Bruno Gagliasso fala de planos na direção, quer trabalhar novamente no exterior e não descarta ter mais filhos

*Por Brunna Condini

Desde que ‘Santo‘ estreou na Netflix, há pouco mais de uma semana, Bruno Gagliasso, tem sido ainda mais requisitado para entrevistas. O espectador anda impactado com seu desempenho na série na pele do policial Ernesto Cadorna, um personagem sombrio, complexo e que vivencia uma jornada de agonia que parece não ter fim. É de arrepiar e vale muito conferir a performance de Bruno, que se entregou à composição “de corpo e alma”. Em papo exclusivo ao site, o ator fala sobre o forte desejo da direção e a possibilidade de ter mais filhos, e claro, do processo de imersão arrebatador na série criada pelo espanhol Carlos López e dirigida pelo brasileiro Vicente Amorim. “O que mais aprendi é que todo mundo tem um mocinho e um vilão dentro de si. Ninguém é 100% bom ou 100% mau. Tem que equilibrar, lidar com os seus demônios. Vivo intensamente todos os personagens que faço, mas depois também consigo me despedir deles e seguir para o próximo. Acho que essa é a maior graça do trabalho”, diz.

O ator fala sobre o personagem que já considera o mais importante da sua trajetória até aqui (Divulgação)

Gagliasso volta às telas após sua saída da TV Globo (em 2019), mas a série da Netflix não é sua primeira inserção internacional no streaming. Há poucos meses, ele esteve em ‘Operação Maré Negra‘, da Amazon Prime Video. No entanto, foi durante as filmagens de ‘Santo‘, que ele mergulhou de uma forma inesquecível como intérprete. Bruno recorda que ficou oito meses morando na Espanha, praticamente isolado da família, que depois de alguns meses se mudou para Portugal para ficar mais perto dele. “Morava em um apartamento em Madri e vivi a maior parte desse processo sozinho, então me aprofundei mais do que nunca. Só deixava o personagem para trás quando visitava meus filhos nos finais de semana”. Declaradamente apaixonado por Giovanna Ewbank e os filhos Titi, Bless e Zyan, ele revela que não está fora de cogitação que a família aumente: “Eu amo muito ser pai! Estamos felizes vendo nossos filhos crescerem. A gente brinca sobre ter mais, mas quem sabe, né?”.

Amei fazer a série, entre outras coisas, por ver que a produção mostrou ter a mesma paixão pela Bahia que tenho. Pedi licença aos orixás – Bruno Gagliasso, ator

Bruno Gagliasso com Giovanna Ewbank e os filhos (Reprodução Instagram)

A história que tem Bruno como um dos protagonistas, se inicia na Bahia, onde seu personagem faz uma investigação na tentativa de prender um traficante internacional de drogas. Durante essa jornada atrás do criminoso que ninguém conhece o rosto, acaba indo parar na Espanha, onde se infiltra na organização do traficante, tendo que encarar seus ‘demônios’. Misturam-se à trama elementos sobrenaturais e rituais religiosos, como os do candomblé, religião de Gagliasso, tendo como cenário Salvador. “Trabalhar e viver mesmo que por pouco tempo em Salvador, mais uma vez, foi um dos motivos que me fizeram topar fazer esse trabalho. Já morei na cidade por um ano, o padrinho da minha filha é baiano, meu melhor amigo é baiano e eu estou sempre na Bahia. Sou apaixonado pelas pessoas, comida, cheiros, energia e pela beleza de Salvador. Entre outras razões, eu amei fazer ‘Santo’ por ver que a produção mostrou ter essa mesma paixão pela Bahia”, frisa.

A direção é um caminho que está me chamando – Bruno Gagliasso, ator

Gagliasso ao ladodo diretor Vicente Amorim no set de ‘Santo’ (Divulgação)

“Sou do candomblé, o diretor da série é do candomblé, então foi tudo feito com muita seriedade e o respeito que os orixás merecem e precisam ter, com uma retratação respeitosa. Contamos com a consultoria de um pai de santo, o que foi super importante nessa preparação para fugir de qualquer representação errada ou deturpada que as religiões de matriz africana normalmente sofrem. Pedi licença aos orixás para fazer”.

Todo mundo tem um mocinho e um vilão dentro de si. Ninguém é 100% bom ou 100% mau- Bruno Gagliasso, ator

Bruno garante que foi o processo mais desafiador que já atravessou em se tratando de uma composição, o que incluiu perder 16 quilos em três meses, e deixar unhas e barba crescerem bem. “Foi a preparação mais intensa da minha carreira até agora. É uma série visceral, com uma trama pesada e que exige que as pessoas assistam aos episódios com atenção. Um quebra-cabeças que o espectador pode montar enquanto vai assistindo. A obsessão do meu personagem Cardona faz com que ele descubra e enfrente ‘demônios’ pessoais, veja e faça coisas que ele não achava ser capaz, tudo isso para encontrar o Santo e acabar com as barbaridades que os seguidores dele fazem”.

“Todo mundo tem um mocinho e um vilão dentro de si. Ninguém é 100% bom ou 100% mau” (Divulgação)

Intensidade como escolha

Tendo personagens intensos em seu currículo, como o Tarso, que sofre de transtornos mentais em ‘Caminho das Índias‘, novela reprisada no canal Viva; o serial killer de ‘Dupla Identidade‘ (2014) ou mais recentemente o delegado Lúcio em ‘Marighella‘ , feito como uma alusão a Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops) durante a ditadura militar e responsável por torturas – “Um fascista da pior espécie”. Bruno compara seu papel em ‘Santo‘ a outras vivências: “Exigiu muito de mim física e mentalmente por ser uma trama carregada de temas bem pesados. Por ser um personagem que me levou a lugares novos, que eu nunca tinha ido antes como ator, considero que esse é um dos papéis mais importantes que já fiz”.

Bruno Gagliasso tem colecionado papeis fortes como no longa ‘Marighella’ (Divulgação)

Ator e produtor, Bruno diz que o desejo de trabalhar como diretor é algo concreto e já em planejamento. “O que me atrai para dirigir é o mesmo que me atrai para atuar. Trabalhos que me enriqueçam como ser humano, que me façam aprender, questionar. O papel da arte não é trazer respostas, mas perguntas, gerar questionamentos. Tudo o que aprendo como ator quero usar como diretor. Tenho vários projetos, mas ainda é cedo para falar. Tenho alguns convites, mas vou guardando para executar na hora certa. Não tenho pressa, mas é um caminho que está me chamando”.

“Não tenho pressa, mas a direção é um caminho que está me chamando” (Divulgação)

Ele também avalia o tipo de legado que deseja deixar para seus filhos: “Como profissional quero que eles tenham orgulho do meu trabalho, que aprendam com tudo o que a arte ensina. Como ser humano, luto incansavelmente para que tenham um mundo mais igualitário, respeitoso. Tento ensiná-los a amar a natureza e já consigo ver o quanto também são apaixonados, e já estão aprendendo muita coisa”. E pontua, sobre o futuro: “Tenho muito ainda a realizar. Acho que quando essa inquietude passar, com certeza algum problema vai estar acontecendo. É isso o que me mantém ativo. Quero dirigir, quero continuar produzindo, quero fazer mais trabalhos na Espanha, por exemplo. Quero muita coisa ainda”.