Belize Pombal desponta em série e novela da Globo, diz que pensou em desistir e celebra filme ao lado de Amaury Lorenzo


Atriz chama a atenção por suas performances em ‘Renascer’ e ‘Justiça 2’. No elenco do terceiro filme produzido pelos Estúdios Globo, ‘Vítimas do Dia’, ao lado de Jéssica Ellen e Amaury Lorenzo, Belize fala da sua trajetória e do amor ao ofício, vital para ela, e que não a deixou sair do caminho que a trouxe até aqui. “Fui entendendo que a vida tem seus contornos, momentos, e mesmo que em alguns, eu estivesse afastada do meu fazer, isso não seria uma desistência. Apesar dos períodos difíceis e da falta de estabilidade na carreira, eu seguiria, porque é parte de quem sou. Não sei se a dificuldade para viver como artista é uma especificidade da profissão, ou se é como a gente como sociedade lida e entende a importância da arte, da cultura, da educação, do fazer artístico. Talvez esteja mais ligado a isso”

*Por Brunna Condini

Lançada no mês passado como a principal aposta do Globoplay, ‘Justiça 2‘ vem fazendo jus às expectativas criadas. A série de Manuela Dias já se tornou a produção mais assistida da plataforma. O drama ambientando no Distrito Federal (Ceilândia e Brasília), que acompanha a vida de quatro personagens presos no mesmo dia, e após sete anos, já em liberdade, precisam lidar com as consequências de suas prisões, traz Belize Pombal em performance arrebatadora. A atriz deu vida à uma das protagonistas da produção, a manicure Geíza, moradora de Ceilândia, mãe solo e batalhadora de uma filha esforçada, que buscando o mínimo de dignidade para viver, acaba se envolvendo no assassinato de um jovem traficante. “Nesta série pude descobrir camadas da personagem ao longo do processo e tive um período de preparação intenso e importante. A TV tem muita força na nossa cultura, no país. Um trabalho dramatúrgico na história da televisão, do teatro e do cinema, pode, sim, movimentar nossa sociedade em um processo reflexivo, como já vimos acontecer na resposta do público a diferentes realizações audiovisuais”.

E acrescenta: “A personagem mexeu muito comigo. Ela mostra a realidade de muitos brasileiros, e que, apesar das dificuldades, somos um povo movido pelo amor. Quando penso na profissão, me encontro com essa personagem no amor também, porque apesar de tantos desafios, é o amor pelo que faço que me move. O amor é uma necessidade vital, combustível. Sem ele gente não sobrevive”. Embora tenha gravado a série do Globoplay antes, foi a participação em ‘Renascer‘ que a colocou diante do grande público, quando interpretou outra brava matriarca, Quitéria, mãe de Maria Santa (Duda Santos), uma mulher oprimida pela violência doméstica do marido, Venâncio (Fábio Lago). “Não sou mãe, mas estava tudo no texto para vivê-las, tanto na série, quanto na novela. Ali essas personagens surgiram. Além de serem figuras que estão no nosso imaginário familiar, nas mulheres no país”, observa a atriz, que já tem novo trabalho nos Estúdios Globo, o longa ‘Vítimas do Dia‘, ao lado de Jéssica Ellen e Amaury Lorenzo.

Belize Pombal desponta em série e novela, diz porque quase desistiu de ser atriz, e filma ao lado de Amaury Lorenzo longa também para a Globo (Foto: Catarina Ribeiro)

Belize Pombal diz que quase desistiu de ser atriz (Foto: Catarina Ribeiro)

E pensar que a atriz de 38 anos já pensou em abandonar a profissão:

Ao longo da minha carreira me questionei em vários momentos se deveria seguir ou não. Até aceitar que ser artista era algo muito importante para mim, essencialmente. Então desisti de desistir – Belize Pombal

Formada pela Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo (EAD-USP), Belize conta que sempre foi uma criança que gostava de ver novelas, inclusive acompanhou a primeira versão de ‘Renascer‘, em 1993. “Desejei fazer o que faço desde pequena, tinha uns 7 anos, acho. Não falava muito disso em casa, e, quando falava, a recepção não era muito boa. Mas, aos 20 anos fui fazer vestibular para estudar o ofício”, lembra ela, que também fez parte da companhia ‘Os Crespos’, com a qual participou de performances, intervenções artísticas em espaços públicos e também concebeu a ideia original e as composições musicais do projeto teatral infanto-juvenil ‘Os Coloridos’. 

Belize Pombal contracena com Fabio Lago e Juliana Paes em 'Renascer' (Divulgação/Globo)

Belize Pombal contracena com Fabio Lago e Juliana Paes em ‘Renascer’ (Divulgação/Globo)

Nascida em São Paulo, a atriz passou parte considerável da infância e adolescência na Zona Norte paulistana. Há poucos anos, mudou-se para o Canadá para fazer um intercâmbio, em meio à pandemia de Covid-19, mas abriu mão para retornar ao Brasil após passar em um teste para ‘Justiça 2‘. Apesar de toda dedicação e sonhos envolvendo a trajetória profissional, Belize diz que o caminho também foi tortuoso muitas vezes. “Fui entendendo que a vida tem seus contornos, momentos, e mesmo que em alguns, eu estivesse afastada do meu fazer, isso não seria uma desistência. Apesar dos períodos difíceis e da falta de estabilidade na carreira, eu seguiria, porque é parte de quem sou. Não sei se a dificuldade para viver como artista é uma especificidade da profissão, ou se é como a gente como sociedade lida e entende a importância da arte, da cultura, da educação, do fazer artístico. Talvez esteja mais ligado a isso”, reflete.

Ao lado de Murilo Benício, Nanda Costa e Juan Paiva em 'Justiça 2' (Divulgação/Globo)

Ao lado de Murilo Benício, Nanda Costa e Juan Paiva em ‘Justiça 2’ (Divulgação/Globo)

Nos momentos em que pensei em desistir tinha a ver com a instabilidade, e com não ver tantas pessoas negras no teatro, no cinema, na TV. Apesar de termos muitos artistas que foram bravos, resilientes, há décadas atrás. E sou grata por isso. Mas não existia tanta representatividade, e isso também contava para fortalecer a ideia de que talvez não fosse possível viver sendo artista – Belize Pombal

Reafirmando a importância do ofício em sua vida, ela pontua ainda: “Hoje temos um número maior de artistas diversos trabalhando, mas isso não significa que está tudo resolvido. Não está. Estamos em processo, inclusive em relação a esse novo olhar e a essa nova vida com o fazer artístico. O entendimento da relevância disso para que a gente avance e melhore como sociedade. Estamos no caminho, mas ainda falta muito para termos mais respeito pela diversidade humana, por exemplo. Faz parte da história que ela se movimente através de nós, ainda que a gente não perceba. As coisas estão se transformando, estamos amadurecendo como sociedade, mas é inegável que falta muito para chegarmos perto de algo que de fato contemple a dignidade humana para um número considerável de pessoas”.

"Fui entendendo que a vida tem seus contornos, momentos, e mesmo que em alguns, eu estivesse afastada do meu fazer, isso não seria uma desistência" (Foto: Catarina Ribeiro)

“Fui entendendo que a vida tem seus contornos, momentos, e mesmo que em alguns, eu estivesse afastada do meu fazer, isso não seria uma desistência” (Foto: Catarina Ribeiro)

Belize olha hoje para as oportunidades que chega, entendendo que de alguma forma, surgiram no tempo certo. “Acredito na sabedoria da vida para o que chega. Desejar ser artista no Brasil é um grande desafio. Sendo uma mulher negra, mais ainda. Nasci e cresci na periferia, fui tendo que lidar com experiências diversas, que não necessariamente me diziam que eu conseguiria ser uma artista e viver disso. A educação foi um ponto fundamental na minha vida. Minha avó, Lurdes, não teve acesso à uma educação formal,  mas nutriu muito esse valor na família. Isso foi crucial para mim. Depois, a escola de arte dramática me desenvolveu, me fez crescer. Ganhei fundamento e fui me percebendo mais artisticamente. Então, desejo mais oportunidades para todos nós artistas, aliás, para os cidadãos do nosso país”.

"É o amor pelo que faço que me move. O amor é uma necessidade vital, combustível.  Sem ele gente não sobrevive" (Foto: Catarina Ribeiro)

“É o amor pelo que faço que me move. O amor é uma necessidade vital, combustível.  Sem ele gente não sobrevive” (Foto: Catarina Ribeiro)