Bianca Rinaldi aborda maturidade e família em podcast, doc sobre paquitas e relação de Marlene Mattos com elas


Quando Bianca Rinaldi surgiu no cenário artístico ela ainda era uma adolescente. Paquita, realizou para si o sonho de muitas meninas da sua idade que sonhavam estar ao lado da Xuxa. Ela estará no documentário “Para Sempre Tão Bom – Paquitas”, sobre as assistentes de palco. “Marlene Mattos também fez parte da nossa vida e era uma relação difícil de lidar e até sobre falar, mas o que a Xuxa viveu com a Marlene a gente não viveu. Claro que estávamos no mesmo barco, mas não era a mesma coisa”, diz. Atriz, com inúmeros sucessos – atualmente tem personagem de destaque em “A Infância de Romeu e Julieta”, ela relembra a polêmica de ter vivido “A Escrava Isaura” sendo loura; fala sobre o podcast que está elaborando, assim como debate a questão da maturidade às mulheres e os seus conflitos com o envelhecimento: “Não estou preparada para deixar meus cabelos brancos crescerem”

*por Vítor Antunes

Há vários anos, Bianca Rinaldi está presente na tela da TV. Inicialmente como uma das paquitas, a Xiquita Bibi do “Xou da Xuxa“, entre 1990 e 1995. Depois, ela investiu na carreira artística como atriz. Nesta função despontou com protagonismo em várias novelas do SBT até dar vida a uma das personagens mais clássicas da literatura, e da teledramaturgia nacional, “A Escrava Isaura“, em 2004, que solidificou seu nome entre as atrizes brasileiras. A novela fez, e ainda faz, muito sucesso, sendo uma das mais vendidas da Record. Vinte anos depois de Isaura e aos 49 anos, Bianca está fazendo a novela “A Infância de Romeu e Julieta“, no SBT, estará no documentário “Para Sempre Tão Bom – Paquitas”, sobre as assistentes de palco de Xuxa e quer se lançar numa nova plataforma: a de comunicadora. Para o início do ano que vem, ela produzirá um podcast para discutir não apenas questões familiares – pois que tem filhas de 14 anos e é casada com um homem mais maduro, o empresário Eduardo Menga, que possui 22 anos a mais que ela. Bianca também quer discutir o próprio amadurecimento: “Chegar aos 50 anos é difícil. Não é fácil envelhecer. Eu vejo muita gente falando que é lindo, maravilhoso, que basta deixar os cabelos brancos crescerem… Não! Não estou preparada para isso. Sempre fui muito ativa fisicamente e a TV sempre mexeu com a beleza. A mulher sempre foi muito cobrada. Ainda bem que a maturidade vem aos poucos, para irmos nos acostumando e nos entendendo e adaptando”.

Por mais que esteja no SBT e no streaming vinculado àquela casa, que exibe os capítulos de “Romeu & Julieta“, em breve Bianca poderá ser vista no documentário “Para Sempre Tão Bom – Paquitas” . Sobre este projeto, ela se diz “ansiosa sobre o processo. Por enquanto fomos apenas comunicadas e contatadas ainda neste mês. Mas há um grande retorno do público. As pessoas estão muito felizes com a possibilidade desse documentário”. Sobre a relação das meninas com a Marlene Mattos – que foi um dos tópicos mais importantes do documentário sobre Xuxa, Bianca diz não ter muito contato com a ex-empresária da Rainha dos Baixinhos. “Falei com ela pontualmente. Marlene é um exemplo do que se tem aí. Ela foi apontada, mostrada, mas no Brasil há muitos executivos, menegers, que adotam esse mesmo comportamento”.

Xuxa foi muito corajosa. Não teve vaidade, orgulho, em se expor. Ela é uma vitoriosa. Marlene Mattos também fez parte da nossa vida e era uma relação difícil de lidar e até sobre falar, mas o que a Xuxa viveu com a Marlene a gente não viveu. Claro que estávamos no mesmo barco, mas não era a mesma coisa. Creio que nenhuma de nós viveu o que Xuxa experienciou, ainda que não tenhamos sido poupadas – Bianca Rinaldi

Discussão atualmente em voga, a “transformação” de influencers em atores já teve outros personagens: as modelos, e… as paquitas. Bianca Rinaldi, assim como Letícia Spiller, Bárbara Borges e Juliana Baroni, por exemplo, foram paquitas e migraram para a arte dramática. Bianca diz ter sido alvo de preconceito, mas que, contemporâneamente, não vê um problema em “influencers serem atores. Mas creio que devam se preparar. Ser jogado a fazer um papel importante de novela e sem ter preparo é uma coisa que eu não faria. Eu me prepararia para isso. Trata-se de algo muito delicado, que mexe com sentimentos das pessoas e suas emoções”.

Não só fui criticada por ser paquita, mas por fazer “A Escrava Isaura” sendo loura, por me compararem à Lucélia Santos – protagonista da primeira versão da novela, “Escrava Isaura” (1976). Muitas coisas me abalaram no começo da novela e o Herval Rossano (1935-2007) me disse para eu ler menos jornal e revista. E a novela é um sucesso até hoje  – Bianca Rinaldi

Bianca Rinaldi volta à TV em novela infantojuvenil e lança-se como comunicadora (Foto: Divulgação)

CAMINHOS DO/NO CORAÇÃO

A inevitável referência se faz por conta da novela “Caminhos do Coração“, da qual Bianca foi protagonista, em 2007. Não se pode dizer que a artista não seguiu os caminhos do seu coração. Muito próxima dos 50 anos, ainda que esteja satisfeita com sua trajetória, não consegue olhar a meia idade de forma hiperglamourizada: “Não curto não. Acho que trata-se de algo bem profundo. Tenho duas filhas com 14 anos, já fiz muitas das coisas que gostaria de fazer, vivo um casamento perfeito, mas o numeral traz em si uma densidade. Questiono muito quais são os meus sonhos de hoje. Realizei muita coisa e me considero feliz, realizada, mas sem o frisson impetuoso da juventude. Isso não quer dizer que eu não queira realizar mais coisas. Pelo contrário. Não fiz streaming ainda, nem cinema, mas já me sinto feliz com muito do que tenho”, frisa.

Essa perspectiva de plenitude, porém, não se aplica às incoerências que compõem o mundo moderno, especialmente o presente na Internet. Com filhas adolescentes, Bianca achou que na Internet poderia haver também um celeiro de informação para a família. “Eu tinha que entender as minhas filhas e a fase que elas estão entrando, a da adolescência, é uma fase difícil, tanto para quem está passando como para os pais. Sentia falta de ter mais informação pelas redes, pela internet, no YouTube sobre trocar experiência com outras mães. Daí surge a ideia do podcast, que terá, além da minha presença, um acompanhamento profissional e um convidado que viveu uma adolescência diferente – como quem trabalhou nesta fase da vida”. Bianca nos diz que ainda não há um nome para o programa. Muitos fãs mandaram sugestões de nomes que já existem e os produtores estão pensando como batizar o projeto”.

Em razão da maternidade, a atriz acredita que deva haver uma maior mediação nos conteúdos liberados na Internet, como a regulamentação do uso da rede, não apenas aquele filtrado pelos pais. “Acho um perigo. Deveria haver um controle maior que não fosse apenas da família, mas isso a gente não tem e nem vai ter. Cabe a nós o máximo possível de controle de tempo de tela, sobre o que os adolescentes têm acesso. A privacidade deles deve ter limites, ainda que eu e minhas filhas tenhamos uma relação aberta”. Por estar desde cedo exposta na televisão, a atriz sempre conseguiu manter algum nível de discrição no que diz respeito à sua vida pessoal. “Acho que como eu venho de um início pautado no público infantil e infantojuvenil, sempre tive um cuidado com isso. E muito se deve à referência da Xuxa, que é muito ligada e respeitosa com os fãs”.

Nas redes sociais, o hate está aí e a critica também. Já sofri muito com elas mas hoje sou amadurecida e sei quem me ama, quem quer meu trabalho, quem conhece a minha história – Bianca Rinaldi

Bianca Rinaldi administra bem os haters na Internet e acredita ser importante que haja uma melhor regulamentação da Internet (Foto: Divulgação)

 

VIDA DE NEGRO (NEGRO?) É DIFÍCIL

As duas versões de “(A) Escrava Isaura” foram criticadas pela mesma razão, especialmente na contemporaneidade. Nas duas tramas, ainda que Isaura fosse apresentada no romance original, de Bernardo Guimarães, como uma mulher “tão branca quanto as teclas do piano”, a moça era filha de um homem branco com uma mulher escravizada e negra. Poderia ser menos alva. No caso de Bianca Rinaldi, as críticas de avolumaram em face da atriz ser loura. Por mais que houvessem pessoas brancas escravizadas, e há estudos que apontam, inclusive uma pequena comunidade de orientais em situação de cativos, hoje o movimento negro problematiza ambas as tramas, tanto a da Globo como a da Record.

Pesa contra elas também, até o tema principal do folhetim, “Retirantes”, que nomeia esta parte da reportagem: Afinal, era efetivamente dura a vida de uma escravizada branca, alfabetizada em ao menos dois idiomas e que vivia na casa junto aos senhores? Era difícil “a vida de negro” daquela branca? Voltando à intérprete, Bianca foi criticada por ser loura e viver esta personagem. Conta-nos, que não viu a primeira versão da novela e que “na primeira vez que eu me vi com o figurino, vi haver algo muito comportamental, um corpo diferente, assim como um trabalho de texto”. Nega porém ter havido uma aproximação entre ela e Lucélia. “Tentaram fazer um encontro entre nós, mas isso não aconteceu”. afirma.

“A Escrava Isaura” da Record. Sucesso em 2004 (Foto: Divulgação/Record)

A televisão de 2004 é muito diferente da atual. Em “A Infância de Romeu e Julieta“, Bianca vive Vera, mãe de Romeu (Miguel Ângelo), casada com Bernardo (Fábio Ventura), num relacionamento interracial. Algo um tanto incomum numa novela do SBT. Bianca diz “achar fantástico haver um protagonista preto, assim como lastimo que a teledramaturgia tenha demorado a colocar um personagem principal bem sucedido financeira e socialmente. Acho que isso deveria ter acontecido”, diz. As gravações da trama do SBT estão avançadíssimas e já terminam em março, já os capítulos seguirão sendo transmitidos. Inclusive, foi nas novelas do SBT, que tinham um teor infantojuvenil, que Bianca apareceu, como “Pícara Sonhadora” e “Pequena Travessa“. Talvez por ela própria ser a candura de menina que esqueceu de contar os anos do calendário.