*Por Brunna Condini
Uma amizade profunda e uma química rara. Assim é a relação de Bruno Mazzeo e Debora Lamm, que após um intervalo de 15 anos, voltam com ‘Cilada‘, em 21 de maio, no Globoplay. A série de comédia, exibida originalmente no Multishow entre 2005 e 2009, ganha nova roupagem, e, na ficção, volta 10 anos após o último episódio do original, com os protagonistas passando por situações típicas do mundo hoje e enfrentando os desafios de um casamento. Em entrevista exclusiva, Bruno e Debora falam do retorno do humorístico, que foi o responsável pelo início da amizade dos dois.
“Continuamos com a mesma pegada de falar do nosso cotidiano, da nossa vida ordinária. E o mundo está diferente do que naquela época. No tempo da série original, não existia iPhone, o celular era de flip, não tinha Facebook, Instagram, era outro tipo de mundo e de forma de se relacionar. Então, imagina agora podemos fazer piadas com Uber, Waze, aplicativos diversos, com WhatApp. Esta temporada abre com a cena final da última, que deixa no ar se eles vão casar ou não. E agora aparecem casados há 10 anos. Nisso cabem as idas e vidas dentro de uma relação, com momentos melhores, outros mais frios… Enfim, é um casamento”, diz Bruno. “É um casamento tem a sua própria dinâmica. Com suas delícias e dores, mas muita cumplicidade também”, acrescenta Debora.
Bruno também celebra mais uma parceria com Debora, que o dirige, ao lado de Lúcio Mauro Filho, no espetáculo ‘Gostava mais dos pais’, que chega em solos cariocas a partir de 21 de junho, no Teatro Casa Grande, no Leblon. Na peça, eles revelam as dificuldades de entender os seus lugares no mundo, ao mesmo tempo em que lidam com o peso de serem filhos de dois ícones do riso: Chico Anysio (1931-2012) e Lúcio Mauro (1927- 2019).
Sermos filhos de quem somos, sempre foi uma questão para o Lucinho e para mim, mas nunca com peso. Porque desde muito cedo fomos fazer as nossas coisas. E o Lucinho, por incentivo do próprio Lúcio, foi descobrir qual era a galera dele cedo. Só depois disso eles se encontraram num set. Já comigo foi diferente. Meu pai me queria perto dele, só que com 18 anos, depois de eu trabalhar por um ano no seu programa, ele sofreu um acidente e foi morar fora. E eu fui fazer o ‘Sai de Baixo’, então fui meio ‘forçado’ a seguir o meu caminho, que era algo que eu já queria, mas que não sabia que seria logo – Bruno Mazzeo
“As comparações entre nós e nossos pais não rolou tanto na prática. O Lúcio Mauro, por exemplo, tinha outro tipo de interpretação, mais contida, já o Lucinho é um ator mais para fora e tal. Já eu, não tenho o dom de fazer o que foi o diferencial na vida do meu pai, muitos personagens, muitas vozes. Minha praia é outra. O que rolou desde sempre foi um enaltecimento dos nossos pais por parte do público, do tipo: “Você é maravilhoso, mas eu gostava mais do seu pai”, ou “Poxa, você é filho do meu ídolo”. Mas acho lindo, super justo, e como segui o meu caminho desde lá atrás, nunca foi algo incômodo para mim. Eu e Lucinho sempre rimos muito dessas observações que ouvíamos, e foi a partir disso que o espetáculo nasceu. Tanto que a primeira coisa que surgiu nessa peça foi o título, até antes de saber o que falaríamos dos nossos pais, contra ou a favor? (risos)”.
E pontua, falando ainda da construção do espetáculo: “Este assunto passa pela nossa vida e se conecta com outro tema da peça, que é justamente o nosso posicionamento dentro do mundo atual, onde o consumo da dramaturgia, da arte e da comédia, mudou. A forma de produzir e de consumir se transformou. Com a coisa da internet, das redes sociais, da coisa real, genuína, de tudo o que recebemos e rimos durante o dia… E a gente, como se encaixa nisso? Temos quase 50 anos, as pessoas ainda nos ligam aos nossos pais, a gente faz vai continuar valendo? Como a gente se adapta nesse mundo sem ser ridículo, sem deixar de ser a gente, sem ser o tiozão? Estão questionamentos todos estão na peça também, porque pertencem às nossas vidas”.
Nunca senti pressão de ser responsável pela continuação de um legado, porque sempre soube o tamanho do meu pai. Sempre foi muito tranquilo saber que eu jamais chegarei nele. Ele chegou na Lua, eu vou fazer o quê, chegar em Marte? A trajetória dele foi feita, a minha está sendo feita, do meu jeito, no meu tempo – Bruno Mazzeo
Sobre pensar em envelhecer na comédia, Bruno reflete: “O que eu não gostaria é de deixar de acompanhar o mundo e suas evoluções. Quando falamos dessas novas formas de fazer humor, da internet, por exemplo, do cara que faz do quarto dele, jamais podemos olhar para isso com julgamento. Não quero ser o cara que diz: “No meu tempo é que o humor era bom”, essa coisa rancorosa. Eu só não quero envelhecer nesse sentido. É inevitável envelhecer, como aceitar que o novo sempre vem, como dizia Belchior”.
Casamento cênico
Parceiros na vida e na arte há quase 20 anos, Bruno e Debora falam da conexão que os une. “O ‘Cilada’ apresentou a gente, mas a partir dai, não nos separamos mais. Fizemos muitos trabalhos juntos, os filmes ‘Muita calma nessa hora’ um e dois (2010 e 2014), o ‘Chocante’ (2017), a série ‘Junto e misturado’ (2010-2013), para a Globo. No teatro, foram duas peças, o ‘5x comédia’ (2016-2017), e agora o dirijo com o Lucinho (Lúcio Mauro Filho) em ‘Gostava mais dos pais’. Então, entre nós, existe uma afinidade na vida e no trabalho, que é algo muito raro e precioso. O Bruno é o meu maior parceiro de trabalho e da vida também”, observa Debora. “Isso é uma sorte, é como um casamento que dá certo”.
Bruno acrescenta: “A gente se dá bem em muitas áreas, no set, na vida, bebendo, ficando bêbados e falando m@rda, e falando sério também. Me abro muito com a Debinha e adoro ouvi-la. Ela já participou de inúmeros momentos da minha vida, e me conhece como poucas pessoas. Só de olhar, sabe exatamente como estou, se bem, de mau humor. Temos uma ligação que não se explica muito. Rimos das mesmas coisas, temos muito assunto, nos admiramos e respeitamos de verdade”. E Debora interrompe: “Nos conhecemos profundamente, até nos piores defeitos. Aliás, acho os defeitos do Bruno hilários. No combo tem que ter os defeitos. Amar é apesar de, né? (risos)”.
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