Cauã Reymond: ‘Tenho orgulho da minha resiliência. Me vi diante de estradas e escolhi a que me trouxe até aqui’


Em entrevista exclusiva, o ator fala do momento de repercussão do intenso trabalho em ‘Um Lugar ao Sol’ e das escolhas da carreira que este ano completa 20 anos. Também fala da família, do desejo de ter outro filho e de como a maturidade foi apurando a forma de receber o olhar para o seu trabalho: “Sempre cultivei um lugar de humildade para receber as críticas. Mas, muitas vezes, acho que a crítica que te coloca para baixo fala mais da pessoa que a faz do que da que está sendo criticada. Já estive em trabalhos que as críticas foram muito generosas com uns e nada com outros. Magoa, né?”

*Por Brunna Condini

Cauã Reymond conversou com o site direto da sua casa no Rio de Janeiro, por telefone. Mesmo resfriado – ele testou e não é Covid – o ator falou sobre o momento com entusiasmo. E, apesar de admitir ser inquieto e pensar muito sobre tudo – “sou quase existencialista” -, tem uma calmaria no ar. Vinda das conquistas e da maturidade embutidas nos 41 anos? É provável. Protagonizando ‘Um Lugar ao Sol‘, de Lícia Manzo, como os gêmeos Christian e Renato, ele colhe o reconhecimento da carreira iniciada há 20 anos. “Me orgulho da minha resiliência. Quando me vi diante de algumas estradas na vida, escolhi a que me trouxe até aqui. Fico feliz de ter cultivado por perto as pessoas que dizem ‘não’. É perigoso ter ao redor só as que dizem ‘sim’ para você. E fico satisfeito de ter tido bons analistas para falar das minhas inseguranças e desejos. Além disso, também cultivei um lugar de humildade para receber as críticas”.

Protagonizando 'Um Lugar ao Sol', de Lícia Manzo, como os gêmeos Christian e Renato, ele colhe o reconhecimento da carreira iniciada há 20 anos (Reprodução/ Instagram)

Protagonizando ‘Um Lugar ao Sol’, de Lícia Manzo, como os gêmeos Christian e Renato, ele colhe o reconhecimento da carreira iniciada há 20 anos (Reprodução/ Instagram)

Recentemente, Cauã comentou que, no início da sua trajetória, chegou a ser desestimulado a seguir a carreira de ator, porque não teria um físico de galã ‘clássico’ – “do tipo louro, olhos azuis”, chegou a ouvir na época. Imaginem. Ele foi em frente aprendendo a não confiar em tudo que ouve, separando o ‘joio do trigo’. “Muitas vezes, acho que a crítica que te coloca para baixo fala mais da pessoa que a faz do que da que está sendo criticada. Já estive em trabalhos que as críticas foram muito generosas com uns e nada com outros. Magoa, né?”.

"Já tomei uns 'caldos' que podia não ter tomado. Embarquei em umas ondas que poderia não ter ido, poderia ter agido com mais maturidade. O que ajuda hoje a não agir da mesma maneira" (Reprodução/Instagram)

“Já tomei uns ‘caldos’ que podia não ter tomado. Embarquei em umas ondas que poderia não ter ido e agido com mais maturidade. O que ajuda hoje a não agir da mesma maneira” (Reprodução/Instagram)

Na trama das 21h, Christian/Renato ‘mete os pés pelas mãos’ e paga um preço alto. “Quando assume a identidade do irmão, ele toma uma atitude desesperada, ingênua, desejando alguma igualdade de condições, mas vai pagando por isso ao longo da novela. Vai ficar ainda mais difícil para ele”, revela. Já o ator garante que nunca precisou ‘pagar’ por atitudes que tenha tomado ao longo da vida. “Mas já tomei uns ‘caldos’ que podia não ter tomado. Embarquei em umas ondas que poderia não ter ido e agido com mais maturidade. O que ajuda hoje a não agir da mesma maneira. Acho que se pudesse voltar a algumas decisões profissionais, por exemplo, faria diferente. Nada demais. Só teria dado mais espaço entre alguns projetos. Emendei muitos”, avalia Cauã, que fez 11 novelas, cinco séries e 24 filmes até aqui.

Cauã como como os gêmeos Christian e Renato: "Nunca critiquei o personagem. É uma lei para mim, dentro do processo criativo, de trabalho" (Divulgação)

Cauã como como os gêmeos Christian e Renato: “Nunca critiquei o personagem. É uma lei para mim dentro do processo criativo de trabalho” (Divulgação)

Por conta da pandemia, ele ficou envolvido com o folhetim durante mais de dois anos, sendo 14 meses de set, levando em conta as interrupções de gravação, e comenta sobre a intensa experiência na pele de três versões do personagem: como Christian, como Renato e como alguém que nasce da mistura de um na pele do outro. “Na reta final, eu comecei a ficar um pouco impressionado com as atitudes dele. Foi ‘quebrando’ qualquer linha de pensamento, entrando em um lugar difícil de justificar, mas nunca critiquei o personagem. É uma lei para mim dentro do processo criativo de trabalho. Mesmo que, muitas vezes, eu não concorde. O drama é feito de situações que dão errado: é alguém querendo algo que não consegue. Abracei isso e me diverti fazendo esse cara que está entrando nesta roubada cada vez maior. Entrando em um buraco cada vez mais difícil de sair”, diz, quase dando um spoiler do que está por vir.

Construtor de ilusões

Da inquietude e do desejo de contar histórias escolhidas nasceu também a versão produtor de Cauã. “Da vontade de construir narrativas. É um lugar para ocupar entre um personagem e outro. Além disso, também me dá a possibilidade de fazer personagens que deseje muito. Me sinto sortudo de poder esperar chegar um projeto que me desafie, que me faça sentir um frio na barriga e um desejo enorme de estar junto com um grupo de criadores. No meio desse caminho minha inquietação se mantém. Isso faz com que eu possa desenvolver outras coisas. Tenho um lugar sensível, emotivo, mas também sou pragmático para analisar os projetos”.

E revela: “Além de uma série de ficção para a Globoplay batizada ‘Mata-mata’ sobre os bastidores do futebol, estou desenvolvendo um projeto de variedades, com uma super produtora e um super artista para a TV fechada. Assim que puder falo mais sobre esse projeto. Ainda estamos em fase de negociação. Tive a ideia durante um telefonema. Fui lá e registrei”.

"Desejamos que as pessoas gostem dos projetos que criamos, mas acredito que o mais importante durante o caminho é a própria caminhada” (Reprodução/ Instagram)

“Desejamos que as pessoas gostem dos projetos que criamos, mas acredito que o mais importante durante o caminho é a própria caminhada” (Reprodução/ Instagram)

Apesar da mente criativa e dos ouvidos atentos, o ator admite que prefere chamar um roteirista para colocar no papel as ideias e tramas. “Não sei se escrevo bem, graças a Deus conheço gente que escreve (risos). Vou te contar uma história e você vai entender como funciono. No começo da minha carreira, eu adorava tocar violão. Tinha um amigo que tocava, músico e ator, que me ensinou umas três músicas. Eu, taurino, persistente, aprendi e tocava toda vez que ele passava o violão para mim, mas percebi que quando estava tocando, as pessoas levantavam (risos). Então, me sinto mais confortável de fazer coisas que sei”. E planeja: “Quero dar continuidade aos projetos que estou criando, independente do êxito. Claro que desejamos que as pessoas gostem, mas acredito que o mais importante durante o caminho é a própria caminhada”.

A arte de reconhecer

O ator conquistou reconhecimento profissional e o poder de fazer escolhas. No entanto, há pouco tempo revelou que nunca pensou em ir tão longe já que veio de uma família que passou por muitas dificuldades por parte de mãe. Ele teve acesso a boas escolas por conta dos avós paternos. “Sou grato por tudo que recebi, que consegui conquistar. Exercito a gratidão mais do que nunca nos tempos que vivemos. Só peço saúde e faço a meditação da gratidão. É uma conversa diária, reconhecendo tudo que tenho e sou. E procuro me amar, isso é um grande aprendizado: fazer o que te faz bem. Tenho valorizado isso”, compartilha. “Sou grato por trabalhar no que amo e poder fazer escolhas saudáveis que acredito. Sei que isso é um privilégio vivendo em um país em que grande parte da população não tem como fazer isso”.

"Sou grato por trabalhar no que amo, poder fazer escolhas saudáveis, que acredito, sei que isso é um privilégio" (Reprodução/ Instagram)

“Sou grato por trabalhar no que amo, poder fazer escolhas saudáveis, que acredito, sei que isso é um privilégio” (Reprodução/ Instagram)

Casado com Mariana Goldfarb, e pai de Sophia, de 9 anos, da sua união anterior com Grazi Massafera, Cauã reafirma que ter outro filho está nos planos e divide suas reflexões dos últimos tempos sobre o sentido da família em sua vida. “Perdi minha mãe há três anos (a astróloga Denise Reymond morreu em 2019, em decorrência de um câncer de ovário). Minha filha não pode contar com a avó e isso machuca meu coração. Meu pai mora longe, não pode estar perto sempre. Perdi minha tia para um câncer também, perto da morte da minha mãe. E, no final do ano passado, me deu uma angústia com Natal e tudo o mais. Mas isso só me leva para um lugar de construir relações cada vez mais próximas com meu irmão (Pável Reymond, de 33 anos), minha irmã (Lara, por parte de pai), minha mulher, minha filha. Cada um pode construir sua família com a configuração que for, como for possível, como desejar. E é isso que desejo passar para Sophia”.

Sophia, Cauã e Mariana Goldfarb: "Cada um pode construir sua família com a configuração que for, como for possível, como desejar" (Reprodução/ Instagram)

Sophia, Cauã e Mariana Goldfarb: “Cada um pode construir sua família com a configuração que for, como for possível, como desejar” (Reprodução/ Instagram)

E confessa que vem trabalhando para se tornar sua melhor versão muito por conta da paternidade. “Adoro criança. Outro filho vai acontecer naturalmente. A Sophia é uma luz na minha vida. Sou um pai atento e cada vez mais amoroso. Tento construir sempre um caminho de diálogo com a minha filha, para que ela se sinta cada vez mais confortável de contar, conversar as coisas comigo. E sou muito preocupado sobre como ela vai andar com as próprias pernas”, analisa. “Sophia é uma personalidade muito rica. Desejo que ela conquiste autonomia emocional para fazer suas próprias escolhas, no caminho que desejar. Vou sempre apoiar a minha filha”.