*Por Brunna Condini
No elenco de ‘Lov3‘, nova série da Amazon Prime, uma comédia que explora os conceitos de amor, sexo e relacionamento através da história de três irmãos para quem o modelo de casamento dos pais já não serve mais, Bella Camero, se prepara para abordar na trama assuntos como poliamor, trisal, relações abertas e questões de gênero. Para ela, filha da também atriz Dida Camero – no ar na reprise de ‘Verdades Secretas‘ e se preparando para estrear a continuação da produção este mês – o tema sexualidade e nudez, por exemplo, nunca foram tabus em casa. “São assuntos existiam com leveza e era conversados abertamente. E no nosso círculo as orientações sexuais de cada não eram tão recriminadas. Isso, sem dúvida, foi fundamental para a minha autonomia afetiva-sexual”, conta Bella. “Eu demorei para entender porque um corpo nu poderia ofender, mas tenho aprendido também a não precisar tanto gritar minha liberdade por aí. Ter essa autonomia já é uma revolução”.
Em entrevista ao site, a atriz de 29 anos fala com a liberdade de quem respeita a própria natureza, de temas como sexualidade e amor, profissão e os papéis potentes que vem por aí no cinema. Uma das protagonistas de ‘Lov3‘, ela conta se já viveu alguma relação poli, um amor à três ou uma relação com mais de uma pessoa. “Ainda não tive essa sorte (risos)”. E revela: “Estou solteira. Vivendo uma relação como nunca com a minha casa, meus livros e meus gatos”.
No elenco do aguardado ‘Marighella‘, filme de Wagner Moura com estreia prevista para dia 04 de novembro, longa inspirado na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães, que foca nos últimos cinco anos de vida de Carlos Marighella (1911-1969), escritor, político e guerrilheiro, de 1964 até sua violenta morte em uma emboscada em 1969. “Ser dirigida pelo Wagner foi um deleite. Além de ser um cara muito massa e doce, ele troca e escuta bastante. A minha personagem é uma estudante de classe média que entra para a guerrilha urbana no grupo do Marighella e começa abdicar de muita coisa pra seguir na luta pelo que acredita. Me identifico muito com a inconformidade de quem escolhe a militância. Não tem como não se alterar e se inflamar com tanta devassidão e injustiça que tem no mundo”, diz.
E comenta sobre a fala de Moura de que o filme, que foi planejado para novembro de 2019, mas, segundo ele, foi alvo de censura do governo Bolsonaro, o que atrasou a estreia. “Foi um censura por outras vias. Vias burocráticas. Parece que sendo artista você se torna automaticamente uma ameaça. Uma doideira. É um filme sobre um brasileiro que foi importante, independente do que cada um vai pensar a respeito dele, temos que ter memória, conhecer mais da história de onde vivemos”, opina.
Criada pela mãe entre coxias e plateias, ela fala da influência de Dida na profissão: “Minha mãe me levava para ensaios e peças desde a barriga. Então cresci no teatro. E não tem como não se apaixonar pelo teatro e por tudo que acontece antes de acontecer um espetáculo! Minha mãe achava a coisa mais linda eu ser uma nerd que amava Física e Biologia, mas não tive como fugir. E eu sempre fui muito fã dela, acho uma atriz maravilhosa”.
Liberdade e indentidade
A atriz volta e meia posta fotos de nú no Instagram e já foi censurada. O mundo voltou a encaretar? “Não diria que o mundo voltou a encaretar, até porque ele sempre foi opressor, principalmente com corpos não brancos, não cisgêneros, corpos com deficiência. Mas acho que com a internet e com grupos conservadores no poder , os ‘caretas’ têm encontrado aprovação, permissividade”.
Como é viver dentro de um ofício, que dependendo do veículo e tipo de trabalho, ainda busca muito nas atrizes um padrão estético? “É uma loucura uma profissão em que é o seu corpo que fica ali disponível. Acabamos arcando em dobro em como o outro vai te olhar. Eu, infelizmente, já perdi o sono muitas vezes querendo reproduzir identidades ao invés de investigar a minha própria. Mas aí eu olho para quem me inspira e me lembro do caminho que eu acredito”.
Vinda de uma geração que tirou ‘fantasmas’, abusos e assédios do armário, ela avalia. “Acho que muita coisa ainda precisa ser trazida à luz, e mais do que vir a tona, ser estruturalmente encarada e transformada. O apagamento dos povos originários é uma coisa que devíamos estar lutando urgentemente contra”. E apesar de amar sua profissão, Bella não acredita que ‘vale tudo’ para estar em cena: “Não faria nenhum projeto que exaltasse um discurso que fere minhas ideologias”.
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