Caio Vegatti, de “Família é Tudo”, aborda relacionamentos tóxicos através do personagem como alerta para jovens


Caio Vegatti faz parte do núcleo da trama das 19h que traz em seu bojo os relacionamentos tóxicos entre jovens. O artista revisita sua carreira na casa como quando viveu um jovem também preconceituoso na série “Sob Pressão”, onde se debatia o preconceito a um relacionamento pansexual. “Max de Família é Tudo’ não tem como não dizer que ele não é um cara abusivo. Vejo o Max como uma pessoa abusiva, controladora, mandona, mas que lança mão disso para ofuscar o quanto é um cara inseguro que quer se afirmar o tempo inteiro. Sinto que há nele algo que falta e ele externaliza isso sendo mais radical, mais intransigente e afastando mais do que agregando, mas é importante dar essa referência para um público mais jovem poder se autoanalisar, perceber quando não está agindo bem”

*por Vítor Antunes

A novela “Família é Tudo” trouxe junto a ela a sensação de just-for-fun, tal como as outras de Daniel Ortiz. A “farofinha” do horário das sete, como o pessoal do X/Twitter costuma dizer. O que pode ser um contraponto a essa leveza é o personagem de Caio Vegatti, o Max. “Não tem como não dizer que ele não é um cara abusivo. Vejo o Max como uma pessoa abusiva, controladora, mandona, mas que lança mão disso para ofuscar o quanto é um cara inseguro que quer se afirmar o tempo inteiro. Sinto que há nele algo que falta e ele externaliza isso sendo mais radical, mais intransigente e afastando mais do que agregando. Toda ação tem uma origem. E com isso não estou justificando as ações dele senão tudo teria que ser perdoado, mas é importante dar essa referência para um público mais jovem poder se autoanalisar, perceber quando não está agindo bem”.

Ainda conforme o ator, a importância de se debater o tema em uma novela das sete, na Globo, é fundamental. “Por conta do horário e da proposta da novela, a abordagem não chega a ser algo agressivo. A gente está pontuando, pincelando, certos modos e atitudes para que as pessoas possam se reconhecer. Porém, tudo passa por uma questão de referências, sobre como fomos criados. A base [familiar] nos possibilita ser pessoas melhores”.

Um estudo publicado  na revista Pediatrics Adolescents, relata que “jovens envolvidos em relacionamentos tóxicos e controladores enfrentam o risco de sofrer uma série de problemas na idade adulta, incluindo uso de drogas e até desordens relacionadas a saúde mental”. Segundo um relatório americano do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, publicado em 2021, quase 20% das adolescentes entrevistadas alegaram haver sofrido violências, inclusive sexuais, de seu parceiros.

Ainda que esta seja a sua primeira novela na Globo, não é o seu primeiro trabalho na casa. Caio esteve em 2021 num episódio da premiada série “Sob Pressão“. Nesta, ele vivia um rapaz que não aceitava que seu pai se relacionasse com uma mulher trans. “Ainda que este seja um tema tabu, o papel do artista é esse.  Fiz neste trabalho uma das cenas que mais gostei de ter feito e uma das mais importantes da minha carreira e uma das quais me senti mais imerso, principalmente por ela lidar com uma questão de desrespeito e de não entender que são pessoas que se amam. Ainda que, como ator, a gente não possa julgar o personagem, penso no quanto ele deixou de aproveitar na relação com o pai por conta de uma ideia pré-concebida e de compreender que a vida é diversa e temos histórias das mais diferentes possíveis”

Acredito que não é preciso ser para se respeitar. A identidade sexual, religiosa, ou qualquer que seja outra precisa ser respeitada – Caio Vegatti

“Família é Tudo” é a primeira novela de Caio Vegatti na Globo (Foto: Priscila Nicheli)

SKATE VIBRATION

Quando se fala em skate, uma das primeiras associações se direcionam à banda Charlie Brown Junior. A fixação dos integrantes no esporte era tão grande que a palavra era citada continuamente nas letras. Um fã-clube se dispôs a contar, música a música, as vezes em que “skate” era citado e ele estava lá em 33 aparições. Aparentemente, Max de “Família é Tudo” é um desses aficionados. “A minha expectativa é de que o meu núcleo atinja a galera mais jovem. Especialmente agora que, depois de Tóquio (2020), o skate virou esporte olímpico. Somado a isso, o esporte tem tido uma adesão grande entre o público feminino por conta da Rayssa Leal, atleta super carismática, o que ajudou o esporte a tornar-se popular”. Ainda que Caio já praticasse skate, voltou a fazê-lo por causa do personagem. “A paixão voltou. Eu não andava de skate desde 2016. Por conta da novela, voltei a fazer e a me ralar. Daí, lembrei a razão em haver parado”, relembra, com humor.

A geração posterior à “fadinha” Rayssa Leal, para Caio, trouxe a naturalização do esporte. “Antigamente não era assim. Hoje tem mais campeonatos tradicionais no Brasil e sempre me impressiona ver o quanto ele é democrático”. O núcleo sob rodinhas conta além de Caio, com Nicole (Aisha Moura), que pertence a uma família humilde e que se apaixona pelo também skatista Plutão (Isacque Lopes), que “não quer ser visto como aleguém que tem muito dinheiro, mas como uma pessoa que quer construir o próprio caminho”, segundo Caio. Plutão vai abalar as estruturas do relacionamento de Nicole com Max, rapaz possessivo, controlador. Para o artista, muito desse comportamento do personagem pode se dever também a traumas do passado “A gente carrega muita coisa do nosso passado. Temos que procurar estar bem para construir uma vida a dois. Quando carregamos medos e frustrações de outros relacionamentos para um atual, isso gera insegurança, sufocamento, e pode ser uma bola de neve que acaba com os relacionamentos”.

No momento o ator diz que irá se ocupar estritamente com a novela. “Fica difícil conciliar outro trabalho artístico [nessa época] e por questões contratuais, de mudança de perfil a gente acaba reservando o tempo, especialmente em novela, que é algo de médio prazo, e ela ocupa esses espaços”. Em se falando de novelas, elas ainda são vistas pela nova geração? “Sim. Com o passar do tempo tudo evolui e isso é inegável. Os streamings, a internet, tudo influenciou. Os jovens dão preferência à facilidade e para isso existe a Globoplay, que flexibiliza assistir. O hábito de parar para ver uma novela com a família reunida [mudou]. Hoje em dia tudo está mais disperso, há muitas opções e as emissoras estão atentas a isso”.

Atentar-se ao futuro. Caio não chegou sequer aos 30 anos, mas lida com entusiasmo com aquilo que ainda virá. “Sou muito empolgado. Acho que tudo é possível na vida. Se tem um sonho que quero atingir é o de interpretar um personagem biográfico do esporte e que ele possa via a ser a inspiração para quem que se referenciar em mim”. Um desses personagens é o icônico Ayrton Senna (1962-1994). “Estive vendo o documentário do Senna e fiquei empolgado. Ele me inspira muito, ainda que eu tenha nascido pouco tempo depois de ele morrer. Eu era um garoto muito ligado em carro, queria entrar em todos os carros, e meu pai chegou a fazer test drive em carros que não compraria só para poder passear comigo”. Sem dúvida, se muito vale o já feito, mais vale o que será.

Caio Vegatti sonha viver esportistas como personagens. Um deles é Senna (Foto: Priscila Nicheli)

Fotos Priscila Nicheli
Styling Samantha Szczerb
Beleza Zuh Ribeiro