*por Vítor Antunes
Um dos papéis mais importantes de Bruno Lopes recentemente na televisão, foi na novela “Carinha de Anjo”, do SBT. A trama de Leonor Corrêa é um dos produtos mais bem sucedidos da história do SBT depois que migrou para a dramaturgia infanto-juvenil. Porém, foi o último grande trabalho do ator na teledramaturgia. E ele já vem estruturando o retorno para a plataforma. “Estou fazendo um caminho para voltar à TV e ao audiovisual. Eu amadureci depois de ‘Carinha de Anjo’, isso depois de fazer teatro, séries e filmes. Como artista, ficamos atentos a entregar a excelência do trabalho. Eu mesmo cheguei a rejeitei alguns projetos para focar na TV que exige dos atores um mergulho mais intenso”.
Bruno é casado com Priscila Fantin, uma das atrizes de mais sucesso da sua geração e protagonista de diversas novelas. Inclusive, com recorrência ele é apresentado como “Bruno Lopes, marido da Priscila Fantin”. Ser referenciado desta forma, para ele, não é um problema atualmente, ainda que já tenha sido. “Quando começamos, sim. Eu estava no meio para o fim de ‘Carinha de Anjo‘ e ela estava consolidada. Mas não podia abrir mão da minha vida e da carreira. E não poderia deixar de reconhecer que Priscila é um furacão. Todos sabem quem é Priscila Fantin e o tamanho que minha mulher tem. O resto vem como consequência”.
Eu não vou abrir mão de trabalhar ou conviver com minha esposa por me associarem a ela ou por ser um “marido de”. É algo que não me afeta mais, por mais que tenha afetado no começo. Mas esse é o caminho da gente e é isso que importa – Bruno Lopes
Além da generosidade que é inerente a um ator, que tem na sensibilidade a célula mater da sua profissão, Bruno fala sobre um assunto que lhe é muito sensível: doação de órgãos. O ator é militante da causa e por uma questão íntima e pessoal: seu irmão teve morte cerebral e toda a sua família decidiu, por este motivo, ser doadora.
Bruno analisa: “Sempre falamos ou ouvimos falar de doação de órgãos, mas tocamos nesse assunto de maneira superficial, porque o assunto morte não permeava as conversas das famílias. Falar de morte, a meu ver, morte é fim de ciclo, e encerramento de ciclo. A morte está presente e falar sobre a morte é importante. E só passei a pensar assim quando perdi meu irmão por um AVC aos 28 anos. Ele ficou 15 dias internado em coma e não resistiu. Quando recebemos a notícia do óbito cerebral, tivemos a visita para saber se seríamos doadores ou não. Eu, meu pai e minha mãe decidimos em conjunto doar os órgãos. Falamos que talvez seja uma das maiores demonstrações de amor sem saber quem é, quando se dá a essa pessoa dignidade e condição de vida. Saber que tem gente numa fila de órgãos, pessoas que a amam. Em vez de doar ou cremar, estamos dando continuidade na vida de alguém. É muito importante. Proporcionamos para o mundo uma felicidade compartilhada. É difícil pensar naquele momento de dor, mas existe uma crença de como arrumar o corpo depois da doação. Não existe diferença nenhuma. O olhar no velório é diferente, proporcionou que muitas pessoas possam continuar sua trajetória, continuar suas vidas e proporcionar felicidade”.
ÚNICO
Quando Orlando Morais escreve “Figura”, música de 1993, posicionava-se contrário àqueles que diziam que ele “era apenas marido da Gloria Pires”, quando disse “a mim não importa ser a sombra quando você é a figura”. Algo semelhante acontece com Bruno Lopes e Priscila Fantin, que, casados, costumam ter nela os holofotes ainda que ambos tenham a mesma profissão e façam juntos a peça “Precisamos falar de Amor Sem Dizer Eu Te Amo“, são casados e, naturalmente, vivem juntos.
Como é ser um casal e trabalhar junto? “É algo que adoramos, o trabalho um do outro. Bebemos de fontes diferentes e temos uma forma de agregar cada um à sua maneira. Estar na estrada é ótimo, o teatro é cura, inclusive montamos esse espetáculo em 14 dias. Claro que compõe a nossa vida, o teatro nos cura. Já fizemos peça brigados e no fim estávamos reconciliados. Nunca tivemos problemas. A turnê é feita só por nós e nosso produtor. O diálogo é a fonte mais acertada de um relacionamento. Nunca tivemos grandes problemas com isso. Enquanto atores, não há vaidade de quem faz a plateia rir mais ou tem mais destaque. Se a plateia está gostando, estamos felizes. Se eles gostam, para nós é uma tranquilidade”.
Hoje em dia as redes sociais exigem uma exposição maior. Além disso, há as novelas de Priscila que voltaram ao ar. Como é para os atores lidarem com isso? “Somos muito tranquilos e conseguimos preservar o que podemos. A rede social é muito importante, ainda que saibamos que nem tudo e nem todos somos interessantes o tempo todo. Conseguimos, dentro do que acreditamos, falar ou preservar o que precisa ser preservado. Acreditamos na força do amor e em repelir energia ruim. O que o coração pede, a gente faz. Mas, sobretudo, que bom que as pessoas reconhecem e param na rua para tirar foto, tem um grande apelo. ‘Partiu América‘ – filme de Priscila é sucesso no Netflix, e ela abraça as coisas. Temos em comum que somos muito CDFs. Conseguimos blindar o que é fundamental”.
Para justificar esta fala, ele se relaciona com a participação dela na “Dança dos Famosos 2023“, do qual a atriz saiu vitoriosa. “É bonito ver que ela não dança, mas se apresentou, ficou doente, e determinou-se a ganhar sem sequer ter dançado na vida. Dedicação, resiliência e foco. Tudo que relaciona com personagem, e não é demérito”.
Inclusive, em se tratando de “precisamos Falar de Amor…”, ele surge de forma natural. “Iniciamos com a ideia de fazer um projeto para Maputo, capital de Moçambique, e que auxiliaria pessoas com AIDS. Ficamos sensibilizados e tínhamos um tempo para elaborar alguma coisa. E o Wagner D’Ávila, com quem trabalhei, chegou a nós com esse projeto, o ‘Precisamos Falar de Amor Sem Dizer Eu Te Amo‘, que mexeu com a gente e com o que acreditamos. Porém, não sabíamos como seria em um país diferente, como as pessoas abraçariam aquele texto. Eu e Piscila dirigimos, atuamos, produzimos, fizemos cenário, luz, figurino, tudo feito por nós. Temos uma apropriação grande com ele. A montagem em Moçambique foi toda feita por nós e foi bem aceita. Vimos que temos uma pérola nas mãos e passamos com esse histórico e missão de fazer no Brasil esse projeto. Sempre fazemos uma ação social em paralelo”.
Casados há anos, Priscila e Bruno costumam ver na internet um post que diz que eles não sabem onde se conheceram. “A gente sabe sim como se conheceu. Eu morava em São Paulo e ela no Rio e fomos fazer umas fotos e uns amigos já estavam intencionados em me apresentar à Priscila. Quando falaram, eu não associei à Priscila Fantin. Eles estavam focados em nos aproximar. Fotografamos até um pouco depois do almoço, eu precisava ir embora, mas desmarquei minha passagem. Ficamos juntos e estamos juntos há sete anos desde que cancelei aquele voo. Eu sou muito careta, nem cerveja eu bebo. Lembro até da roupa que ela estava. A internet hoje é um poço sem fundo, uma terra de ninguém”.
Palestrante da plataforma TED Talks, Bruno acredita que o poder do questionamento é transformador. “Questionar é enriquecedor. Existe uma crença limitante de que questionar é julgar, mas o questionamento só tende a fazer crescer. Acho que isso é enriquecedor. Todo questionamento é válido e nada tem a ver com mexer no que se acredita, mas entender o todo mais assertivamente. Prefiro falar de forma mais ampla. Há diferença entre julgar e questionar”.
Talvez isso tenha sido definitivo para que ele mergulhasse na Fünf, loja elaborada por ele e que mergulha na moda agênero. “Sempre gostei de moda e de fazer coisas diferentes desde jovem. Depois de um tempo, percebi que as pessoas estavam fazendo. Durante a pandemia, pensamos em formas alternativas de capitalizar e tomar coragem de agir mais assertivamente com a moda. Abri uma empresa, comecei a fazer as peças pilotos, e hoje é tudo muito artesanal. Penso que essa peça tem que servir para meu corpo, no da minha esposa e ser customizável, caber nos dois corpos e estar pronta para fazer um número.” Nascido no Rio, diferentemente do que diz a Internet que aponta ter ele nascido em Cotia, Bruno diz o que é mais marcante nas duas cidades para ele “Amo ter crescido em São Paulo com a urbanidade. Nasci no Rio e curto essa comunicação e simplicidade do Rio”.
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