Bruna Mascarenhas, a Rita, de “Sintonia”, fala sobre feminismo: “Aprendi a ter mais empatia”


No dia da entrevista com a protagonista da série da Netflix, seu Instagram tinha acabado de bater o impressionante número de um milhão de seguidores – isso com um mês de série no ar. “É engraçado, minha dinda me mandou hoje isso. Mas pra que serve?”, questiona. “É um universo muito novo para mim. ‘Sintonia’ tem um mês e nesse tempo eu tenho esse número enorme de pessoas me acompanhando, sendo que eu tinha três mil seguidores. Ainda estou me entendendo nisso. É legal porque as pessoas começaram a me seguir pelo meu trabalho, então isso é o meu maior feedback”, frisa

Bruna Mascarenhas (Foto: Thiago de Lucena)

*Por Karina Kuperman

Bruna Mascarenhas viu a vida girar 360 graus após sua estreia na aclamada “Sintonia”, série da Netflix que se passa na periferia paulistana. Um dos nomes mais importantes e influentes da cena funk, o produtor KondZilla é um dos criadores e divide a direção dos seis episódios da trama com Johnny Araújo. Na história, Bruna, Jottapê e Christian Malheiros formam o trio de amigos de infância Rita, Doni e Nando. Enquanto Rita é solta na vida e encontra a tábua de salvação em uma igreja evangélica, Doni dribla o pai comerciante para fazer carreira como MC e Nando, casado e pai de um bebê, começa sua ascensão no mundo do tráfico. “Sempre falamos da comunidade e da quebrada do Rio de Janeiro, então, internacionalmente, é só essa que é vista. E ela é muito diferente da de São Paulo. A representatividade é muito importante. Em ‘Sintonia’ a gente não levanta bandeira. Nem de mulher, de tráfico, de igreja… não falamos de certo ou errado, bom o mau. Só mostramos a realidade, a polícia, a milícia. É importante a Netflix, que é uma plataforma mundial, nos dar esse espaço”, reflete Bruna.

Bruna vive Rita em “Sintonia”, da Netflix (Foto: Reprodução/Netflix)

No dia da entrevista, seu Instagram tinha acabado de bater o impressionante número de um milhão de seguidores – isso com um mês de série no ar. “É engraçado, minha dinda me mandou hoje isso. Mas pra que serve?”, questiona. “É um universo muito novo para mim. ‘Sintonia’ tem um mês e nesse tempo eu tenho esse número enorme de pessoas me acompanhando, sendo que eu tinha três mil seguidores. Ainda estou me entendendo nisso. É legal porque as pessoas começaram a me seguir pelo meu trabalho, então isso é o meu maior feedback, gente me desejando coisas maravilhosas, querendo conhecer mais de mim. Não considero um milhão de seguidores, mas de pessoas que curtem o que eu faço e querem acompanhar. Outro dia uma menina dividiu comigo em uma carta que ela havia acabado de perder um primo e que as coisas que eu posto estavam fazendo muito bem para ela. É louco ver que eu realmente posso influenciar a vida de alguém. Ainda é bem novo, mas tenho cada vez mais consciência de com quem eu estou falando”.

Elenco de Sintonia (Foto: Reprodução/Netflix)

Com tanta novidade, o maior desafio foi, de fato, estrear no audiovisual em um trabalho tão marcante. Principalmente para a carioca que teve que mudar todo o sotaque no prazo de duas semanas. “Foi tudo de repente. Eu morava em Niterói e em julho mudei pra São Paulo. Resolvi vir pra cá porque é uma cidade que tem mais oportunidade em todas as profissões. Comecei a trabalhar em restaurante e um amigo meu tinha uma agente e me indicou para “Sintonia”. E eu era super o perfil da personagem, foi o teste mais confiante que eu já fiz na vida. O Johnny, diretor, entrou no projeto no mesmo dia que eu e disse que quando me viu, já sabia que eu era a Rita. Na mesma semana pedi demissão e assim foi. Daí durante o processo eu foquei ali, não no que iam falar, então isso me deu confiança. Vi que sou capaz de fazer um trabalho legal, com o sotaque, tudo”, conta. Antes da série ir ao ar, porém, Bruna confessa: ficou insegura. “Mesmo depois de ter feito, antes da pré-estreia eu ainda estava bem nervosa. Eu sabia que tinha que ir muito bem, era meu primeiro trabalho, eu não tinha uma imagem pré-estabelecida e já entrei com o desafio do sotaque. Se eu não tivesse feito um bom sotaque paulista, sabia que iam criticar, comentar, mesmo que o trabalho tivesse sido bom, a crítica sempre é mais evidente. Botei bastante pressão”, confessa.

Bruna viu seu Instagram passar de três mil para um milhão de seguidores em menos de um mês (Foto: Thiago de Lucena)

Em comum com a Rita, Bruna tem a determinação. “Temos muitas coisas diferentes, como a família, por exemplo. A minha é estruturada, e ela teve que lutar para viver, se não trabalhasse não colocava comida em casa. Mas eu sempre fui muito independente. Mesmo morando com meus pais, queria ter meu dinheiro, pagar as minhas contas, cursos, roupas, viagens. Esse lugar da independência é em comum com ela. A Rita pode não saber o que quer, mas ela sabe o que não quer e isso é a mola propulsora dela. Quando eu vim para São Paulo estava muito focada, ela também é focada, pega energias, força, fé nela e em Deus, e corre atrás”, diz.

O feminismo também é algo em comum entre a personagem e sua intérprete. Mas Bruna arrisca: “a Rita nem sabe o que é”. “Eu, sinceramente, acho que ela nem sabe o que é feminismo, porque na favela não chega a informação necessária com profundidade. Quando descobri o feminismo, tinha 17 para 18 anos e comecei a entender, pesquisar e me identificar. E eu fiquei muito radical uma época, não sabia falar, porque eu descobria as coisas, tantos anos de patriarcado, e só conseguia responder na agressividade. Estamos em desconstrução eterna. Hoje em dia tem um equilíbrio nisso. Vendo a Rita isso me veio a cabeça, ela precisou ser independente, precisa ser linha dura. Na quebrada, a mulher transa com o cara e todo mundo sabe. Ela tem uma energia muito forte, porque precisa impôr esse respeito”, analisa.

Rita encontra na igreja sua salvação (Foto: Reprodução/Netflix)

“A série não levanta bandeira, mas mostra aquela mulher ali, que não sabe o que é feminismo, mas é feminista, está lutando”, explica. “O Nando, por exemplo, ama a Sheila, mas é muito machista. Tanto é que ele diz ‘para de falar e vai cozinhar’, coisas assim.  Quando vi isso também mudei, comecei a ter mais empatia pelo universo alheio. A gente está dentro de uma bolha, aquele garoto tem 19 anos, já é pai, cresceu em um lugar onde ‘homem não chora’. Ele não sabe que é machista. Isso foi um aprendizado para mim, de empatia pelo outro”, confessa.

Bruna Mascarenhas, Jottapê e Christian Malheiros (Foto: Reprodução/Netflix)

E será que tamanho sucesso já garante segunda temporada? “Também não sei, mas estou muito curiosa. Pergunto, mas ninguém sabe. Eu acredito que deva ter. Espero, porque foi muito legal. Temos um público jovem mas está chegando para gente de todas as idades e classes”, diz ela, que, enquanto isso, continua fazendo testes. “Sigo esperando respostas, mas estou muito feliz com o que ‘Sintonia’ me trouxe e o reflexo que tem tido na minha carreira”. A gente segue, daqui, torcendo.