Big Brother Brasil 23 – Se queremos tanto amar, porque não aguentamos mais esta edição?


O jogo vem deixando a desejar no que diz respeito ao carisma e engajamento com as últimas dinâmicas. Depois de uma edição tão controversa e nada empolgante, o formato terá futuro? Quem nos ajuda a pensar é a psicóloga Maria Rafart, que acompanha de perto a atração e faz sua análise

*Por Brunna Condini

Já sabemos que brasileiros são fascinados por realities show, não é mesmo? Temos curiosidade sobre a vida alheia, gostamos de acompanhar as tramas da vida real como em uma novela, amamos adorar e odiar os jogadores, nossos personagens. Acompanhamos e participamos, jogando aqui fora, através das redes sociais, e esperamos ansiosamente que sejamos surpreendidos e entretidos. Mas se queremos tanto amar, porque não aguentamos mais esse BBB 23? A ‘trama’ desenvolvida pelos participantes não gerou identificação? Mas afinal, o que o o espectador deseja? “Os realities ditos ‘paz e amor’ hoje captam muito pouco o interesse do público, então a direção e a produção ficam criando manobras para esquentar e criar conflitos”, analisa a psicóloga Maria Rafart.

Alguns fatores foram determinantes para o marasmo que se estabeleceu no jogo e o desinteresse na torcida do público. Como por exemplo, quando há o medo do ‘cancelamento’, em especial pelos personagens ‘Camarote’, há pouco interesse em comprar os conflitos da casa. Há também o fator personalidade: pessoas menos conflituosas em suas vidas fora da casa, também o serão dentro”, completa, sobre o reality , cuja direção já lançou mão do ‘Paredão falso’, do ‘Quarto branco’ (carro), do Big Fone tocando algumas vezes, do ‘Paredão surpresa’, das ‘Semanas turbo’ (que de fato adicionaram emoção), e de ‘Jogos da Discórdia’ em sequência expondo os participantes a acusações e humilhações, com o objetivo de botar ‘lenha na fogueira’, o tal ‘fogo no parquinho’. Agora a direção do programa lança um recurso surpresa (ou desesperado?), para alavancar tanto a audiência, quanto o engajamento: a repescagem. Que tal?

Participantes eliminados disputam a preferência do público na dinâmica de repescagem do BBB23 (Divulgação/ Globo)

Participantes eliminados disputam a preferência do público na dinâmica de repescagem do BBB23 (Divulgação/ Globo) 

Por que está chato?

A psicóloga fala dos mecanismos das pessoas que entram no reality para competir, se divulgar, mas não se comprometem, e sobre como o medo de ser ‘cancelado’, julgado, impacta nessa vivência lá dentro, deixando ‘a desejar’ no entretenimento para quem assiste. “Confrontos dão audiência porque basicamente o público simboliza seus próprios conflitos e os elabora em um reality. Da mesma maneira que acontece com o cinema, livro, novela ou qualquer obra de ficção, nós trabalhamos dentro de nós os conflitos de forma simbólica quando os vemos fora de nós. Se para o público conflito é bom, para o participante que tem muito a perder, é ruim, mais ainda que hoje as redes sociais são implacáveis e o engajamento tanto pode ser ‘do bem’, como ‘do mal’, caso em que o temido ‘cancelamento’ pode prejudicar muito uma carreira que antes parecia sólida. Sair da ‘bolha’ de seguidores que te adoram para entrar na ‘bolha’ de haters é um passo perigoso”.

A repescagem

A dinâmica de trazer de volta participantes que já foram eliminados, divide opiniões. Injusto com quem está há mais de dois meses confinado? Desrespeitoso com o público que se dedicou para eliminar quem já saiu e pode voltar? Ou a imprevisibilidade é garantia de emoção neste jogo? A julgar pelo termômetro das redes sociais, os fãs do formato não parecem ter se empolgado com a proposta. Na verdade, parecem não conseguir embarcar nessa edição. Tirando os conflitos e acerto de contas que já rolaram na ‘Casa do Reencontro’, onde Marília, Gabriel Fop, tina, Paula, Cristina, Gustavo, Fred Nicácio, Key Alves e Larissa aguardavam a decisão do público, tudo anda bem chato pelos lados do reality.

Essa repescagem soa como ‘injustiça’ para quem continua confinado esse tempo todo. Mas talvez seja esse mesmo o objetivo. A direção aposta nos conflitos que esta sensação de injustiça pode causar – Maria Rafart, psicóloga

Key Alves e Tina discutem na Casa do Reencontro no BBB23 (Reprodução/ Instagram)

Key Alves e Tina discutem na Casa do Reencontro no BBB23 (Reprodução/ Instagram)

O retorno dos eliminados tem mexido com os confinados, que descobriram sobre a dinâmica na quarta-feira (22). Alguns, como Ricardo Alface, chegaram a brincar que poderiam até apertar o botão da desistência caso alguém voltasse. Com nove participantes, a atração fez a ‘manobra’ de repescagem para ganhar fôlego e não ter que acabar antes do previsto, já que MC Guimê e Antonio Cara de Sapato foram eliminados após o episódio de assédio com Dania Mendez. Bruna Griphao e Amanda não esconderam suas opiniões sobre a polêmica repescagem que tenta ‘salvar’ o reality de um desfecho ainda mais sem graça: “Ficou três semanas longe do game e agora vai voltar? Não, não”, disse Amanda. “Injusto! A gente tá aqui só tomando no c#”, desabafou Bruna.

Apesar das críticas, não é a primeira vez que eliminados voltam para o jogo na história do Big Brother Brasil. Já aconteceu no BBB7 e no BBB11. De acordo com o planejado, o programa tem sua final no dia 25 de abril, e até lá, o público aguarda desdobramentos mais emocionantes. Fato é, que hoje não existe um favorito ou favorita ainda para levar o prêmio que já passa de R$ 2 milhões. Mas e sobre o futuro, o formato se esgotou?

O elenco do BBB23 se prepara para receber de volta dois participantes através de repescagem (Divulgação/ Globo)

O elenco do BBB23 se prepara para receber de volta dois participantes através de repescagem (Divulgação/ Globo)

“Os realities sempre serão interessantes, porque as pessoas buscam saber da vida do outro desde sempre, e não importa o formato, haverá adesão e audiência. Os realities são shows em que as discussões e as desavenças esquentam, que quer ver os conflitos e pretendem torcer pelos participantes, como times num campeonato.

A regra é não ter regra: não é mais um jogo com regras preestabelecidas, e sim, algo que pode captar audiência conforme for mais cheio de conflitos. Comparando com o jogo de xadrez, é como se de uma hora para outra, no meio de uma partida, o Kasparov pudesse movimentar a torre com o tipo de movimento específico do bispo”, conclui a psicóloga.