Cauã Reymond: “Rever a história é uma oportunidade de perceber onde erramos e acertamos como nação”


O ator poderá ser visto nos cinemas trazendo outro recorte de Dom Pedro I no longa ‘A Viagem de Pedro’, que estreia 1º de setembro. Nesta entrevista, Cauã fala sobre suas versões como artista, e a estreia do filme no bicentenário da independência do país, e em ano de eleições: “Não pensamos no lançamento para este momento, mas relembrar nossa história é um exercício que nos ajuda a nos preparar melhor para o futuro”

“A viagem de Pedro”, longa dirigido por Laís Bodanzky, é estrelado por Cauã Reymond (Foto: Fabio Braga)

“A viagem de Pedro”, longa dirigido por Laís Bodanzky, é estrelado por Cauã Reymond (Foto: Fabio Braga)

*Por Brunna Condini

A partir de 1º de setembro Cauã Reymond poderá ser visto nos cinemas desconstruindo a imagem heroica de Dom Pedro I no longa ‘A Viagem de Pedro, escrito e dirigido por Laís Bodanzky. O filme traz um recorte do momento em que Dom Pedro I retorna para Portugal, em 1831, nove anos após proclamar a Independência do Brasil. A produção se propõe a trazer uma visão mais intimista do personagem histórico, e entra em cartaz na semana do bicentenário da Independência do Brasil. Cauã fala sobre a importância do regaste da memória do país, principalmente em um ano decisivo como esse, de eleições. Relembrar o passado e nossa história é algo que deveríamos fazer constantemente, afinal é um exercício que nos ajuda a nos preparar melhor para o futuro. O lançamento do filme não foi pensado para esse momento, mas é uma excelente oportunidade para que as pessoas entrem em contato com nossas raízes e percebam onde ‘erramos’ e ‘acertamos’ enquanto nação”.

Cauã Reymond como Dom Pedro I no filme 'A Viagem de Pedro' (Foto: Fabio Braga)

Cauã Reymond como Dom Pedro I no filme ‘A Viagem de Pedro’ (Foto: Fabio Braga)

O imperador como não se viu

A trama é desenvolvida em 1831, quando Dom Pedro I busca forças físicas e emocionais para enfrentar seu irmão que usurpou seu reino em Portugal. O filme se passa no Oceano Atlântico, a bordo de uma fragata inglesa, e mostra um homem doente e inseguro, que entra nesta jornada em busca de uma pátria e se reconhecer. “Mostramos um Dom Pedro mais frágil e vulnerável. Ao longo da história fomos acostumados a olhar para esse imperador como alguém viril e impetuoso, mas relatos e fatos históricos omitidos dos registro oficiais nos mostram que não era bem assim. E, junto com a Laís, reconstruí essa travessia Brasil-Portugal em momento muito delicado para ele”, detalha Cauã.

O filme é uma oportunidade para entrarmos em contato com nossas raízes e perceber onde ‘erramos’ e ‘acertamos’ enquanto nação – Cauã Reymond, ator

"Fomos acostumados a olhar para esse imperador como alguém viril e impetuoso, mas relatos e fatos históricos omitidos dos registro oficiais, nos mostram que não era bem assim" (Foto: Fabio Braga)

“Fomos acostumados a olhar para esse imperador como alguém viril e impetuoso, mas relatos e fatos históricos omitidos dos registro oficiais, nos mostram que não era bem assim” (Foto: Fabio Braga)

As filmagens da produção foram realizadas em 2018 e tiveram cenas rodadas em alto mar, em uma travessia de Salvador ao Rio de Janeiro, também em Arraial do Cabo e em uma fazenda localizada em Rio das Flores, no estado do Rio. Além de locações em Lisboa e Açores, em Portugal. “Foi uma longa travessia, que se iniciou há cerca de seis anos. Mas queríamos fugir do lado histórico, do já tão explorado ‘grito da Independência’, e jogar um olhar sobre esse homem cheio de ambiguidades e de vida curta, mas intensa”.

Relembrar a história é algo que deveríamos fazer sempre, afinal é um exercício que nos ajuda a nos preparar melhor para o futuro – Cauã Reymond, ator

O ator também conta que a mãe, Denise Marques, que faleceu em 2019, vítima de um câncer, estava bem debilitada durante as filmagens, e isso impactou em sua intensa vivência no set: “Foi um período mais sensível, e tem muito desse momento emocional ali no filme”.

Em busca da autonomia criativa

Aos 42 anos, com 20 de carreira, o ator tem investido cada vez mais em projetos próprios ou que acredite. Na versão ator, ele poderá ser visto na TV até antes do cinema, já que a partir de 25 de agosto estreia a segunda temporada do seriado ‘Ilha de Ferro’, na TV Globo. Já na versão criador, ele busca autonomia e desenvolve projetos. “Estou trabalhando em uma série de ficção para o Globoplay, chamada ‘Mata Mata‘, sobre os bastidores do futebol, e também em um programa de variedades sobre moda e comportamento, para a TV fechada”, diz Cauã, que também produziu o filme, que estreia neste início de setembro, e já emenda mais um longa: “Como criador a vontade é de construir narrativas. É um lugar para ocupar entre um personagem e outro. Além disso, também me dá a possibilidade de fazer personagens que deseje muito”.

"Como criador a vontade é de construir narrativas. É um lugar para ocupar entre um personagem e outro" (Reprodução/ Instagram)

“Como criador a vontade é de construir narrativas. É um lugar para ocupar entre um personagem e outro” (Reprodução/ Instagram)

Paternidade ativa

Pai de Sofia, 10 anos, da união anterior com Grazi Massafera, o ator diz que ter outro filho é algo muito conversado com sua mulher, a modelo e apresentadora Mariana Goldfarb: “E vai acontecer naturalmente”. Cauã também reflete sobre o tipo de transformação que a paternidade vem estabelecendo em sua vida nesta última década. “O nascimento da Sofia me mudou muito. É inexplicável. E, ao longo dos anos, estou me aprimorando, sou muito interessado, e sempre faço uma autoanálise de como posso melhorar como pai, como posso dialogar melhor com ela, como prepará-la para o mundo e, ao mesmo tempo, ser amoroso, carinhoso e colocar limites. É uma equação que está sempre mudando e vai se transformando conforme ela vai crescendo”, observa.
Cauã Reymond avalia a paternidade exercida há 10 anos com a filha Sofia (Reprodução/ Instagram)

Cauã Reymond avalia a paternidade exercida há 10 anos com a filha Sofia (Reprodução/ Instagram)

“Acho que o meu maior desafio é ser esse pai presente que eu procuro ser, mas que também precisa focar em outros setores da vida. A presença física com tempo de qualidade é um desafio grande, mas nossa convivência é muito prazerosa, então quando estou com a Sofia eu tento realmente estar presente e conectado”.

Como pai estou me aprimorando, sou muito interessado, e sempre faço uma autoanálise de como posso melhorar – Cauã Reymond, ator

O ator comenta também sobre o fato de muitos homens não exercerem a paternidade ativa em nosso país. “Viemos de uma cultura e construção familiar machistas, que protegem esse pai que não se compromete, de fato, com os filhos. Ser um pai ativo e participativo é uma desconstrução diária, então precisamos estar sempre atentos e revendo nosso comportamento. É preciso se abrir para uma conexão maior com os filhos, para construir uma relação mais próxima, de amor e de cuidado. É um processo desafiador, mas muito lindo e prazeroso”.

"Ser um pai ativo e participativo é uma desconstrução diária" (Reprodução/ Instagram)

“Ser um pai ativo e participativo é uma desconstrução diária” (Reprodução/ Instagram)

Amadurecimento

Considerado um dos melhores atores da sua geração, Cauã reconhece no presente sua melhor fase. “Com a maturidade passei a lidar melhor com as críticas e comentários a respeito do meu trabalho. Mas sou muito autocrítico, então me preparo para os meus projetos, estudo bastante, me entrego, para no final ter o saldo de que entreguei o meu melhor”, avalia.

Como criador a vontade é de construir narrativas. Além disso, é um lugar que me dá a possibilidade de fazer personagens que deseje muito – Cauã Reymond, ator

E que tipo de crítica é bem-vinda e qual é dispensável? “As críticas generosas, construtivas, que nos fazem refletir e melhorar em alguma área da vida, são sempre bem-vindas. Já as críticas sem boas intenções, além de desnecessárias, são dispensáveis”.

Cauã Reymond fala do filme em que faz Dom Pedro I e dos planos como produtor