*por Vítor Antunes
Um dos temas centrais de “Meninas Não Choram”, longa da Netflix é a leucemia. O câncer do sistema dos tecidos formadores do sangue, segundo o Radar do Câncer, aponta que há cerca de 12 mil novos casos por ano no Brasil. Talvez esta seja uma razão a ter motivado a diretora Vivianne Jundi a abordar o tema no longa que traz o câncer numa realidade particular: a de uma menina jovem, Pipa (Letícia Braga). No meio desta questão está o personagem Heitor, interpretado por Cauã Martins. Com um elenco majoritariamente jovem, o longa tem a missão de falar sobre um tema denso, e de uma doença que recorrentemente atinge os adolescentes. Cauã Martins diz que “foi atrás e entender como é para as pessoas que convivem com o câncer. O meu personagem também tem um passado com a doença, assim como eu, esse universo apareceu para mim. Quando estou num projeto, gosto de pensar a partir das pesquisas, ver relatos de familiares e de como as pessoas vivem”.
Meus avós paternos perderam a vida para a doença, de modo que esse universo nunca foi distante para mim. A própria partida deles foi para mim uma grande fonte de estudo. Conversava com meus pais para ver como eles conviveram com eles e o que sentiam. E esse é um processo que exige muito dos familiares, que também vivem grandes desafios, eles são guerreiros e isso foi fundamental para entender os personagens – Cauã Martins
Além deste projeto, ele estará em “Dragon”, primeira série que pretende mesclar e-sports, ou seja os esportes digitais, com a dramaturgia. O projeto é do Globoplay. “Dragon” é o personagem principal e a série vai ser voltada para o mundo de esporte, que tem o Dragon como nome online do personagem. “Para este semestre, teremos esse projeto, que é, também uma comédia e propõe esses atravessamentos de linguagens artísticas. “Gravamos em 2022, e a ponte entre o diretor e eu se deu através do jogo “Overwatch”. Um dos diretores também gostava disso e era a nossa conexão entre os jogos e a série, e que foi feita por pessoas que são assíduas no mundo online. Quem joga fez o universo e sabe como funciona a linguagem das pessoas que jogam, os termos que usam durante o jogo, para ficar o mais natural possível e que possa ter um meio de identificação”.
Desde muito cedo, Cauã está trabalhando no audiovisual. Ele já esteve em “Escola de Gênios“, do Gloob, série na qual permaneceu até amadurecer. A contrário de outros atores que se queixam por haverem trabalhado desde criança, Cauã não se lamenta: “Foi saudável, eu sempre quis fazer trabalhos como ator. Mas esse é um meio que muitas vezes é complicado para os atores mirins. Mas, de toda forma, acho que por conta disso me blindei desse universo, das picuinhas. O que não foi um problema, foi divertido. Eu sempre quis fazer parte dos projetos, não houve um que eu não quis fazer. Sempre que entrava num set ou pisava no palco era uma brincadeira de criança, e eu era criança. Claro que com seriedade, era uma criança sendo contratada, estava diante de prioridades que só quando você vira adulto se flagra. Eu, porém, tive uma infância muito normal. Quando saía do ambiente de trabalho, vivia como uma criança”.
SOBRE O AMOR E OUTRAS HISTÓRIAS
Ainda que um dos motes de “Meninas não choram” seja o câncer, para o ator Cauã Martins, a prerrogativa básica do longa é, o amor. “A Vivianne Jundi, diretora, virou uma chave sobre a história do filme, tido inicialmente com uma temática sobre a leucemia e que passou a ser sobre o amor. Para nós ele significa tratar sobre o amor e sobre encontrar o amor nas situações mais complicadas. Inclusive na relação com amigos e na interrelação entre eles. Isso é bonito de se ver”, salienta Cauã.
Por incrível que pareça, o ator tem um homônimo de nome e sobrenome. O TikToker Cauã Martins tem milhões de seguidores e de curtidas nas redes sociais e já gerou alguma confusão entre os xarás, o que diverte o ator. “Queria conhecer ele. Infelizmente não danço como o outro Cauã e esta é uma coincidência engraçada. Inclusive acho que eu devia apostar mais no TikTok, já que lançam edits, que permitem medir como está indo o filme, como estão gostando. É um bom termômetro”.
O fato de ter trabalhado desde muito cedo costuma ser uma questão para os atores mirins, também por conta da cobrança dos atores mais velhos, pois que as crianças, obviamente crescem. Perguntamos a Cauã se houve, de alguma forma, problemas ou questões geracionais com outros atores por conta disso. “Nunca me deparei com questões dessa natureza. Já tive projetos em que era o mais velho e outros em que eu era o caçula. É preciso conexão e, às vezes, ultrapassa conexões. Nunca senti isso e o que sempre pensei e gostei quando faço um projeto é conseguir pensar para você o que é a melhor oportunidade. Já trabalhei e gostava de ver como elas agem, como exercem a profissão, e é o que eu quero ser. Estou disposto a estudar e com os mais veteranos tive as melhores escolas”.
Cauã era um dos nomes de “Escola de Gênios“, programa do Gloob que unia educação e entretenimento.
Acho que o audiovisual é uma ferramenta poderosa e influencia. Para as crianças, aprender algo é melhor de forma lúdica. Isso é importante, daí a importância de ter um projeto educativo. Acho que cada vez mais deve haver projetos infantis. Isso, desde “Castelo Rá-Tim-Bum”, faz diferença. É um papel importante em criar uma sociedade cada vez melhor, que se aproxima da educação, o onde o saber pode ser divertido. A educação pode ser feito com filmes e novelas, educando, e temos que tomar cuidado com a mensagem que se quer passar – Cauã Martins
Estar numa profissão que lida com a exposição é algo desafiador. Qual a responsabilidade do seu ofício e ser influenciador? “Ainda estou tentando encontrar uma resposta, mas como ator, há um projeto que estou escrevendo e quero que saia do papel, que é falar sobre isso. Eu reflito sobre e acho que nossa responsabilidade é ser a vida dos projetos e a alma. O ator tem a coragem de chegar nos lugares mais difíceis para contar uma história. É uma pessoa corajosa. O ator tem que entrar em lugares que não são fáceis, mas o ator vai e participa disso. Ser influenciador vejo como algo que já estou na carreira há anos. E enquanto cidadão, o problema social que me atinge e que é mais importante é o combate à desigualdade social. Isso é a raiz dos problemas. É o papel das pessoas que estão no alto combater, e é importante fazer isso através da arte, especialmente”, finaliza.
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