*Por Brunna Condini
Para Carol Castro não tem tempo ruim. Ela não se reconhece exatamente como uma workaholic, mas frisa que o trabalho é mola propulsora em sua vida. Após 12 horas no set de ‘Stand-up – O Filme‘, de Miguel Rodrigues, a atriz deu essa entrevista do quarto do hotel em que estava hospedada, em São Paulo, falando da carreira prestes a completar 30 anos, de autoconhecimento e amadurecendo, e também do evidente destaque no cinema nacional nos últimos anos. “Desta vez tenho quatro dias entre um projeto e outro (risos). E são personagens muito diferentes. O filme que acabei de rodar é uma comédia, e, agora, vou para Porto Alegre filmar ‘Sob o Signo do Medo’, do Paulo Nascimento. Uma história densa, real, que se passa em 1973, época de ditadura, em uma embaixada no Chile, onde brasileiros ficaram exilados, em uma situação desumana”, conta. “É preciso virar a chave rápido entre um trabalho e outro, mas gosto desse exercício, desafio”. E tem feito mesmo. Só nos últimos dois anos emendou quatro filmes. E, em breve, uma de suas performances poderá ser conferida em sua participação como Luma de Oliveira no longa que acompanha a ascensão e queda do ex-bilionário Eike Batista, ‘Eike – Tudo ou nada‘, que estreia dia 22 de setembro.
Cria do teatro, mas conhecida do grande público pelas novelas, Carol não tem previsão de voltar à telinha ainda. “Tem acontecido alguns ‘quase’ com as novelas, mas não rolou principalmente por agenda. Morro de saudade de fazer. Após esse filme do Sul, vou gravar uma série que o José Alvarenga vai dirigir para Star Plus. De resto, tudo ainda está em suspenso, o mercado está instável com as as eleições por acontecer, todo mundo quer saber como vai ficar a área daqui para frente”.
Ela faz cinema
Com 19 filmes no currículo, e as séries ‘Maldivas‘, na Netflix, e ‘Insânia‘, na Star Plus, com boa audiência aqui e no mundo, Carol vem sentindo o gosto de ser uma atriz de cinema. “Apesar de ser um momento estranho para o mundo, para a arte e a cultura, me sinto privilegiada por não parar de trabalhar. Sinto que a minha colheita profissional está acontecendo neste momento conturbado. Assim como o meu amadurecimento pessoal e profissional. Estou vivendo transformações significativas, que fazem tudo valer a pena, avalia Carol, que tem três lançamentos cinematográficos ainda este ano: ‘Eike – Tudo ou nada’ ; ‘Férias Trocadas’; e ‘Ninguém é de Ninguém’.
“São 29 anos de carreira. Fiz muito cinema no início, depois fiquei fazendo TV direto, o que não reclamo, é ótimo e não é fácil. Tem um ritmo de indústria que te prepara para tudo. E te projeta, aprendi muito na TV. Mas sempre tive o desejo de fazer mais cinema”.
Me sinto privilegiada por não parar de trabalhar , mesmo que essa colheita profissional venha num momento conturbado para a cultura – Carol Castro, atriz
E acha graça de uma fala recente sua sobre viver Luma nas telonas. Na ocasião, Carol declarou que não teria metade da autoestima da musa do Carnaval nos anos 80 e 90. “O jornalista me disse: “A Luma é esplendorosa, o símbolo da autoestima, da exuberância”. Ela é empoderada. Perto dela me sinto franzina, acho mesmo que não tenho metade da autoestima dela. Pode até ser que eu a tenha um pouco em baixa, trabalho em terapia (risos). Mas quando falei isso, o que quis dizer, é que precisei me ‘vestir’ de Luma para fazê-la. E nisso a caracterização me ajudou muito”.
“Faço uma sequência bem simbólica. Abordaram a Luma na vida do Eike de uma maneira lúdica e teatral, literalmente. Tanto que se passa em um palco. Parece que o Eike se interessava por todos os tipos de terapias, e, em uma destas sessões, ele conta, revisita, sua história com a Luma. Ficou muito interessante a maneira que a direção abordou, ficou até felliniano. Senti tudo respeitoso e poético. Não me sinto Luma, mas tentei ser a melhor Luma possível (risos). Ela é um Sol, uma luz ambulante”.
Tudo ou Nada
Emprestando às personagens sua observação atenta do mundo e sensibilidade à flor da pele – “Muitas vezes me sinto com uma sensibilidade mais exposta, uma pele mais aberta mesmo” – Carol conta que faz questão de apreender tudo que pode dos trabalhos. E, em alguns casos, ganha bem a experiência do próprio ofício. Como no filme ‘Ninguém é de Ninguém‘, baseado no livro homônimo de Zíbia Gasparetto, dirigido por Wagner de Assis, que fala de dois casais, que vivem vidas estáveis até o momento em que seus destinos se entrelaçam. “Na época do convite para esse filme estava passando por um ano difícil, tinha terminado uma relação, perdido minha tia, e fazendo uma obra interminável, um período bem desgastante”, recorda.
“O filme fala sobre relacionamentos tóxicos, abusivos. Quando li o roteiro tive até alguns gatilhos de relações bem antigas. Me questionei se eu daria conta de fazer o papel, até porque estava emendando uma coisa na outra. Mas senti que tinha que fazer, e ainda bem que fiz. Foi um divisor de águas para mim. Costumo até brincar com o Wagner, que virou um amigo pessoal, que existe uma Carol antes e depois desse longa. Participar desse trabalho me fez buscar caminhos para a minha vida, comecei a me cuidar melhor, me fez muito bem”.
Essência preservada
A atriz comenta também sobre a fama, exigência de seguidores para alguns atores e tendências afins dos tempos. “É um movimento, não adianta remar contra a maré. Mas o ofício do ator é uma coisa, você ser famoso, ser um influencer, é outra. Sinto que têm se misturado um pouco. E quem sou eu para me incomodar com o que acontece naturalmente no mundo. Só conservo muito a minha essência, meu amor, minha raiz de ser uma atriz, antes de ser famosa. Talvez eu só lide de forma diferente com tudo isso. E sim, às vezes acho um pouco injusto bons atores não estarem trabalhando como gostariam por conta de número de seguidores. O que deveria estar sendo visto é o talento, a capacidade de cada um”, opina.
A arte cura e salva mesmo. O ofício do ator é sagrado – Carol Castro, atriz
A curiosidade sobre a vida privada do artista é algo natural para a atriz, entretanto, ela observa: “As pessoas dizem muito que a vida não é o que se passa nas redes sociais, e não é mesmo. Um artista é uma pessoa como outra, fica mal, passa por dificuldades. Recentemente me questionaram sobre ter emagrecido e fui sincera. Tinha passado pela morte da minha tia, o acidente do meu pai, tive uma anemia, estava preocupada, sobrecarregada. Coisas que acontecem na vida, mas somos o nosso próprio instrumento de trabalho. Penso que a arte cura e salva mesmo, por isso acho o ofício do ator sagrado. E tenho gostado de investir cada vez mais em autoconhecimento. Faço terapia desde o puerpério da Nina (sua filha de 5 anos). Trabalho o saber pedir ajuda, dividir, me posicionar. Tenho gostado de me cuidar”.
Artigos relacionados