quadrigêmeas e tinha uma barriga excessivamente volumosa, disforme. Apresentada ao vivo no jornalístico da Record, Maria Verônica Vieira dizia passar por dificuldades financeiras para dar conta das quatro crianças que em breve nasceriam, “as quatro Marias”, e que era difícil viver também: “Durmo quase sentada”, dizia, laconicamente, diante da compaixão dos apresentadores Ana Hickmann, Edu Guedes, Chris Flores e do próprio Zucatelli. O público também parecia emocionado pois, naquela manhã, a Record batia recordes de audiência. Todavia, pouco depois da veiculação deste matéria, ou deste episódio, a própria Record apercebeu-se do equívoco e notou que tudo aquilo era uma farsa. Desde então, 11 anos depois, a “barriga” da farsante “grávida de Taubaté” é lembrada.

Celso Zucatelli e Maria Verônica, a falsa “Grávida de Taubaté” (Foto: Reprodução/RecordTV)

“Grávidas de Taubaté” no desfile da São Clemente, em 2020 (Foto: Reprodução/TV Globo)

E esta não foi a única situação adversa a ocorrer na revista eletrônica matutina. Em 2011, em junho, foi noticiada a morte de Amin Khader, que chegou a fazer entrevista para o ‘Hoje em Dia’, e, depois comentava notícias sobre famosos. O que viria a ser desmentido ainda naquele dia pela Record, cabendo a Celso a missão de pedir desculpas no dia seguinte. Teve o jornalista que agir de maneira pragmática diante disso: “Eu não tenho o menor problema em pedir desculpa. Não importa onde aconteceu o problema. Houve uma apuração incorreta sobre algo que aconteceu e a informação levada ao ar estava errada. A minha missão ali, naquela hora, é entender o que houve, pedir desculpas, reconhecer o problema e ficar mais atento para que aquilo não se repita. Esse é o nosso papel. O telespectador não tem culpa do erro que aconteceu no bastidor. Se houve, corrigimos e é isso. É assim como lidamos. E isso não diminui a nossa responsabilidade e obrigação de evitar que isso se repita”.

Na produção de um programa diário, especialmente de muitas horas como naquela época, há sempre muita coisa para corrigir. Às vezes, notamos que uma dinâmica não ficou muito legal ou uma entrada, um timing, uma apuração, entrevistas, conteúdos, tudo é um desafio permanente de uma equipe apaixonada pelo que faz mas que age de acordo com o necessário para não errar e que sabe reconhecer quando isso acontece – Celso Zucatelli

… e o “Balanço Geral RJ” fez uma entrevista com Amin (Fotos: Reprodução/RecordTV)

“Hoje em Dia” noticiou a morte de Amin Khader…

Em contrapartida a estas passagens, Zuca aponta-nos que um momento memorável de sua carreira foi a cobertura da eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos. “Era uma mensagem, um sinal para o mundo. A eleição do Obama foi algo muito emocionante. Peguei a minha câmera e fui pro meio do povo gravar aquilo que pra mim era algo inédito. Nunca havia visto pessoas tão felizes. Era algo muito lindo. Claro que vi muitas coisas interessantes lá, como o pouso do avião sobre o Rio Hudson ou cobri questões importantes como o furacão de Nova Orleans, mas nada se compara à eleição do Obama”. Descontraidamente, Zuca revela-nos, inclusive, que o ex-presidente americano o segue no Twitter: “Uma honra”.

Posse de Obama em 2009. A eleição do presidente, no ano anterior, foi maior cobertura da carreira de Zucatelli (Foto: US Force)

50 ANOS, PAÇOCA, MANDIOCA, CAFEZINHO E HAMBURGUER

No início deste ano, o apresentador completou 50 anos. Ele disse estar vivendo a energia do cinquentenário “essa coisa deliciosamente boa que é a maturidade com saúde. É um presente. Eu, que sempre pratiquei atividade física, como ciclismo e natação, agora fui recomendado pelo médico a fazer musculação. O que é importante é que a principal mudança perpassa pela noção de que devemos dar valor ao que é, de fato, importante: A família, os amigos, a saúde, a felicidade. Completei os meus cinquentinha numa viagem para Belize mergulhando no Blue Hole, fazendo esportes radicais. Ou seja, continuo o mesmo da juventude, porém com mais maturidade. Se eu tivesse mergulhado mais jovem, talvez eu não desse o devido valor”.

Celso Zucatelli e os seus quatro cachorros: Cafezinho, Mandioca, Hamburguer e Paçoca (Foto: Reprodução/Instagram)

Um dos temas que também mexem com Zuca são os pets. Ele tem quatro – Paçoca, Cafezinho, Mandioca e Hambúrguer. “Eles são os amores da minha vida. Tudo começou com o Paçoca, que me abriu esse universo. Hoje eu sou totalmente ligado à proteção animal, sou apaixonado. Às vezes, a gente tem um dia difícil e, em poucos segundos, eles mudam tudo”. O mais novo dog do jornalista é o Hambúrguer, resgatado da rua na véspera do Natal. “Ele me chegou magrinho, doente, com parvovirose. A veterinária cuidou dele, que se recuperou a tempo desta doença que costuma ser grave. Hoje, ele é uma das alegrias da casa”. Ao falar dos seus melhores amigos, Zucatelli faz lembrar Bráulio Bessa, o poeta, que ao falar dos cachorros diz que “sem diploma, sem estudo, o cão é mestre. Professor da mais bela disciplina: a matéria do amor (…) que tem quatro letras e, por certo, quatro patas”.