Bruxas e rituais: Cássia Kis, Claudia Abreu e Maria Ribeiro estão em ‘Desalma’


Assistimos a série do Globoplay e vamos te contar o motivo pelo qual você precisa mergulhar nesse universo místico que traz rituais pagãos, muito suspense, mortes misteriosas e com visual cinematográfico. A saga que se passa na fictícia Brígida ensaia a volta de uma tradicional festa eslava, a Ivana Kupala, já tem sua segunda temporada confirmada e conta ainda em seu elenco com Nathalia Falcão, Alexandra Richiter, Anna Melo, Camila Botelho, Valentina Ghiorzi, Gabriel Muglia, Bruce Gomlesvky, Jonas Bloch e Giovanni Gallo. Vem saber!

A série Desalma, do Globoplay, escrita por Ana Paula Maia é a grande aposta dos Estúdios Globo (Foto: divulgação)

*Por Rafael Moura

Um drama sobrenatural enfeitiçado por muitos fenômenos sobrenaturais que assombram a população de Brígida, uma pequena cidade fictícia, no Sul do Brasil, ao longo de décadas, enquanto rituais de bruxaria prometem trazer de volta ao mundo dos vivos almas de pessoas que já se foram. Assim é ‘Desalma’, a nova série do Globoplay, criada e escrita por Ana Paula Maia, com direção artística de Carlos Manga Jr. e desenvolvida pelos Estúdios Globo.

A saga thriller se solidifica no Brasil como uma grande aposta do mercado audiovisual, um gênero pouco explorado, mas que vem ganhando cada vez mais força afinal, desde 2014, com ‘Dupla Identidade’, e 2016 com ‘Ligações Perigosas’ e ‘Supermax’, a Globo vem apostando nesse gênero. No cinema os destaques vão para ‘As Boas Maneiras’, 2017, e ‘Através da Sombra’, de 2016. Não podemos deixar de coroar o grande mestre do suspense brasileiro, José Mojica Marins (1936 – 2020) que foi um cineasta, ator, roteirista de cinema e televisão brasileiro mais conhecido como Zé do Caixão.

Voltando à série de Ana Paula Maia, que em sua literatura fala muito sobre os homens, em Desalma, ela apresenta aos espectadores não uma única protagonista e sim uma tríade com as atrizes – Cássia Kis, a bruxa Haia, e Cláudia Abreu e Maria Ribeiro, que são as mães das famílias diretamente envolvidas na tragédia e nos mistérios. Lembrando que a trama de Manuela Dias, a novela ‘Amor de Mãe’ inaugurou esse conceito. É a primeira vez que a autora escreve sobre o universo feminino, dando a história uma forte relação com a maternidade.

A trama começa em 1988, com a morte de uma jovem que choca a população de Brígida durante a tradicional festa pagã Ivana Kupala, um feriado eslavo que é comemorado, originalmente, na noite mais curta do ano e celebra o solstício de verão, onde tudo aconteceu, sendo banida do calendário desde então. Trinta anos depois, a comunidade de colonização ucraniana decide que está na hora de deixar os traumas para trás e retomar a celebração. Porém a pequena cidade nunca esteve tão assombrada pelos mistérios do passado quanto agora: em 2018, uma série de acontecimentos estranhos perturba os habitantes, enquanto eles se ocupam dos preparativos. Três mulheres são marcadas por transformações e perdas, e rituais de bruxaria são capazes de reverter até mesmo a morte, o poder na necromancia.

Cássia Kis, a bruxa Haia, e Nikolas Antunes, vive Roman Skavronski, em Desalma, do Globoplay

Às vésperas da noite mais escura do ano (o dia de Todos os Santos, 31 de outubro, no Hemisfério Norte), quando almas das trevas têm o poder de caminhar sobre o mundo dos vivos, a floresta parece atrair os ingênuos para seu interior frio, de árvores altas, onde eventos sobrenaturais assombram os integrantes das famílias envolvidas na tragédia do passado. Neste suspense sobrenatural, os mistérios se multiplicam até a revelação surpreendente de como todos eles se conectam.

Agora, ao invés da violência do slasher, temos a introspecção do horror moderno, com claras inspirações nas obras de Ingmar Bergman, além de ‘A Bruxa’, de Robert Eggers, ‘Dark’, da Netflix e ‘Os Outros’, de Alejandro Amenábar. Com essa poção do encanto, Desalma traz um novo olhar para tudo o já vimos na TV brasileira, subvertendo a já cansada narrativa e imagem dos produtos nacionais. A produção traz um ritmo mais ameno, fotografia dessaturada e silêncios constantes (o que ajuda no clima de suspense) o projeto exibe uma grande experimentação audiovisual.

Uma parte do elenco feminino, de Ana Paula Maia, que ganhou protagonismo na trama Desalma (Foto: divulgação)

Protagonismo Feminino

Em sua primeira narrativa sobre mulheres, a autora Ana Paula Maia traz um elenco de peso para contar essa lenda – Cássia Kis, no papel da bruxa Haia, Cláudia Abreu, como Ignes, e Maria Ribeiro, a forasteira Giovana. Embora o primeiro episódio da série seja apenas a introdução de uma longa narrativa, o espectador já consegue ter uma experiência amarrada de como essas histórias irão se cruzar ao longo dos dez episódios. Ao terminar o primeiro temos uma grande sensação de quero mais, pois aguça a curiosidade do público, querendo maratonar toda a série (pelo menos foi esse o meu sentimento). Cássia Kis, no auge de seus 62 anos, mostra que tem toda a força para interpretar uma grande personagem e de maneira bem desafiadora: a feiticeira levanta muitas dúvidas: seria ela má ou boazinha. Qual o seu papel na sobrenaturalidade de Brígida?

As paisagens são grandes protagonistas dentro da série Desalma (Foto: divulgação)

E se você espera sustos vai se desanimar, afinal, a narrativa traz uma atmosfera mais densa, com acontecimentos em ritmos mais lentos. Não espere jump scares, plot twist ou acordes com variações da trilha sonora, o ritmo traz uma constante aura de tensão, perigo e mistério. Brígida se apresenta como uma cidade sufocante, e isso se dá para os trabalhos de câmera, fotografia, direção de arte e figurino, que estabelecem o aprisionamento com exatidão. A série foi grava entre o Sul do país – Rio Grande do Sul, Paraná e em Santa Catarina – e no Rio de Janeiro – capital e Teresópolis – ao longo de nove meses, com locações em que a natureza ganham um super destaque: como floresta, penhascos, lagos e ruínas, que ajudaram a intensificar o ar sinistro, além do clima frio.

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Vale destacar, também, o guarda-roupa da série assinado por Beth Filipecki. Para a premiada figurinista a ideia era desconstruir as bruxas clássicas que estão no imaginário. Essa bruxa não é uma mulher parada no tempo. E que Cássia queria navegar por água mais profundas, deixando sua criação fluir ao máximo, por isso construíram um visual com uma perspectiva mais teatral, focada na ancestralidade e com toques de modernidade. Ela traz uma imagem de uma mulher forte, que tece as próprias roupas, fazendo um paralelo com a vida e a morte, como uma Moira contemporânea, por isso suas vestes tem sempre fios que se entrelaçam. Na mitologia grega eram três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos, responsáveis por fabricar, tramar e cortar o fio da vida de todos os indivíduos. A Haia é uma bruxa bem versátil, que usa bordados, lã, couro, pele, moletom, macacão, saia e muitos casacões.

O figurino de Haia, personagem de Cássia Kis ganhou atenção especial na série Desalma

Os sons e ruídos atravessam as sequências e ajudam a imprimir um universo fluido, único e misterioso, que tem trilha original de Alexandre Faria, que já assinou os temas da novela ‘Deus Salve o Rei’ e, atualmente, é o responsável pela trilha de ‘Salve-se Quem Puder’, e a pós-edição da obra contou com consultoria do sonoplasta alemão Alexander Wurz, especialista em produções do gênero de suspense sobrenatural que tem no currículo obras como ‘The Dark Valley’, ‘Cold Hell’ e ‘Dark’. Destaque para o de heavy metal Sepultura entrou no estúdio para gravar uma nova versão da faixa ‘Tainted Love’, para a banda DakhaBakha. A canção ‘Gravedigger’, hit de Dave Mathews também foi gravada em voz e violão por Dan Torres, ex-participante do Fama. Além disso, diversas músicas da cultura eslava foram regravadas para produção e é da atriz Bela Leindecker (que interpreta Natasha) a voz das canções folclóricas ucranianas ‘Plyve Kacha’ e ‘Marusia’, que virou praticamente o hino da série.

Antes mesmo de sua estreia, o drama sobrenatural já teve sua segunda temporada confirmada pelo Globoplay. Os criadores do projeto comemoram a notícia e adiantam o que o público pode esperar para a próxima safra de episódios. A autora conta que a sequência vai mergulhar mais fundo nos mistérios e nesse universo místico e começarmos a entender os entrelaçamentos da trama e de como Brígida e seus moradores estão linkados. É claro que a tensão e o suspense irão se intensificar.