Camilla Camargo estreia em série, revela que, no passado, sofreu assédio e comenta exposição em uma família famosa


Depois do sucesso de “Carinha de Anjo”, novela do SBT exibida com sucesso entre 2016 e 2018 e reprisada entre 2021 e 2022 e sempre constando entre os 10 produtos mais vistos da Netflix, Camilla Camargo está em um novo projeto: A série “Tudo Igual… SQN”, do Disney+ no qual vive uma artista plástica. Filha de Zezé de Camargo e Zilú, Camilla nega que tenham diminuído seu talento por ser de uma família famosa e encara a exposição midiática que a envolve de maneira muito natural. A atriz afirma ser importante o debate na sociedade atual de assuntos como o assédio às mulheres e o racismo e acredita que seu núcleo familiar, etnicamente plural é espaço de aprendizado e tolerância e de diálogos antirracistas

*por Vítor Antunes

Quando Zezé e Luciano lançaram “É o Amor”, sucesso de 1990, Camilla Camargo presenciou a explosão de seu pai e seu tio, transformados em ícones nacionais. Muitos outros sucessos vieram, muitas outras histórias atravessaram a família e tanto os netos como os filhos de Francisco (1937-2020) escreveram a própria história. Em um seio doméstico de cantores, Camilla destacou-se por optar pelo mesmo caminho, igualmente vitorioso, trilhado por sua tia, Luciele: o da dramaturgia. Com 17 anos de carreira e muitos sucessos na bagagem, a atriz prepara-se para seu mais novo projeto: a série “Tudo Igual… SQN”, exibida na Disney Plus. Com a temática adolescente e com uma primeira temporada bem sucedida, Camilla estará na season 2 do player da Disney. E mais: a artista integra o elenco de “Travessia”, filme hospedado no Prime Video, no qual interpreta Marina, uma jovem rica que se envolve com o mundo das drogas.

Para além das questões artísticas, a atriz posiciona-se enquanto cidadã. Por ter uma família etnicamente plural, reitera a importância de se debater a questão antirracista, bem como trazer à tona o quão necessário é dar voz ativa às mulheres, em especial no que concerne à questão do assédio. “Já vivi situações constrangedoras, situações que hoje eu enxergo claramente que foram abusos ou assédios, mas em outra época não se falava, não se colocava isso na mesa. Era como se tivéssemos que tolerar ou aceitar por sermos mulheres. Graças a Deus há um movimento, que é muito importante, onde podemos falar sobre e expor esse tema”.

Camilla Camargo: os desafios se ser mãe e uma mulher plural numa sociedade dinâmica (Foto: Pupin + Deleu)

IGUAL, SÓ QUE DIFERENTE

Camilla Camargo está no elenco da segunda temporada da série “Tudo Igual… SQN”, da Disney+. No projeto audiovisual da gigante norte-americana, ela interpreta uma artista plástica. “Foi muito legal fazer essa participação na série, que está repercutindo muito bem a primeira temporada”, diz. A história da série é baseada no romance infanto-juvenil “Na porta ao lado”, da escritora brasileira Luly Trigo. A primeira temporada estreou em maio deste ano. A dramaturgia tem o Rio de Janeiro como cenário e mostra uma trama divertida sobre família, amores e amizades numa ambiência típica de uma trama adolescente. “Tudo Igual… SQN” é a primeira série brasileira a contar com o selo Disney+ Original Productions e é protagonizada por Gabriella Saraivah, que viveu Tati no remake de “Chiquititas”, no SBT.

Não apenas Saraivah teve papel de destaque nas tramas infanto-juvenis do SBT. A própria Camilla interpretou Diana em “Carinha de Anjo”, novela que obteve bons índices em sua faixa de horário, tanto em sua exibição original, entre 2016 e 2018, como na reprise que foi ao ar entre 2021 e 2022. Segundo a intérprete da novela escrita por Leonor Corrêa, “Carinha de Anjo foi um presente. É impressionante o carinho e a resposta que ela tem das crianças e do público, e a reprise que terminou este ano foi muito gostosa, porque me reaproximou do telespectador”. Para a atriz, a novela ainda tem um sabor especial. Quando a trama foi exibida ela ainda não era mãe, ao passo que no presente momento tem um casal de filhos. “A maternidade ocupa um lugar diferente na minha vida. Ao verem o folhetim, meus filhos ficam tentando entender a diferença entre mim e a Diana”.

Camilla Camargo foi Diana em “Carinha de Anjo” (Foto: Lourival Ribeiro/SBT)

Ainda hoje, mesmo decorrido alguns anos da primeira transmissão e com uma reprise recente, a novela infanto-juvenil ainda é sucesso no Netflix. Dos 10 programas mais assistidos da plataforma, três são do SBT, e “Carinha de Anjo” ocupa a sétima posição. É algo que Camargo comemora, além de comentar a particularidade da abordagem junto aos pequenos. “A novela é um sucesso no streaming. Recebo muito carinho vindo das redes sociais. É muito gostoso ver como as pessoas pedem para que a novela tenha uma continuação. Foi um trabalho feito com muito carinho e por uma equipe muito dedicada”. Segundo a atriz, ela e o elenco criaram um vínculo forte de amizade. Tanto que se encontram com frequência.

Quando o trabalho tem uma coxia de muito amor, respeito e união, as pessoas sentem isso, que transparece para fora das telas. Eu acho que é o caso de “Carinha de anjo” – Camilla Camargo

Camilla Camargo ainda é reconhecida por novela infantojuvenil do SBT (Foto: Pupin + Deleu)

FAMÍLIA E FAMA

Camilla Camargo é filha do cantor Zezé Di Camargo com a empresária Zilu Godoi. Casados entre 1982 e 2014, a separação de ambos foi tão ruidosa quanto o recente divórcio da sua irmã, Wanessa. Ainda que opte por um posicionamento mais discreto quanto à sua intimidade, Camilla diz que “o fato de ter nascido numa família de artistas famosos e ter tido que lidar com a exposição desde muito cedo, acabou permitindo a mim trabalhar isso de forma muito natural. Entendo a curiosidade das pessoas por quererem saber um pouco mais sobre as nossas vidas, e essa exposição toda. Ainda que eu seja um pouco mais reservada e por mais que coloque coisas da minha família no Instagram, acho que é importante a gente podar e ter os nossos momentos de viver fora desse mundo virtual e saber o que é e até onde a gente pode ir, porque também somos seres humanos”.

Eu acho que o mais importante pra mim é a minha família. Eu conheço cada um deles. Sei do coração, do caráter de cada um. O que me importa é que estejam felizes. Por mais que a curiosidade das pessoas exista. Acho que o mais importante é que a família esteja sempre unida e conectada, se amando e se cuidando – Camilla Camargo

Em 2018, Camilla casou-se com o produtor, esmpresário e sócio da protor audiovisual Leonardo Lessa, com quem tem dois filhos, Joaquim (2019) e Julia (2021). O fato de ser mulher e ter uma filha traz a necessidade do entendimento do lugar que a mulher ocupa e onde pode chegar. No atual momento, algumas pautas, como a feminista, têm sido trazidas à baila, bem como falas sobre assédio. Segundo Camargo é “muito importante a gente falar, termos voz, sermos ouvidas, respeitadas e levadas a sério. É urgente que hoje em dia a gente tenha muito clara essa situação, como a do abuso e do assédio, coisa que antigamente não era. A gente vivia certas coisas que eram tidas como normais quando nunca foram. (…) Temos de estar atentas e dar suporte para outras mulheres, para que chegue um dia em que não passemos mais por situações de assédio, de constrangimento, de abuso, seja no trabalho, seja dentro de casa, seja passeando pela rua, enfim, em qualquer situação”

Outro assunto necessário e urgente é o da luta antirracista. A família de Camilla, como dissemos, é etnicamente plural – inclusive, o marido da sua tia, Luciele, é o ex-jogador de futebol e atual comentarista do Grupo Bandeirantes, Denílson que é negro. Sob o olhar de nossa entrevistada, sua “família é realmente muito plural, não apenas por conta de Denílson, mas em razão de eu ter primas negras, bem como familiares louros de olhos claros. Obviamente, não basta que sejamos apenas não racistas, mas antirracistas. Trata-se de algo que é intolerável, mas, graças às redes sociais, ao acesso à comunicação há um poder maior de frear o que é necessário. Estamos todos unidos em prol de conseguir vencer de uma vez por todas essa idiotice que é achar-se diferente ou superior por conta do tom de pele, de cabelo, seja o que for. Trata-se de algo que não dá para ser levado adiante”.

Nos seus 17 anos de carreira e mais de 21 espetáculos teatrais em seu currículo – entre os quais “Caros Ouvintes” e “Zorro, O Musical” – perguntamos à atriz se em algum momento sentiu-se diminuída em sua força criadora ou tentada a provar seu trabalho em razão de ter familiares famosos. Ela diz que “sempre tem alguém, mas hoje em dia eu já não vejo tantas pessoas a questionar isso. Talvez no início de carreira até visse mais. Porém, tenho muitos anos de carreira profissional como atriz, já que comecei a fazer teatro muito novinha. O meio teatral já me conhece, sabe do meu trabalho, da minha luta, das rotinas de testes, de cursos… Então esses questionamentos serviram para me estimular a crescer mais, a me aprimorar, a buscar embasamento”.

Tenho uma família da qual me muito orgulho e que é extremamente talentosa. Sei que a gente nunca vai agradar todo mundo e está tudo bem. O importante é que eu saiba da minha história, do quanto tenho batalhado, conquistado e da minha felicidade em estar em cada projeto que eu conquisto, com cada trabalho que eu consigo, e a cada passo que dou pra frente – Camilla Camargo

Ainda sobre o star system costuma ser atribuído aos artistas a necessidade de estar sempre “na pose”, bonito, de salto, maquiado e instagramável nas redes sociais. Há uma glamourização excessiva? “Acho que sim. Inclusive, quem me segue nas minhas redes sociais vê que eu estou na maior parte do tempo sem maquiagem. Muitas das vezes descabelada, afinal tenho crianças pequenas, e com roupas confortáveis. É assim que eu estou no meu dia a dia. Não me sinto na obrigação de estar sempre arrumada, porque eu acho que não é isso. Creio que as pessoas devem se identificar com o fato de que somos humanos, falhos, que estamos aí na luta, tentando acertar, crescer, e que o glam é algo pontual. Eu tento mostrar sempre isso para as pessoas, o meu lado mais real, verdadeiro, e a forma que sou da maneira mais natural e transparente possível”.

Camilla, o pai Zezé di Camargo, e os filhos (Foto: Divulgação/Prime Foto Cinema)

DENTRO DO TOM

Além dos musicais e das novelas, um produto que contou com Camilla no elenco foi o seriado “#partiushopping” do Multishow. Neste, a atriz teve o privilégio de contracenar com um dos grandes nomes do humor nacional, que é o Tom Cavalcante. Relata-nos ela que “Contracenar com Tom foi um dos grandes presentes da minha carreira. Ele é um artista extremamente extraordinário, além de ser muito generoso. O elenco também era muito especial e com eles aprendi muito”.

Fazer humor é difícil, já que a piada exige um ritmo e um tempo exatos. Ainda que não se considere uma pessoa engraçada, a atriz aponta que consideram-na assim, com “um tom para o humor. Foi uma grande surpresa haver sido aprovada para este trabalho e haver estado aberta para esse gênero”, pondera.

Num ano de eleições associadas ao radicalismo ou de um debate pouco ortodoxo, especialmente nas redes sociais, muito se questionou se era importante o posicionamento dos artistas neste campo. Tocar nesse assunto ou não, segundo Camilla, perpassa pela liberdade de escolha da pessoa e, também, pelo respeito à cidadania e às diretrizes democráticas. “Eu acho que num país com tamanha polarização, cada vez fica mais evidente o quanto que precisamos praticar a tolerância e a resiliência. E isso significa entender que algumas pessoas vão se posicionar, diferentemente de outras, e que elas vão concordar ou não. Por sermos artistas nossa voz tem um alcance maior e isso me faz entender que em alguns momentos eu senti a necessidade de me posicionar em assuntos urgentes e necessários, mas isso não me dá o direito de achar que por havê-lo feito outra pessoa também o deva fazer. É assim que vejo”, finaliza.

Camilla Camargo (Foto: Pupin+Deleu)