Brilhando com primeira vilã em ‘Todas as Flores’, Regina Casé revela que quase não pôde fazer a novela do Globoplay

*Por Brunna Condini

Ao celebrar o sucesso de ‘Todas as Flores‘, novela original Globoplay do autor João Emanuel Carneiro, a atriz Regina Casé, intérprete de Zoé, personagem complexa, com um quê de vilania e sem muitos escrúpulos, mãe de Maíra (Sophie Charlotte) e Vanessa (Leticia Colin), comenta que não estava em seus planos emendar duas novelas – o último folhetim que a atriz fez foi ‘Amor de Mãe‘ (2019-2021). “Olha, não queria mesmo fazer outra novela seguida. Mas vou contar por que topei. Sabe aquela primeira cena em ‘Amor de Mãe‘ em que fazia uma entrevista de emprego? O João Emanuel me ligou logo depois e disse: “Como você volta a fazer novela e não é uma minha? (risos). Tenho uma personagem muito boa para você na minha próxima trama e, agora, não vai poder fazer, porque vão ser coladas”. Só que muitas coisas aconteceram depois, inclusive uma pandemia, então estava escrito: era destino e deu certo. Eu sempre quis trabalhar com ele”, conta.

Têm muitas mulheres como a Zoe, mas ela é distante de mim. Não tenho 500ml de silicone, meu peito é vintage (risos) – Regina Casé, atriz

A atriz fez questão de falar do momento que vivemos, às vésperas das eleições presidenciais no segundo turno. “Estou apavorada, nervosa, ansiosa, acordando de noite, acho que como todos os brasileiros. Acredito que temos que manter a democracia antes de tudo. Não estão em jogo os candidatos, mas a democracia. É importante lembrar disso. Então, dá muita ansiedade, estou subindo pelas paredes”, dividiu, sobre esse período ‘puxado’ que vivemos no país. Ao contrário de alguns colegas que preferiram não se manifestar politicamente na festa ou se manifestaram nas entrelinhas (segundo comentários no local, por orientação da Globo), Regina frisou: “É um momento político decisivo, não está fácil”.

Regina Casé fala da volta às novelas e do momento político em evento de lançamento de ‘Todas as Flores’ (Divulgação/ Globo)

Ao ser perguntada sobre a referência de Lula em uma fala no debate do primeiro turno das eleições sobre o filme ‘Que Horas ela Volta?‘, de Anna Muylaert, que retrata a vida de uma empregada doméstica e de sua filha prestes a ingressar em uma universidade pública, Regina observou. “Ela é como muitas mulheres brasileiras que criam seus filhos sozinhas. Fiquei honrada com a citação, porque a história retrata muito bem um período nosso em que a classe trabalhadora pôde ser reconhecida, respeitada. O filme tem abrangência mundial. É sobre o que é mostrado ali que acredito: que a transformação se dá pela educação, no momento em que a filha da empregada pode competir na faculdade com a do patrão de igual para igual”.

Infelizmente acredito que existe gente genuinamente má. Mas acho que existem momentos na vida que a pessoa consegue fazer essa virada – Regina Casé, atriz

Regina Casé entre Leticia Colin e Sophie Charlotte em evento que celebrou o sucesso de “Todas as Flores’ (Divulgação/ Globo)

Vivendo sua primeira vilã e com visual totalmente diferente de suas últimas personagens que eram mulheres mais populares e básicas ao vestir, com Zoe, Regina surge ‘montada’ e isso inclui: lace loira, unhas grande de acrigel e muitos acessórios. “Têm muitas mulheres como a Zoe, mas ela é distante de mim. Não tenho 500ml de silicone, meu peito é vintage (risos). Essas unhas, por exemplo, no começo foram difíceis de lidar, mas agora já consigo fazer várias coisas. Só é complicado dar descarga, porque prende o dedo. Ou levo algo na bolsa para empurrar ou digo: “Gente, só deixei o xixi aqui por que a unha não deixou dar a descarga” (risos). Aí peço para quem veio depois. Ah, garrafa térmica também é difícil, aquela que tem bolinha, ando com adoçante para empurrar. Mas com o resto já peguei a manha”.

“Têm muitas mulheres como a Zoe, mas ela é distante de mim. Não tenho 500ml de silicone, meu peito é vintage (risos)” (Divulgação/ Globo)

Sobre as vilanias de Zoe, ela comenta. “Estou estranhando fazer uma mulher que eu não conheço, que não tenho intimidade com o mundo, mas por outro lado, como atriz, é um desafio muito legal. Me tira total da zona de conforto. Observo a Zoe quase antropologicamente, estou me aproximando para saber qual é a dela. Todas as personagens que interpretei antes, eram empáticas, do povo, em geral nordestinas, mulheres que lutavam pelo bem e eu me identificava. O universo da Zoe para mim é mais distante que a China. E é uma vilã, mas que vai se humanizando. Ela é bem vilã até o dia que conhece a Maíra, sua filha cega. É mais considerada vilã pelo o que fez no passado. Justamente a novela retrata essa transformação dela, o que é um desafio para ela e para mim. Vou me ‘desmontando'”.

E analisa: “Olha, infelizmente acredito que existe gente genuinamente má. Acho que existem momentos na vida que a pessoa consegue fazer essa virada, como talvez a minha personagem faça. Tenho a teoria do ‘ponteirinho’: ninguém é só bom e nem só mau. Agora, quando o ‘ponteirinho’ só trabalha para um lado, quebra e pode não voltar mais”.

Regina Casé fala da volta às novelas e do momento político em evento de lançamento de ‘Todas as Flores’

Os números oficiais do folhetim que estreou há uma semana ainda não foram liberados, mas a julgar pela repercussão nas redes sociais, e principalmente na que costuma ser um grande ‘termômetro’, o Twitter, ‘Todas as Flores‘ já é sucesso. A trama tem produção de novela do horário nobre com pegada de série em sua edição e em várias escolhas dramatúrgicas. Todas as semanas, às quartas-feiras, são disponibilizados cinco capítulos na plataforma para os assinantes. Nesta segunda-feira, na Tela Quente na Globo, o primeiro capítulo da trama foi disponibilizado para o grande público. “Lançamos a novela antes na Europa e Portugal, com cinemas lotados, foi interessante, ali comecei a me acalmar. Porque você vai gravando e não sabe se mandou bem ou mal. Mas em Portugal, parecia peça infantil (risos), eles interagiam muito. Aquela cena no primeiro capítulo que sento no Fabio Assunção, eles gritavam. Ali, eu vi que tínhamos na mão um novelão, que pegou de jeito”, diz.

O universo da Zoe para mim é mais distante que a China. Estranhei e o meu público também. E é uma vilã, mas que vai se humanizando – Regina Casé, atriz

Regina Casé no centro, rodeada por Sophie Charlotte, Mariana nunes que faz sua antagonista na trama, e Leticia Colin (Divulgação/ Globo)

Regina Casé entre Xandy de Pilares e Douglas Silva: colegas de elenco e amigos na vida (Divulgação/ Globo)