Bruno de Mello: atuando em ‘Fuzuê’, ator fala sobre regulamentação da internet, paternidade e amadurecimento


Depois de grandes batalhas pessoais, ator brilha em sua participação com destaque na novela “Fuzuê”, na Globo. Na trama de Gustavo Reiz, ele dá vida a Fiel, um hacker que transita pela vilania junto com os personagens de Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas. Na vida real, o ator acredita ser urgente uma maior regulamentação à Internet não só com relação a conteúdo, mas também sobre a segurança das informações: “Eu acho importante que haja a regulamentação da Internet. Se há legislação de trânsito, porque razão não há no mundo digital? Acho que um estudo aprofundado pode ajudar nesse processo, além de diminuir a impunidade a pessoas que invadem as redes sociais alheias”. Além disso, numa entrevista cheia de afeto, falou das saudades do pai, da relação com os filhos e a esposa e do coração salgueirense. “O dia em que o título do Salgueiro casou com a vitória do Botafogo, eu guardei no meu coração para sempre”

*por Vítor Antunes

Sobrinho-neto de um grande nome do teatro, o diretor João Bethencourt (1924 -2006) e filho da atriz Fernanda Mello, a atuação estava na veia de Bruno, que trabalha profissionalmente desde 2004. Pai de duas crianças, ele diz como lida com a experiência de paternar e trabalhar: “Eu sou pai desde que eu me entendo por gente e eu não sei o que é ser diferente disso (…). Às vezes, eu ia me apresentar e levava meu filho por não ter com quem deixar. Então, desde cedo ele nos via aquecer a voz, ser maquiado e vestir o figurino. Não tem não tem muito jeito (…). Quando me veem em uma peça ou na televisão, ficam muito felizes e abrem um sorriso maravilhoso”.

Diante do vazamento de dados de pessoas comuns, informações privadas tornadas públicas e invasões hacker, como as que faz seu personagem, Bruno se diz favorável a um regramento maior do mundo digital:  “Eu acho que a internet, que não é mais uma coisa tão nova, tem muito a ser regulamentado. Porque o crime está sempre um passo a frente, então as pessoas criam programas, criam redes de proteção, mas eles vão lá e conseguem estar sempre superando essa barreira. Há de se estar aprimorando os sistemas de segurança da internet, não tem jeito”.

Bruno de Mello: Sem espaço para ‘fuzuês’ na Internet! deve-se combater hackers como seu personagem na trama das 19h (Foto: Sérgio Baía)

FUZUÊ

Na novela das 19h, Bruno de Mello vive Fiel, um hacker que margeia com a vilania e que contracena justamente com os antagonistas da novela. O tema é muito atual, já que os ataques cibernéticos estão cada vez mais comuns e a invasão a contas pessoais em celulares furtados, por exemplo, é cada vez mais frequente. Enquanto esta matéria era escrita fotos íntimas do jogador de futebol Anthony, do Manchester United, caíram na rede. O privado e o público acabam muito diluídos, ante a uma internet pouco – ou nada –  regulamentada. Para Bruno, é urgente que haja uma real legislação sobre a web. “Eu acho importante que haja a regulamentação da internet. Se há legislação de trânsito, por que razão não há no mundo digital? Acho que um estudo aprofundado pode ajudar nesse processo, além de diminuir a impunidade a pessoas que invadem as redes sociais alheias. Creio que essa evolução constante pode dar ferramentas à sociedade sobre como se proteger”.

Na preparação para viver um personagem com essa natureza, Bruno relata ter “visto muita série, muitos filmes ligados a esse universo, além de ter conversado com um amigo que trabalha como Tecnólogo de Informação há 30 anos e que me contou muito do que ele já viu a respeito de tecnologia, seus processos e dinâmicas”.

A experiência com atores veteranos em teledramaturgia vem sendo enriquecedora: “Eles são muito generosos e me receberam super bem. Gostam do processo de estudar, de trocar com o parceiro de cena, o que é algo que ajuda a encenação. Marina Ruy Barbosa me dá essa liberdade de trocar, de bater texto com ela, falar sobre personagens. O Felipe Simas é outro, um cara maravilhoso, um presente. Nicolas Prattes – botafoguense como eu – e o Douglas Silva também são incríveis, talentosos e que me deram muito apoio, inclusive, quando eu passei pela situação de perder o meu pai, algo que aconteceu recentemente. Sobre o pai, ele diz: “O meu pai foi uma das pessoas que mais me apoiou na carreira artística e um dos que mais investiu nela. Pagou a minha faculdade de artes cênicas e vários cursos meus que eu não podia pagar. Quando precisei complementar a renda sendo vendedor de loja, corretor de imóveis, ele sempre via que eu não estava muito realizado, muito feliz e perguntava quando eu voltaria ao teatro. Ter tido esse incentivo em casa, é um privilégio”. Bruno vem de uma família artística. Seu tio-avô foi diretor da primeira montagem de “A Gaiola das Loucas” no Brasil, João Bethencourt. Ele é filho da atriz Fernanda Mello e primo de Christina Bethencourt.

Bruno de Mello. Ator acredita ser necessária uma regulação da internet, especialmente no que tange à segurança dos dados (Foto: Sérgio Baía)

Anteriormente à “Fuzuê”, Bruno fez uma novela bíblica, épica. Era “Reis”, na Record. Algo neste perfil exige uma outra linguagem, um outro preparo, um outro corpo. “Uma novela bíblica requer muito de História para se entender um pouco daquela cultura ali, daquele momento. E, agora, em “Fuzuê“, uma análise da contemporaneidade”. No atual momento, o ator diz estar focado na novela, e ainda neste ano estreará o longa “Apaixonada”, com Giovanna Antonelli, que é a protagonista do filme dirigido por Natália Warth.

PAI

Pai de dois filhos, Bruno monitora a quantidade de acesso a telas com mais facilidade, especialmente do menor, Bento, de dois anos e 8 meses, fruto do seu casamento com a agente e assessora artística, Piny Montoro. Já quanto ao filho mais velho, Pietro, hoje a preocupação é menor. Mas nem sempre foi assim. “Já me preocupei mais. Quando ele tinha ali os seus 10, 11 e 12 anos, foi a fase onde houve um controle maior, já que há grande susceptibilidade nas redes. Além disso, na época, havia o jogo da ‘Baleia Azul“‘. Este tratava-se de uma atividade que propunha automutilação e autocídio entre os jovens e que causou grande apreensão entre os pais na época, em 2017. Bruno prossegue: “A gente ficava preocupadíssimo com isso e conversava muito com ele. Trata-se de algo que todos os pais devem ficar atentos.

Na minha geração, os perigos estavam na rua e, agora, essa geração mais nova ainda tem que lidar com o perigo está dentro do quarto, no alcance da mão. Quando havia briga na escola, os pais iam falar com o amiguinho. Na internet, não dá para saber quem mandou mensagem, se é do Paraná, de São Paulo, da Bahia, do Rio. Você não sabe quem está falando com o seu filho. Então, o diálogo acaba sendo fundamental – Bruno de Mello

Na casa do ator há um grande trânsito nas funções domésticas e na guarda das crianças. “Minha esposa é maravilhosa e me dá muito apoio, muito suporte. Quando eu tenho que ficar o dia inteiro em gravação, ela fica com os meus dois filhos, tanto o mais velho quanto o mais novo. Mas eu estou sempre com eles. Só rola alguma culpa quando não posso ir em algum  evento importante, quando tenho que gravar ou ensaiar. Acontece, mas aí eu penso que estou fazendo aquilo ali para eles também, para poder sustentá-los. Quando volto para casa é sempre aquela felicidade, saudade gostosa de matar e ficarmos juntos”.

Bruno de Mello e os filhos: “Antigamente o perigo só estava na rua. Hoje está na internet” (Foto: Reprodução/Instagram)

MATURIDADE, FÉ… E SALGUEIRO!

Quando Bruno iniciou na carreira o seu nome artístico era outro: Bruno Franklin. A mudança, diz ele, deve-se à numerologia “Eu estava em um momento de mudanças de hábito, de estudo, de foco, de um monte de coisa. Tinha sido pai pela segunda vez. Resolvi mudar e, segundo a numerologia, o meu nome atual tem muito mais portas, portais e projeções. E eu gostei, achei  mais forte, mas imponente”. Sobre a fé, Bruno lida de forma holística: “Não sou religioso, mas fortemente espiritualizado. Vou à igreja, à missa, ao budismo. Gosto de estar em contato com o espiritual, com o sobrenatural”.

Junto à primeira novela na Globo apresenta-se a Bruno, também uma fase importante da vida. No início do ano que vem, ele completa 40 anos. “Eu gosto muito da maturidade, não tenho nenhuma questão com isso. Pelo contrário. Prefiro, porque assim consigo fazer melhores escolhas, posso ensinar e ser exemplo para os meus filhos, tenho mais ferramentas, mais sabedoria para aplicar em minha profissão. Estou muito empolgado com essa chegada aos 40, inclusive por conta de, na minha numerologia, o número de sorte ser o quatro. Mas, é claro que há momentos nos quais sinto-me como uma criança grande”.

Salgueiro 1993: O desfile que fez com que Bruno de Mello se tornasse torcedor da escola (Foto: Reprodução)

Já quando o assunto é escola de samba, ele que é tão salgueirense quanto Jorge Ben e Galvão Bueno, não negocia sua paixão pela vermelho-e-branco: “Quando tem Salgueiro eu fico louco! Quando começam as bandeirinhas sendo agitadas, e o Salgueiro tem essa tradição de disponibilizá-las na arquibancada, eu fico arrepiado. Quando é a apuração, eu fico torcendo como se fosse futebol. O último título do Salgueiro foi em 2009, eu fui para a quadra com um amigo que também é salgueirense. A Globo mostrava a quadra das melhores escolas já com aquela vibração. Até que vimos a escola receber as últimas notas e o título de Campeã com a  quadra enchendo”.

Ele prossegue dizendo que ganhou uma bandeira e “Subi no palco e fiquei sacudindo-a junto à bateria. Quando eu saí dali, seguimos para o Maracanã, eu levei a minha bandeira do Salgueiro”. Há uma relação do Salgueiro – cuja bateria é conhecida como Furiosa – com a Fúria, que é uma torcida organizada do Botafogo. “Este dia, em que o título do Salgueiro casou com a vitória do Botafogo, eu guardo no meu coração para sempre”. Conta-nos o ator que tornou-se “salgueirense justamente em um ano em que a escola foi campeã”. Antes de 2009, o Salgueiro foi campeão em 1993, quando desfilou com o enredo “Peguei um Ita no Norte (Explode Coração)“. Tal como sugere o samba do Salgueiro de 2011, Bruno segue à risca o hino da vermelha-e-branca, tanto na vida como na arte: Desenhou um cenário perfeito, de braços abertos sobre a Guanabara. Faz da vida um filme sob a direção do Redentor.

Abre Alas do Salgueiro em 2009. Última vez em que a tijucana foi campeã do carnaval (Foto: Blog Ouro de Tolo)