*Por Brunna Condini
A partir de 1º de setembro Cauã Reymond poderá ser visto nos cinemas desconstruindo a imagem heroica de Dom Pedro I no longa ‘A Viagem de Pedro‘, escrito e dirigido por Laís Bodanzky. O filme traz um recorte do momento em que Dom Pedro I retorna para Portugal, em 1831, nove anos após proclamar
O imperador como não se viu
A trama é desenvolvida em 1831, quando Dom Pedro I busca forças físicas e emocionais para enfrentar seu irmão que usurpou seu reino em Portugal. O filme se passa no Oceano Atlântico, a bordo de uma fragata inglesa, e mostra um homem doente e inseguro, que entra nesta jornada em busca de uma pátria e se reconhecer. “Mostramos um Dom Pedro mais frágil e vulnerável. Ao longo da história fomos acostumados a olhar para esse imperador como alguém viril e impetuoso, mas relatos e fatos históricos omitidos dos registro oficiais nos mostram que não era bem assim. E, junto com a Laís, reconstruí essa travessia Brasil-Portugal em momento muito delicado para ele”, detalha Cauã.
O filme é uma oportunidade para entrarmos em contato com nossas raízes e perceber onde ‘erramos’ e ‘acertamos’ enquanto nação – Cauã Reymond, ator
As filmagens da produção foram realizadas em 2018 e tiveram cenas rodadas em alto mar, em uma travessia de Salvador ao Rio de Janeiro, também em Arraial do Cabo e em uma fazenda localizada em Rio das Flores, no estado do Rio. Além de locações em Lisboa e Açores, em Portugal. “Foi uma longa travessia, que se iniciou há cerca de seis anos. Mas queríamos fugir do lado histórico, do já tão explorado ‘grito da Independência’, e jogar um olhar sobre esse homem cheio de ambiguidades e de vida curta, mas intensa”.
Relembrar a história é algo que deveríamos fazer sempre, afinal é um exercício que nos ajuda a nos preparar melhor para o futuro – Cauã Reymond, ator
O ator também conta que a mãe, Denise Marques, que faleceu em 2019, vítima de um câncer, estava bem debilitada durante as filmagens, e isso impactou em sua intensa vivência no set: “Foi um período mais sensível, e tem muito desse momento emocional ali no filme”.
Em busca da autonomia criativa
Aos 42 anos, com 20 de carreira, o ator tem investido cada vez mais em projetos próprios ou que acredite. Na versão ator, ele poderá ser visto na TV até antes do cinema, já que a partir de 25 de agosto estreia a segunda temporada do seriado ‘Ilha de Ferro’, na TV Globo. Já na versão criador, ele busca autonomia e desenvolve projetos. “Estou trabalhando em uma série de ficção para o Globoplay, chamada ‘Mata Mata‘, sobre os bastidores do futebol, e também em um programa de variedades sobre moda e comportamento, para a TV fechada”, diz Cauã, que também produziu o filme, que estreia neste início de setembro, e já emenda mais um longa: “Como criador a vontade é de construir narrativas. É um lugar para ocupar entre um personagem e outro. Além disso, também me dá a possibilidade de fazer personagens que deseje muito”.
Paternidade ativa
“Acho que o meu maior desafio é ser esse pai presente que eu procuro ser, mas que também precisa focar em outros setores da vida. A presença física com tempo de qualidade é um desafio grande, mas nossa convivência é muito prazerosa, então quando estou com a Sofia eu tento realmente estar presente e conectado”.
Como pai estou me aprimorando, sou muito interessado, e sempre faço uma autoanálise de como posso melhorar – Cauã Reymond, ator
O ator comenta também sobre o fato de muitos homens não exercerem a paternidade ativa em nosso país. “Viemos de uma cultura e construção familiar machistas, que protegem esse pai que não se compromete, de fato, com os filhos. Ser um pai ativo e participativo é uma desconstrução diária, então precisamos estar sempre atentos e revendo nosso comportamento. É preciso se abrir para uma conexão maior com os filhos, para construir uma relação mais próxima, de amor e de cuidado. É um processo desafiador, mas muito lindo e prazeroso”.
Amadurecimento
Considerado um dos melhores atores da sua geração, Cauã reconhece no presente sua melhor fase. “Com a maturidade passei a lidar melhor com as críticas e comentários a respeito do meu trabalho. Mas sou muito autocrítico, então me preparo para os meus projetos, estudo bastante, me entrego, para no final ter o saldo de que entreguei o meu melhor”, avalia.
Como criador a vontade é de construir narrativas. Além disso, é um lugar que me dá a possibilidade de fazer personagens que deseje muito – Cauã Reymond, ator
E que tipo de crítica é bem-vinda e qual é dispensável? “As críticas generosas, construtivas, que nos fazem refletir e melhorar em alguma área da vida, são sempre bem-vindas. Já as críticas sem boas intenções, além de desnecessárias, são dispensáveis”.
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