*por Luísa Giraldo
Carol Roberto assume o desafiador papel de Milena no novo live action dos amados personagens de Maurício de Sousa: “Turma da Mônica: Reflexos do Medo“. Ao lado de Sophia Valverde, Bianca Paiva, Xande Valois e Théo Salomão, a atriz dá vida à única personagem preta no elenco principal do filme. Determinada a se firmar como um símbolo de resistência ao racismo estrutural, a multiartista se coloca à favor do movimento de valorização às vidas negras a partir da atuação e das composições. Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Carol abre o coração sobre a importância do protagonismo negro em produtos audiovisuais e a necessidade de representatividade para a criação de um sentimento de pertencimento social da população de pessoas afro-descendentes no Brasil.
Ao listar algumas características da jovem Milena, a artista ressalta a presença da personagem nas histórias em quadrinho (HQs) da Turma da Mônica. Apesar de reconhecer a potência da presença dela como protagonista, Carol alerta para personagens principais pretos como figuras de poder, liderança e símbolos intelectuais.
“A presença da Milena como protagonista é muito importante não apenas para mim, mas para todas as meninas negras. Ela era uma personagem que já existia na turma clássica, porém não fazia parte do núcleo principal. A Milena é a primeira menina negra do universo da Turma da Mônica e, agora, entra como a quinta protagonista do filme. Isso é uma referência e um grito de resistência e uma oportunidade para que as meninas negras possam se enxergar como merecedoras do protagonismo”, atesta.
O desconhecimento da história da Milena me motiva na função de fazer com que as pessoas conheçam a Milena por inteiro, assim como conhecem a Mônica, a Magali, o Cebolinha e o Cascão. A minha personagem tem muitos medos, defeitos e questões consigo própria, então ela é bem mais complexa do que o público imagina — Carol Roberto
Para dar conta do papel, Carol afirma ter mergulhado a fundo na narrativa da personagem. Apesar de ter assumido o posto como personagem de segundo plano durante anos, muitos fãs disseram desconhecer a trajetória e a presença de Milena nos gibis. A atriz descreve, até mesmo, que parte do público não a aceita por não conhecê-la suficientemente bem como os outros personagens.
A atriz aproveita, por outro lado, a oportunidade da discussão para ressaltar a importância da representatividade em uma obra brasileira. Ela acredita que o papel vai permitir com que inúmeras meninas negras como ela possam se enxergar sem um olhar depreciativo.
“Acredito que essa resistência esteja vinculada ao apego muito forte ao elenco de ‘Turma da Mônica: Lições’ e ‘Turma da Mônica: Laços‘, que são uns queridos. O projeto é lindo. Para nos prepararmos para o filme, o elenco assistiu aos filmes e à série. Nós somos amigos e conversamos. A galera não consegue entender, às vezes, que são projetos diferentes e que a gente não está aqui para tomar o espaço de ninguém. Eles são a Turma da Mônica clássica e, nós, a Turma da Mônica Jovem. O universo é gigante, com a Turma do Penadinho, a Turma do Chico Bento e muitos outros personagens. Nesse universo, existem quatro Milenas, três Mônicas e três Cebolinhas. Tem espaço para todo mundo”, afirma a atriz de 18 anos.
Carol ressalta ainda que a história está acrescida de um importante elemento: as mudanças da adolescência. A partir dos diferentes sentimentos e comportamentos são abordados novos conflitos, questões e paixões.
A intérprete faz um paralelo entre a própria personalidade e a da personagem. “A Milena é inteligente demais e nunca acha que as coisas vão para um lado fantasioso. Um dos defeitos dela é achar que ela está sempre certa, já que sempre trabalha com fatos. Às vezes, quando as coisas saem do controle dela, as fraquezas são reveladas. Comparando com a Carol do início da adolescência, consigo ver a semelhança de achar que a gente está sempre certo e que o mundo gira ao nosso redor”, pontua.
Segundo a atriz, o filme propõe uma grande identificação com os adolescentes da Geração Z, sobretudo em questões emocionais e amorosas do primeiro amor. Os cinco protagonistas têm problemas com versões deles do passado, assim como grande parte dos jovens de hoje, diz ela. Carol enxerga a obra de Maurício de Sousa como complexa e completa para a juventude.
Carreira como cantora
Carol Roberto entende que a arte, antes de qualquer coisa, é capaz de mudar vidas. É a partir desta ótica que ela estabelece a relação com a música. Ela é também cantora e acredita que cada uma de suas composições se conectam com as mensagens que deseja passar para o mundo e, principalmente, para garotas pretas da mesma idade que ela.
O objetivo da minha música e a minha missão ao fazê-la é o empoderamento das pessoas. Procuro falar que, sim, elas podem conseguem ter uma mensagem de carinho, de amor e de alegria nesse mundo que está um caos. A minha música é uma forma de respiro e de esperança. As minhas músicas precisam ajudar as pessoas a ficarem felizes – Carol Roberto
Embora tenha mostrado empolgação com os trabalhos no campo musical, Carol revelou as dificuldades que enfrenta como artista independente. “Às vezes, dá um desânimo e tenho a vontade de desistir porque é muito difícil. Como cantora independente, não tenho gravadora e já recebi propostas que querem mudar o meu tipo de trabalho. Para manter o meu trabalho em alta, preciso postar covers e conteúdos constantemente. É inevitável pensar se estou indo pelo caminho certo”, desabafa.
Os feedbacks positivos dos fãs sobre a importância de Carol e das músicas dela nos processos de auto aceitação do corpo, dos cabelos e da etnia emocionam e motivam a cantora a persistir na trajetória. Como algo que se retroalimenta, a artista compreende que é um sinal para continuar compondo e cantando sobre temáticas que julga importantes socialmente.
“Eu Sou Mais Eu”
Em maio do ano passado, Carol deu o start à carreira como música. Uma das principais canções dela é “Eu Sou Mais Eu“, um hino sobre a auto aceitação e a potência do auto amor feminino.
“Essa música nasce em um contexto em que todo mundo é padronizado e igual. No clipe, a Carol entra totalmente desconstruída em um lugar tosa e todo mundo também se desconstrói. Acredito que a sociedade tenta nos colocar em padrões de beleza, de música e de tudo. Sempre querem nos rotular de alguma forma. ‘Eu Sou Mais Eu’ é um grito de resistência à sociedade. É sobre a originalidade e ser bem mais do que uma cópia”, avalia.
De acordo com a artista, o processo musical está intimamente ligado ao trabalho como atriz, já que “é um grande ciclo sem fim”. Carol entende que a personagem Milena se reflete na Carol tanto como as músicas que compõe.
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