*Por Brunna Condini
No ar como Kate, a filha ambiciosa e cheia de personalidade de Bruna (Carla Cristina Cardoso), melhor amiga da protagonista Sol (Sheron Menezzes) em ‘Vai na Fé‘, trama das 19h da Globo, Clara Moneke se diverte com a primeira personagem em novelas e comenta a conexão além do set com Carla Cristina. “Carla é minha vizinha, moro na Lapa e ela em Santa Teresa, aqui no Rio de Janeiro. Também somos do candomblé e temos o mesmo orixá, Ogum. E descobrimos que nossas mães morreram vítimas de um AVC. Costumamos voltar juntas das gravações, vamos às compras, estamos muito próximas mesmo. Criamos uma relação de amizade e companheirismo. Isso acaba aparecendo nas cenas da novela”, diz. Clara também vai estar nos cinemas este ano em ‘Nosso Sonho’, filme que vai contar a história da dupla Claudinho & Buchecha, sucesso do funk no Brasil, nos anos 90, além do longa ‘Eu Sou Maria‘, dirigido por Clara Linhart e com roteiro de Sônia Rodrigues.
Na vida, a atriz de 24 anos, nascida em São Paulo e cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, é filha de um nigeriano com uma brasileira. A mãe de Clara, Marilene Pereira Mariano, morreu há dois anos, aos 61, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Ela sempre vai ser minha maior referência de vida, posicionamento, inspiração. Era aparentemente saudável, mas historicamente minha família tem problemas de sangue, pressão alta e casos de AVC. Minha mãe sempre foi uma mulher batalhadora, era enfermeira, cuidadora de idosos. Bem reconhecida na sua profissão, mas é uma atividade muito cansativa. No passado foi também empregada doméstica, acho que sempre trabalhou muito e nunca olhou para sua própria saúde com muita atenção”, divide.
“Um dia passou mal, acabou internada durante uma semana e morreu por consequências do AVC. Eu fiquei muito triste, mas tive um luto muito consciente, se é que posso falar assim. Já tivemos quem passou por um AVC na família e depois ficou com sequelas sérias, muito doente. Meu avô, por exemplo. Viver é um aprendizado de aceitação disso. Sinto que de onde ela está, se sente feliz com o meu sucesso, com tudo o que está acontecendo”. E acrescenta: “Minha avó, Maria de Lourdes Pereira Mariano, também é alguém em que me inspiro, poetisa e estudou até a terceira série. Uma mulher incrível. Sempre tive em casa um posicionamento forte sobre tudo, letramento político e racial”.
Sobre o pai, o nigeriano Chiedu Moneke, que mora em São Paulo, ela conta: “Ele também é um amor da minha vida, somos muito unidos. Meus pais se separaram quando eu era pequena, mas ele sempre foi muito presente e coruja. Descobriu um problema nos rins há alguns anos, teve complicações, faz hemodiálise três vezes por semana, então sua vida tem girado em torno de se cuidar, mas é um homem feliz e forte, grato pela vida depois de tudo o que passou. Aprendo sempre com ele. Minha família é minha base potente”.
Carnaval
Embora o funk seja o ritmo preferido da sua personagem, na vida ela curte mesmo é um bom samba e está ansiosa pelo carnaval. “Curto o funk e hip hop, mas lá em casa sempre amamos samba. Meu tio foi da Velha Guarda do Império Serrano, escola afetiva minha. Sambo no pé, direitinho. Mas por incrível que pareça, nunca fui assistir ou desfilar na Sapucaí, morava longe. Esse carnaval vai ser a primeira vez que vou assistir os desfiles, e de camarote, cheguei bem (risos). Sempre fui do samba de quintal, de raiz. Quero desfilar no próximo carnaval, estou aceitando convites!”, avisa.
Chamado
Foi através da participação na série ‘Amar É Para Os Fortes‘, produção da Amazon, assinada por Marcelo D2 e Antônia Pellegrino, que Clara se reencontrou com a arte, que entrou em sua vida aos 7 anos quando começou a fazer teatro. “Sempre soube que teria que sustentar a minha arte para viver dela. Teria que ter uma segunda porta para seguir. Comecei a fazer teatro criança e tinha muita certeza do que desejava. Mas pensando em ter uma alternativa, fiz Enem para cursar Hotelaria e Turismo, sempre gostei de comunicação e do que envolvia essa área. Na faculdade, tive a oportunidade de trabalhar em uma empresa de energéticos famosa, foi lá que conheci o Marcelo D2. Eu lidava com o setor de cultura. Depois fui trabalhar em uma empresa de sandálias e o teatro foi ficando mais longe ainda. Minha mãe sempre me incentivou muito como atriz. Queria que eu voltasse para o meu caminho na arte e isso acabou acontecendo mesmo”, recorda Clara.
“Quando o D2 foi fazer o filme dele, me indicou para um papel. Me chamaram para um teste e até dei uma negativa de início, estava afastada da atuação. Às vezes nos privamos até do direito de sonhar, mas é importante não perder essa capacidade. Eu achava que à aquela altura sonhar com a profissão estava fora da minha realidade. Não acreditei que pudesse acontecer. Mas acabei topando e fui passando nas etapas até ser aprovada. Saí do emprego e me sustentei na arte. Não podia negar um chamado desses. Desde então, não parei”.
Amor e espiritualidade
“Me sinto à frente das pessoas da minha idade. Acho que muito porque sempre tivemos assuntos profundos em família. Minha mãe sempre foi muito questionadora sobre o mundo, militante e sempre tivemos muito afeto dentro de casa. Acho que a base dessa saúde mental, entendimento da vida que tenho, é mesmo a minha família. Mas a religião me ajudou muito, principalmente após a morte da minha mãe”, observa.
“Aprecio as religiões, a fé. Estar nesta novela mexe comigo também por isso. Fé para mim é tudo. Se vou à uma igreja em que me sinta bem, é lindo, é fé. Mas escolhi uma religião de matriz africana para me fortalecer, entender mais sobre mim, sobre a ancestralidade, a vida. Sou ekedi, não incorporo, mas cuido, tem a escuta. A religião tem me ensinado muito. Grande parte da minha família é evangélica, cristã. Eu procurei o candomblé quando a minha mãe partiu. Sempre tivemos as religiões de matriz africana lá em casa como resistência cultural. Tínhamos imagens de orixás representando esse culto da ancestralidade, nosso elo com a essência. Mas com a minha família nunca frequentei terreiros. Fui para o candomblé através de uma grande amiga da minha que também é ekedi. Senti necessidade dessa conexão e tem me feito muito bem”.
Artigos relacionados