Muitos jovens adultos da geração da década de 90 foram influenciados pelas novelas mexicanas exibidas pelo SBT. A emissora lucrou com os sucessos ‘A Usurpadora’ e ‘Maria do Bairro’. No gênero infantil, ‘Chiquititas’, ‘Carrossel’ e ‘Carinha de Anjo’ fizeram parte do imaginário de muitas crianças. Uma delas foi Bia Arantes, a atriz tem 24 anos e era fã da última novela citada. Realizando o seu sonho e o de muitas fanáticas da época, Bia está trabalhando na versão brasileira da novela como ninguém menos que a personagem principal, a noviça Cecília. “Quando recebi o convite do SBT para fazer a novela fiquei emocionada, porque faz parte da minha infância. Eu sentava na frente da televisão e esperava pela versão mexicana começar”, lembra a atriz. A trama se passa em um colégio dirigido por freiras onde Dulce Maria, uma menina de apenas 5 anos, interpretada por Lorena Queiroz, estuda e vive suas aventuras. Ela é órfã de mãe e vê em Cecília uma possível segunda mãe.
Por causa da novela ter sido inspirada em outra, a cobrança de uma releitura perfeita sempre está presente. Desde que foi escolhida, apesar da felicidade, Bia sentiu uma grande responsabilidade com este papel. “Rola uma cobrança muito grande desde o início quando a imprensa descobriu que eu faria este papel. Na vida real, sou totalmente diferente da Cecília, então, me questionavam se conseguiria passar a doçura dela, porque não sou assim. É um desafio diário me inibir de agir de algumas formas que são naturais para mim”, conta a atriz.
Bia afirma ser uma pessoa completamente diferente da noviça e, por isso, encarou a desconfiança do público. O grande desafio era criar uma personagem boa e sem malícia e, simultaneamente, cuidar para que não se tornasse uma pessoa boba. “Por exemplo, tive que manter o meu cabelo sem química, coisa que não acontecia desde os meus 16 anos. Mudei o meu olhar, a forma de posicionar os braços, a elevação da cabeça e o timbre da voz que ficou mais fina. Preciso transitar entre essas características sem deixar o personagem chato ou forçado. É muito difícil fazer a mocinha”, desabafa.
Trabalhar com o público infantil acaba sendo mais complicado, segundo a atriz. A carga horária dos pequenos é muito inferior ao dos adultos. O elenco mirim costuma chegar as duas da tarde, horas depois dos mais velhos. “As gravações mudam completamente. Os adultos recebem as horas normais e acho que nunca trabalhei tanto na vida quanto nesta novela. Fico no estúdio de segunda a sábado com raras folgas. Preciso me dedicar cem por cento. Fora isso, interiormente, precisei mudar a forma de agir no set. Sou uma pessoa muito brincalhona e precisei tomar cuidado com isso, pois poderia desconcentrar as crianças. Mas elas se comportam muito bem”, afirma. A faixa etária da galerinha gira em torno dos seis anos, uma idade complicada, segundo a atriz. A mesma sabe muito bem como é fazer parte do público infanto-juvenil já que trabalhou aos 17 anos em Malhação.
Não é apenas no estúdio de filmagens que a atriz passou a se resguardar mais. A forma que Bia se posiciona nas redes sociais e em entrevistas precisou ser mais policiado já que a mesma se tornou uma grande referência entre os pequenos. “Tento tomar cuidado com as fotos e informações que exponho na mídia porque posso influenciar as crianças, já que o acesso as mídias sociais é enorme. Quero instruir da melhor forma possível”, informa a atriz.
A preocupação da Bia é que as crianças façam uma ponte entre as atitudes dela com a irmã Cecília. Muitas vezes, os pequenos associam as fantasias da novela com a realidade e acreditam que a atriz e a personagem podem ser a mesma pessoa. Até agora, a artista conseguiu escapar do reconhecimento na rua pois não é reconhecida sem o hábito. “Muitas crianças não acreditam que eu sou a irmã Cecília porque não ando vestida de freira. Algumas me olham estranho sabendo que me conhecem de algum lugar, mas não conseguem me relacionar a personagem. Agora, a minha personagem vai sair do convento então acho que pode mudar esse cenário”, comenta.
No entanto, Bia já consegue sentir a influência que tem sobre seus fãs por causa das mensagens de amor e carinho que recebe. Uma paixão muito parecida de quando a mesma era pequena. “Recebo muitas cartas de crianças dizendo que faço parte da vida delas e que se inspiram em mim. Contam que querem ser atrizes também e se sentem estimuladas por eu ter vindo de uma cidade pequena porque o interior não oferece uma formação artística desde cedo como no Rio de Janeiro, por exemplo”, conta. Por causa dessa agitação de cidade grande, inclusive, a atriz acredita que deve continuar morando em São Paulo. “Me mudar foi difícil, não sabia nada, a cultura era muito diferente. Sinto saudades de ir de um lugar ao outro em cinco minutos e conhecer todo mundo da cidade. Mas estou gostando de São Paulo, é uma cidade que combina muito comigo e é perto da minha cidade em Minas. Não acho que volte a morar no interior por causa do meu ritmo de trabalho”, informou.
Ser de uma cidade pequena foi um dos motivos que aproximou Bia do ator Selton Mello. Ambos fazem parte da equipe do longa ‘O filme da minha vida’ que vai ao ar nas telonas dia 3 de agosto. Na ocasião, o artista dirige o filme que fala de um pai que abandona o filho ainda pequeno. “Selton é de uma cidade mineira vizinha a minha. Sempre fomos amigos e acho que ele é um dos artistas mais completos do país, escreve, dirige e atua muito bem. O trabalho dele tem muito profissionalismo e responsabilidade”, afirma.
Esse filme não é o único que a atriz lança este ano. O ‘Real – O Plano por Trás da História ’ já saiu de cartaz mas trouxe uma visão importante sobre uma época que definiu a economia do Brasil. “Um filme que fala somente sobre política é um gênero pouco desenvolvido no Brasil ainda. O elenco desse filme e a adaptação são maravilhosos. Ele incita o debate político para situações que acredito ser importante. Muitas pessoas falam que ele é direita e outras, de esquerda”, comenta a atriz.
Mesmo não apoiando nenhum viés político, Bia apoia a implantação do Plano Real. “Acho que o Plano Real foi muito correto, até certo ponto, por ter parado a inflação. Mas acho que, depois de um tempo implantado, merecia uma avaliação do mesmo para melhorar seus defeitos e potencializar as qualidades. O povo acabou se prejudicando com o desemprego”, acredita. Atualmente, o Brasil voltou a ter inflação, mesmo que esta não se compare com a passada. No entanto, a atriz acredita que a solução, agora, não deve ser a troca da moeda. “O país precisa de uma reforma econômica para entender a necessidade econômica, que visa muito interesses internacionais”, completa.
Bia tem muita experencia com a política já que estudou Ciências Políticas na UNIRIO e, por isso, foi convidada pelo diretor para participar do longa. Seus conhecimentos na área a ajudam a fundamentar um pensamento crítico consistente sobre o tema. “A política é vista como algo ruim do Brasil e isto é muito forte. Acho que tudo é cíclico, este período que estamos passando já ocorreu há alguns anos atrás. No sentido que o povo precisa ir às ruas mostrar o que quer. Para mudar o ciclo vicioso, seria necessária uma reforma política de base. Eu não idolatro nenhum político como as pessoas fazem. É prejudicial gostar de políticos como se idolatra o futebol. Além disso, a quantidade de mídia que existe deixa todos perdidos, sem saber qual caminho tomar. Poucos são fontes confiáveis”, critica.
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