* Por Carlos Lima Costa
Depois de brilhar em Malhação – Toda Forma de Amar, sua estreia na televisão, Caroline Dallarosa foi considerada um dos destaques entre os jovens artistas de Além da Ilusão. Saiu de uma temática atual e se transportou para os anos de 1940, na trama das 18h, que mostra o quanto as mulheres eram submissas e oprimidas por uma sociedade machista, com costumes e moral bem diferentes. “Algo bem pontuado na novela é que as mulheres não usavam calça, porque era considerada muito masculina. Foi uma batalha pra conseguirem usar sem serem criticadas e julgadas. Mostramos também a questão da mulher poder trabalhar somente com autorização do marido. Quando uma mulher perdia a virgindade, era obrigatório casar, uma loucura”, enfatiza a intérprete da Arminda. Aos 24 anos, Caroline assegura: “Eu ia tocar o dane-se para todo mundo e ia fazer o que eu bem entendesse. Mas, infelizmente, ainda hoje a mulher precisa lutar. Quando eu era modelo, Uma vez me falaram: ‘Achei que você fosse só bonita mesmo’. Quer dizer, eu não podia ter conteúdo?”.
Mesmo assim, a personagem tinha o velho sonho com o príncipe. “A Arminda veio de uma criação onde ela vivia um conto de fadas. Imagina crescer sendo filha única, criada a pão de ló, e que podia fazer o que bem entendesse. Não tinha preocupação além de encontrar um bom marido. Era assim e foi abordado na novela. Após Dorinha (Larissa Manoela) perder a virgindade, falaram para ela: ‘Para conseguir limpar a sua reputação, você precisa encontrar um marido’. Então, Arminda cresceu com isso na cabeça. Mas ao longo da trama, se mostrou muito pra frente. Virou dona de uma rádio, apresentou um programa. Então, ela mostrou bem esse lado de avanço e evolução”, aponta.
Uma vez me falaram: ‘Achei que você fosse só bonita mesmo’. Quer dizer, por ser bonita, eu não podia ter conteúdo? – Caroline Dallarosa, atriz
“Fui modelo por muito tempo e muitos achavam que não tem que ser inteligente, não pode se manter sozinha, então, vivemos em um mundo machista. Até mesmo nós mulheres, às vezes, somos preconceituosas umas com as outras. A mulher julga, compete com a outra, sendo que não há uma competição. Cada uma é cada uma, mas é um reflexo de toda uma história lá atrás. É legal ver que cada vez mais as pessoas estão vindo com outras ideias. Até pouco tempo diziam que rosa é pra mulher e azul era para homem. Na minha infância era assim, todos os meus aniversários eram rosa e do meu irmão, azul, tanto que o chá revelação é azul ou rosa. Isso vem lá de trás”, observa.
Caroline mesma já se viu tendo atitude preconceituosa: “Claro, é muito comum a mulher ficar com ciúme de outra e querer julgar a outra, mas isso foi algo que eu trabalhei em mim. E me orgulho de ter mudado. Antigamente eu falava ‘tenho isso mais bonito’. Como assim mais bonito? O que é mais bonito? Hoje em dia, vejo beleza em tudo. Quando penso em fazer algo, eu paro, e penso. E estou muito feliz, porque foi uma evolução mesma”, afirma.
Até mesmo nós mulheres, às vezes, somos preconceituosas umas com as outras no quesito de julgar. A mulher julga muito a outra – Caroline Dallarosa
Nas redes sociais, as mulheres postam fotos lindas, produzidas, mostrando vida feliz, que muitas vezes é irreal. “Eu sempre posto foto de biquíni. Não tenho bunda, não tenho peito e é isso, eu mostro. Gosto de ser assim. Sou muito sem peito e sou feliz. Cansada de comentarem embaixo: ‘Acha bonito exibir uma vareta?’ Umas coisas assim. Se eu sou feliz é muito legal, porque tem um monte de menina que me manda mensagem e me agradece: ‘Ah, eu também não tenho peito’, ‘eu malho, como bastante, mas não consigo ganhar massa’. Eu acho corpo mais cheinho lindo, o mais magrinho lindo. Cada um tem um biotipo e tem que respeitar. Adoro ver corpo, forma, curva, tudo diferente”, diz ela, que começou a trabalhar como modelo fotográfica com quase nove anos de idade. “Nunca fiz passarela, nunca tive altura, tenho 1,68m, mas sempre desejei e ficava babando”, recorda.
MADRASTA DE QUATRO ENTEADOS
E revela o ponto de identificação entre ela e sua personagem, em Além da Ilusão. “Nesse negócio do príncipe encantado. Quando somos meninas, sempre idealizamos uma pessoa, vai ser assim, assado. Eu, por exemplo, jurava que meu futuro marido ia ser a cara do Zac Efron. E, na vida real, estou namorando um cara mais velho, que veio de dois ex-casamentos com quatro filhos. A Arminda também não escolheria o Inácio, mas ela se apaixonou e teve que lidar com esse conflito na trama, como eu me apaixonei na minha vida”, explica Carol, cujos enteados, filhos de Solano Rodrigo, de 39 anos, tem 18, 15, 11 e 7 anos.
“Eles passaram 30 dias de férias da escola com a gente. É legal, porque você vai pegando uma experiência, vendo que ser mãe dá muito trabalho, é responsabilidade fora da curva. Eu Carol, atualmente, não teria condição de ter um filho. Tenho muito para viver ainda. Antes, eu ficava ‘ah, quero filho’. Agora, estou convicta de que devo esperar muito tempo ainda antes disso acontecer”, reflete.
Mas acrescenta que é boadrasta sempre. “A função da madrasta é ser a tia legal. O que o pai e a mãe não deixam fazer, a madrasta faz o papel, é chocolate antes do almoço, é milk-shake meia-noite, é uma loucura. Acho que a gente pega a parte de aproveitar, curtir as crianças. Criança? Tem uma quase da minha idade e eu falando criança”, diverte-se. Natural de Campo Largo, no Paraná, Caroline morava em Curitiba, quando fez testes para Malhação e somente ao ser aprovada se mudou para o Rio de Janeiro. Solano, que vivia em São Paulo, foi ajudá-la na mudança. “Quando eu vi tinha uma mala, no outro dia tinha outra, depois mais uma e quando vi já estava todo mundo morando junto. Tem quase quatro anos. Todo mundo considera casamento. Eu falo: ‘Não Solano, não estou casada. Você vai me pedir bonitinho’”, frisa.
Os cabelos ruivos da personagem já estão no passado. Com a novela concluída, Caroline os escureceu. “Na rua, uma mulher me olhou e falou: ‘Nossa, você é igual aquela menina que faz a Arminda, só que ela é ruiva. Aí dei risada e perguntei, se ela era mais bonita ou menos e respondeu: ‘A ruiva é linda’”, conta ela, cujo tom natural dos cabelos é loiro escuro.
Ela lembra como foi se transportar para o universo dos anos de 1940 na trama das 18 horas, que chega ao fim no próximo dia 19. “Foi uma experiência muito diferente, porque comecei em Malhação, que foi minha escola. Pra Anjinha, tive que transformar o meu sotaque no mais carioca possível, colocar um monte de gíria. Vir para a Arminda foi uma loucura. Tive que aprender, por exemplo, que não podia usar o ‘tá’ na novela, era sempre o ‘está’. Então, tinha medo de parecer muito mecânica, mas deu tudo certo. Era outra época, com costumes diferentes, forma de sentar, comer, mão na mesa de maneira nenhuma. Detalhes muito pontuais, que, às vezes, o público não repara tanto, mas que nós aprendemos justamente para a novela”, conta ela, que também falava palavras e expressões comuns da época como ‘fiau’, ‘papagaios’, ‘macacos me mordam’ e ‘leguelhé’. “Errei várias vezes as cenas por causa do leguelhé, que é tipo um perrapado. No final da novela já estava craque”, conta ela, que recentemente ganhou um elogio no site Heloisa Tolipan.
HONRA CONTRACENAR COM ARLETE SALLES
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Arlete Salles, que interpreta a avó da personagem de Caroline, enalteceu a jovem atriz, apontando um belo futuro profissional. “Primeiro, é uma honra. A primeira vez que gravei com a Arlete, eu estava tentando fazer naturalidade, mas estava me tremendo. Eu havia ensaiado aquele texto uma semana, falava comigo que não podia errar, tinha que fazer bonito. Depois que pegamos uma intimidade, eu contei para ela. Temos três gerações. A Arlete, a Alexandra (Richter), que interpreta a minha mãe, também é a melhor pessoa e uma excelente atriz. Querendo ou não, nós três temos uma veia mais cômica. Eu aprendi muito, sou outra pessoa. O Paulo (Betti) também. Contracenar com eles foi uma honra e uma responsabilidade, pensava se ia dar conta, se ia fazer feio. Mas agora que as gravações terminaram, a sensação é de missão cumprida”, comenta.
E no decorrer da trama, ainda ganhou uma nova grande amiga, Larissa Manoela. “Eu brinco que a gente já se conhecia de outra vida, porque viramos muito amigas, irmãs mesmo. A gente consegue conversar só pelo olhar. É muito lindo o que construímos juntos, uma apoia e ajuda a outra. Sempre fomos muito sinceras, acho que isso nos tornou tão próximas”, conta.
A primeira vez que gravei com a Arlete Salles, eu estava tentando fazer naturalidade, mas estava me tremendo – Caroline Dallarosa
Ao final das gravações, o elenco pôde se abraçar e se despedir, ao contrário do trabalho que marcou sua estreia na TV. “Estávamos gravando quando surgiu a pandemia da Covid. Aí chamaram todos os atores e falaram que tínhamos uma semana para adiantar e gravar tudo, sendo que ainda faltavam 2, 3 meses para terminar as gravações. Depois, ligaram avisando que ninguém mais ia gravar, porque os números de infectados tinha se agravado e que o final ia ser só narrado. Foi uma dor, porque não estávamos prontos, não conseguimos nos despedir, como aconteceu agora com Além da Ilusão. Malhação merecia ter tido um final, mas foi o que deu”, lembra.
Assim, foi para Curitiba, ficar confinada com a família na quarentena. “Solano foi comigo. Foi uma loucura. Todos os filhos dele, Solano, minha mãe, minha avó, todo mundo junto em uma casa só. Então, aprendi a cozinhar na pandemia. Adorei. Estou craque. É o que tinha pra distrair. Também tomei muito vinho. Antes eu não gostava, mas agora tudo é ‘vamos abrir um vinho’. Estávamos com muito medo, todo mundo, de perder um ao outro”, relembra.
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