Caio Cobra encarou o desafio de roterizar, dirigir e montar o seu primeiro filme de ficção inspirado em produções inglesas com uma pegada de nonsense


O roteiro de Virando a Mesa tem como pano de fundo a ilegalidade para falar do próprio cinema como acontece no filme Kill Bill, por exemplo.

Caio Cobra é roteirista, diretor e montador do filme Virando a Mesa (Foto: DIvulgação)

Roteirizar, dirigir e montar um filme não é um trabalho muito fácil para ser exercido por apenas uma pessoa, muito menos se pensarmos que tudo isso possui um prazo curto para ser entregue. Mesmo conhecendo todas as dificuldades, Caio Cobra resolveu aceitar o desafio em seu primeiro longa-metragem de ficção, Virando a Mesa. As filmagens começaram a ser capturadas em outubro e foram finalizadas em novembro. A partir de agora, o desafio do roteirista é montar o filme para ser lançado no primeiro semestre de 2018. “Estou conseguindo separar as funções muito bem. Quando sou roteirista foco exclusivamente na história. Quando estou dirigindo sou o cara mais cruel do mundo com o meu texto, porque mexo de acordo com as conveniências e deixo os atores darem pitaco visando deixar a produção mais orgânica. Quando começo a montar, me torno muito chato com o material que rodei. É isto que mantém a minha sanidade”, brincou Caio Cobra.

O filme traz uma abordagem nonsense sobre o próprio cinema (Foto: Divulgação)

A primeira versão deste roteiro é de 2012. Desde então, muitas coisas aconteceram e o resultado final não chega nem perto do inicial, segundo Caio. “Posso dizer que a trama que tenho hoje começou a aparecer em 2016”, contou. O enredo narra a trajetória de um policial novato, interpretado por Rainer Cadete, que tem a função de fechar um clube de poker que funciona em uma boate clandestina sob o comando de um velho contraventor, vivido por Stepan Necerssian. No entanto, o mocinho às avessas é obrigado a apostar também o que o faz encarar diversos acontecimentos que incluem motoqueiros agiotas, sadomasoquistas enlouquecidas e um assalto ao jogo. No meio disso tudo, ele ainda se envolve com uma mulher, interpretada por Monique Alfradique. “Não é difícil criar um anti-herói por ele ser basicamente humano. Nós nunca somos totalmente bons ou maus. A maneira como reage aos acontecimentos do filme é o que mostra o tipo de homem que é. Esta produção tem uma pegada dos filmes de comédia e ação ingleses ao mostrar mais as pessoas em situações extremas e isso acaba originando o caráter deste personagem. Os papéis são totalmente calcados neste tipo de cinema, sendo que eu me inpirei nos longas de Quentin Tarantino, por exemplo, para criar o roteiro”, informou Caio Cobra.

Apesar de trazer no enredo a ilegalidade, os personagens não estão em cena para questionar algo que ocorre na sociedade. A ideia de Caio é fazer um filme sobre o próprio gênero de ficção e ação a qual ele recorre. “Todos os papéis são bastante caricatos que gosto de brincar que este é um filme que praticamente sabe que é um produto audiovisual como Kill Bill. Como o longa tem um pé no exagero, não posso afirmar se me inspirei na realidade brasileira. Minha inspiração maior foram os clássicos de Scorsese”, explicou.

A ilegalidade é o pano de fundo deste filme (Foto: DIvulgação)

O material, portanto, se baseia em uma sátira sobre o próprio cinema sendo que o maior intuito do diretor é traçar uma releitura do gênero. “Acho que as pessoas vão identificar mais elementos que estamos acostumados a ver no cinema americano e europeu do que o produto brasileiro. O que eu quero, portanto, é fazer um filme pop para que as novas gerações se sintam à vontade assistindo. A ideia é que seja um material rápido e divertido feito para ser exclusivo do entretenimento”, definiu. Dessa forma, Caio não pretende trazer uma moral da história. A ilegalidade é exibida apenas para nortear as pessoas que vivem neste espaço e como funcionam as engrenagens ilícitas. “Posso dizer que este filme é extremamente violento, mas o público irá se divertir mais com isto do que se chocar. A ideia é ser realmente nonsense e não gostaria que as pessoas enxergassem uma crítica sobre algo”, comentou. Esta leitura da realidade não é exposta de maneira séria.

A partir disso, é possível ver a utilização da ilegalidade das boates e do jogo como um pano de fundo para os acontecimentos que se seguirão. “Mostro no filme, basicamente, que todo mundo sabe que aquele lugar existe, mas a razão de fechar não tem nada a ver com a lei ou qualquer outra coisa. Na verdade, apesar das regras estarem sendo cumpridas, ela só está sendo usada devido o desejo de um delegado. Se existe alguma moral neste roteiro, o que não acredito, é que todas as pessoas estão quietas no seu campo, fazendo o que sempre fizeram sem incomodar os outros. Toda esta história é baseada na ganância de um delegado e, a partir disso, as engrenagens começam a se mover. Inclusive, eu brinco que existem vários bandidos em cena, mas o único vilão é o delegado”, explicou Caio Cobra sobre como o roteiro se desenvolve.

O enredo traz um herói às avessas (Foto: DIvulgação)

Começar a rodar este filme não foi uma tarefa fácil. O texto de Caio Cobra passou por duas produtoras antes de conseguir o convide da Media Bridge que viabilizou o longa. O set de gravações, por exemplo, foi no Rio de Janeiro devido a uma questão logística e financeira já que a maioria dos atores mora na cidade. No meio desta loucura toda, o diretor ainda precisa desempenhar três funções diferentes e ao fazer isso existe um receio de se jogar muito na história sem conseguir criar um ponto de vista externo. “Fui montador durante muito tempo e por isso sempre treinei o meu olhar para ficar de fora do material do diretor. No entanto, como é o meu primeiro longa de ficção resolvi curtir o desafio. Ao mesmo tempo, terei muita opinião dos produtores que serão por si só o meu ponto de vista extra”, comentou. O fato de escrever e dirigir, segundo ele, irá otimizar o processo de montagem, tornando-o mais rápido. A ideia é finalizar o filme entre fevereiro e abril de 2018.