*Brunna Condini
Um dos nomes mais representativos de sua geração, Bruna Linzmeyer será homenageada na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que abre o calendário audiovisual de 2025, entre os dias 24 de janeiro e 1º de fevereiro, transformando a cidade histórica mineira na capital do cinema brasileiro. A atriz tem relevância, tanto na produção audiovisual, quanto no pensar cultura ativamente no país, e tem brilhado na Sétima Arte, como faz em ‘Baby‘, premiado longa-metragem dirigido por Marcelo Caetano, vencedor de Melhor Direção no Festival do Rio do ano passado, somando mais de 25 prêmios ao redor do mundo. Bruna interpreta Jana, uma manicure e dona de um salão de beleza no Centro de São Paulo. “É incrível como o Marcelo teve um olhar generoso para além do que as pessoas veem e me chamou para viver a personagem. Claro que tenho uma Jana dentro de mim. Se eu nunca tivesse saído de Corupá (SC), talvez fosse uma Jana hoje. E fui estudar a personagem, fui para campo, o que é muito importante”.
A personagem da atriz acolhe os protagonistas Baby (João Pedro Mariano) e Ronaldo (Ricardo Teodoro) na casa que vive com sua mulher, Priscila (Ana Flavia Cavalcanti), ex de Ronaldo e mãe do filho dele. É o retrato de uma das tantas famílias diversas contemporâneas, com destaque para a liberdade das configurações no universo LGBTQIAP+. A atriz celebra a oportunidade de representar um ‘lar sapatão’ no filme, que demorou sete anos para ser realizado. “Um dos motivos de ‘Baby‘ não ter sido feito antes, foi porque durante alguns anos paramos de ter políticas públicas para a cultura, paramos de ter dinheiro para fazer cinema. A maioria dos filmes no Brasil são feitos com dinheiro público e custam caro para acontecer. Além de envolver o trabalho de muita gente e gerar empregos”, diz, referindo-se ao período de gestão da presidência de Jair Bolsonaro.
“O setor da cultura envolve muitos trabalhadores, gera muita renda, e durante os últimos anos não tivemos a Agência Nacional de Cinema (Ancine), não tivemos editais públicos, então o nosso cinema ficou parado. Por isso o ‘Baby‘ teve tanta dificuldade em ser filmado. Mas eles conseguiram, com co-produções e fundos internacionais, porque no Brasil, infelizmente, não havia a estrutura necessária”, completa.
Precisamos pensar que a cultura deixa memória, pertencimento. O que estamos vivenciando com a Fernanda Torres e o filme ‘Ainda estou aqui’, é uma sensação de pertencer a esse Brasil. Ela é daqui, é nossa. Vimos Fernanda fazendo ‘Os Normais’, imagina! A gente ama a Fernanda – Bruna Linzmeyer
Bruna começou sua carreira aos 16 anos, quando se mudou para São Paulo para estudar teatro. Versátil e de uma entrega visceral às personagens, ela transita tanto pela TV – onde esteve por último em ‘Pantanal‘ (2022), na Globo; além de ter manifestado recentemente o desejo de retornar às novelas – quanto pelo cinema independente. No currículo, a atriz tem filmes como ‘O Grande Circo Místico‘ (2018) e ‘Medusa‘ (2023), são mais de 20 obras no cinema entre longas e curta-metragens, e buscando fazer um cinema provocativo, uma das funções da arte. A atriz fala em defesa da cultura do país:. “Os filmes têm esse poder de nos fazer pertencentes ao lugar de onde viemos. Como o futebol também tem. Só que tudo isso se constrói a longo prazo, com políticas públicas. Neste sentido, precisamos de governos e políticos que tenham a dimensão do poder que a cultura tem sobre um povo a longo prazo, na construção de um país. E também, saibam do dinheiro que é necessário para fazer cinema e como isso movimenta a economia, gerando empregos e renda”.
Sobre ‘Baby’
Sonhei muito que personagens como as de ‘Baby’ existissem, porque há 10 anos, não existiriam. Lá atrás, eu já era sapatão e sonhava em fazer filmes que retratassem a comunidade. Comentei isso com a minha médica de ayurveda e ela me conectou com outro cliente seu, que era o Éri Sarmet, diretor de ‘Uma Paciência Selvagem Me Trouxe Até Aqui’, em que fiz par romântico com a Zélia Duncan. Nos conectamos, viramos grandes parceiros de trabalho e fiz outros filmes com ele. Desejei que essas histórias existissem e têm existido –– Bruna Linzmeyer
E conclui: “Adorei uma review que alguém fez no Letterboxd (rede social para cinéfilos, em que postam suas opiniões), em que dizia que as gays podem ser tristes e felizes ao mesmo tempo. Acho que esse filme traz muita humanidade e muita complexidade para essas persoangens. Ninguém ali é bom ou mau, ou está só feliz ou só triste. Tem amor, afeto, mas tem também a dificuldade que é viver neste mundo capitalista que habitamos, de encontrar dinheiro para pagar as contas, encontrar amor, carinho. Eles estão nesta jornada. Tudo isso é muito humano e no fim das contas, a comunidade LGBT é uma comunidade de pessoas que enfrentam todas essas questões da vida, que são muito universais”.
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