Bruno Barros fala sobre o Sem Censura da TV Brasil: “Nunca tinha pensado em ser apresentador, o meu negócio era ser ator”


Ator por formação e apresentador por destino, há dois anos ele divide o sofá vermelho do programa com Vera Barroso e Carol Rocha

Houve tempos censurados em que a arte, cultura e informação no Brasil estavam sob controle de órgãos reguladores durante o período da ditadura. E há tempos atuais em que a liberdade de discurso é o principal objetivo como o próprio nome diz do tradicional programa diário da TV Brasil, o Sem Censura. Depois de vinte anos reféns dos anos de chumbo a comunicação precisava se libertar e, dessa vez, por completo. A ideia de um programa de entrevistas que pudesse falar sobre tudo e todos foi do então diretor da emissora, Fernando Barbosa Lima, na década de 80. De lá para cá, muitos apresentadores passaram pela bancada, muitas histórias foram contadas e grandes nomes da arte, política, economia e medicina foram convidados para as conversas exibidas de segunda a sexta-feira. A jornalista Leda Nagle esteve de 1996 a 2016 no comando do programa, quando foi substituída por Vera Barroso com a colaboração dos repórteres multimídia Carol Rocha e Bruno Barros. O jovem apresentador conversou com o site HT sobre sua participação no Sem Censura desde fevereiro de 2017.

Na estreia do dia 1º de julho de 1985, Bruno Barros ainda não pensava em nascer quando televisores do Brasil inteiro puderam assistir a conversa guiada por Tetê Muniz. E muito menos poderia imaginar que um dia faria parte do trio de apresentadores da nova versão do programa. Ator por formação pela Casa de Arte de Laranjeiras, a CAL, Bruno trancou por duas vezes a faculdade de jornalismo por achar que não levava muito jeito para a profissão. “Imaginei que não era para mim, mas a vida me deu uma rasteira e agora eu caí em um programa genuinamente jornalístico”, disse o apresentador responsável pelas coberturas externas do programa e pela interação com os internautas ao vivo. “Quando tenho que resumir meu trabalho digo que sou jornalista. Me sinto como tal”, acrescentou.

O Sem Censura é comandado por Vera Barroso com o auxílio de Bruno Barros (Crédito: Divulgação)

Apaixonado por arte, Bruno chegou à TV Brasil em 2012 para trabalhar de perto com a jornalista Leda Nagle, uma grande professora de televisão para ele. Ainda longe da apresentação e da atuação, Bruno começou como produtor do Sem Censura. Depois foi transferido para o programa semanal Arte do Artista comandando por Aderbal Freire Filho e uma vez lá, o ator tinha mais tempo para se dedicar à faculdade de artes cênicas, foco inicial de Bruno. Só que as coisas foram acontecendo dentro da emissora e de produtor e ator, ele encarou mais uma função: apresentar o novo programa ao lado de Vera Barroso e dividindo as tarefas com Carol Rocha. “Eu nunca tinha pensado em ser apresentador, o meu negócio era ser ator. Eu era produtor, mas o que eu gostava mesmo era de atuar e na TV Brasil sabiam disso, porque eu sempre imitei muito as pessoas e o chefe falava que eu tinha que fazer vídeo, mas ficou por isso mesmo”, afirmou.

Bruno Barros começou como produtor dos programas da TV Brasil (Crédito: Divulgação)

A repaginada no programa e na emissora no final do ano de 2016 foi um divisor de águas também na carreira de Bruno Barros. A emissora realizou testes para novos apresentadores para o Sem Censura e o até então produtor do programa participou, mas ele ainda não acreditava que poderia ser convidado para o cargo. “Nessa versão nova eles quiseram que a interatividade fosse feita ao vivo e por uma pessoa jovem que tivesse conhecimento das redes e foi pra isso que eles me chamaram”, contou Bruno que acrescentou ter sido surpreendido pelo convite, mas não houve tempo nem para pensar se aceitaria ou não a nova função: “Foi uma quinta-feira de manhã quando a editora-chefe do Sem Censura me falou que eu entraria ao vivo à tarde e assim foi e nunca mais deixei de apresentar”.

Nos primeiros anos de exibição as edições chegavam a ter 4 horas de duração, depois caiu para 1 hora e meia e hoje ocupa 1 hora da programação diária da emissora e 15 minutos de um bloco online transmitido no Facebook ao final da edição televisiva. Esta comunicação com os internautas foi sempre uma preocupação do programa pioneiro na interação entre público e TV. “Já recebi mensagem de telespectadores que me disseram ter comprado na década de 90 aparelhos de fax para conseguir mandar uma mensagem para o programa, depois veio o telefone, o email e agora as redes sociais que bombam com mensagens de telespectadores de outros países”, ressaltou Bruno, que conhece bem o público fiel do Sem Censura e consegue até citar o nome desses que não perdem nem um dia.

(Crédito: Divulgação)

Responsável pela interação com as pessoas que acompanham o programa, Bruno foi surpreendido mais uma vez quando precisou sair do estúdio da TV Brasil para ficar perto do público nas ruas do Rio de Janeiro. No roteiro da tradicional roda de conversa da emissora, os apresentadores nunca atravessaram as fronteiras das salas de gravação da sede na Lapa. Bruno Barros atravessou e isso ocorreu no dia do incêndio do Museu Nacional em setembro deste ano. O programa do dia 02 de setembro foi totalmente alterado por conta do imprevisto e Bruno junto de um cinegrafista foram cobrir a tragédia. “Não conseguíamos trazer para o programa o porta-voz, o diretor do museu, o Ministro da cultura. As pessoas estavam lá, mas não poderiam vir até o programa. Me pediram para ir para o museu para fazer uma ancoragem do programa de lá e a Vera ficaria no estúdio com alguns convidados. Depois disso, acendeu uma luz no pessoal da TV que o programa poderia ter externas”, afirmou Bruno que acrescentou ter ficado muito nervoso durante essa cobertura: “Não sou formado em jornalismo e quando cheguei lá vi os jornalistas mais incríveis do Brasil com 30 anos de carreira e eu um garoto tive que assumir aquela responsabilidade”.

Ir para a rua cobrir os fatos tem sido cada vez mais constante no programa e Bruno admitiu estar adorando essa nova experiência. Desde setembro, o apresentador foi a exposições no CCBB, fez uma matéria no dia do Black Friday brasileiro no mercadão de Madureira e hoje ele irá até a praia de Copacabana para acompanhar ao vivo os bastidores da montagem do palco para o Réveillon de 2019. Este será apenas mais um momento especial para a coleção de Bruno desde que integra a equipe de apresentadores do canal. Ele relembrou quando esteve frente a frente com a cantora Daniela Mercury de quem é fã: “Ficar tranquilo ao lado de um ídolo é muito complicado, porque a gente fica bobo. Eu fiquei bobo quando a Daniella veio aqui e eu tive a oportunidade de fazer perguntas sobre a carreira dela ao vivo. Foi demais”.

Vera Barroso e Bruno Barros nos bastidores do programa Sem Censura do Natal deste ano (Crédito: Divulgação)

Tantas pessoas sentaram nos sofás do programa, muitas historias passaram por lá e Bruno Barros têm consciência da importância do programa para a história da comunicação do país e do privilégio de poder fazer parte dela há alguns anos: “É um programa que recebe todo tipo de gente e de diversas profissões. Para mim é uma honra muito grande, eu sou muito feliz com a oportunidade que a TV Brasil me deu”.