*Por Brunna Condini
Nossas casas viraram refúgios seguros em tempos de pandemia da Covid-19, certo? Não para todos. A residência, lugar de proteção e acolhimento, não tem sido assim para muitas mulheres. No estado do Rio de Janeiro, mais de 250 mulheres foram vítimas de violência doméstica em 2020. Ainda segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP), entre março de 2020, quando foi editado o primeiro decreto de combate à propagação do coronavírus no estado, e o dia 31 de dezembro, mais de 73 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência. Dói se confrontar com essa realidade.
E se dói em uma, dói em todas. Beatrice Sayd tem vivido essa dor na pele e representado todas essas mulheres na ficção. A atriz dá vida à Edilene em ‘Amor de Mãe’, a ex-funcionária de Vitória (Taís Araújo), que sofrerá violência doméstica. Desde ontem, a questão na trama passa a ter destaque, já que Edilene sofrerá visíveis agressões do marido. A personagem estará trabalhando na casa de Lídia (Malu Galli), quando Vitória, em uma visita, perceberá manchas roxas na empregada, que contará sobre a violência que tem sofrido em casa durante a quarentena. O assunto se tornará pauta da novela nos próximos capítulos. “Busquei a dignidade para representar esse momento de dor da Edilene. Como atriz fiquei orgulhosa, claro, por dar voz à uma causa tão importante. A mulher sofre uma condição histórica de violência, discriminação e opressão pelo simples fato de ser mulher”, diz Beatrice.
A necessidade de um isolamento social maior, o desemprego e o aumento do consumo de bebidas alcoólicas no período são alguns dos fatores que fizeram os índices deste tipo de violência disparar. A atriz conta que foi fundo estudando o assunto e até acompanhou alguns casos em seu Instagram. “Pude ajudar algumas mulheres. Para este momento da personagem precisei ler muito e assisti um documentário sobre violência doméstica, também estudei o texto da Edilene com um amigo ator, o Audrei Andrade. A violência doméstica aumentou muito com o isolamento, as mulheres passaram a ficar mais tempo com os agressores, seja por trabalharem remotamente ou por terem ficado desempregadas. Ou porque o companheiro perdeu o trabalho, como aconteceu com a Edilene”. E alerta: “Agora, tem um número de whatsapp para fazer a denúncia: (61) 99656-5008. As denúncias podem ser anônimas. O whatsapp permite que a mulher envie a mensagem em silêncio”.
Em nome da causa
Beatrice deseja ir além da ficção. Aproveitando o alcance da novela, ela planeja uma série de lives para colocar em foco a violência contra a mulher. O intuito é ajudar quem passa pelo mesmo, levando informação e esclarecimento. A atriz inicia as conversas via Instagram quarta-feira (dia 31), com uma delegada que já esteve à frente de delegacias especializadas no atendimento feminino. Beatrice também pretende conversar com mulheres que já sofreram agressões similares e pessoas que possam ser indispensáveis em casos dessa natureza. “A série de lives sobre violência doméstica começa nesta quarta-feira, às 20h, antes da novela.
A minha primeira convidada é a delegada Marilia de Brito Martins. A ideia é fazer duas lives na semana, às quartas e sextas-feiras, sempre às 20h. Também fiz convites à Maria da Penha, à Ana Paula Araújo, que lançou recentemente um livro sobre mulheres vítimas de diversos ataques masculinos (‘Abuso’), e à Taís Araújo, que dividiu as cenas da Edilene comigo. É uma causa que me atravessa e muito ruim viver com medo. Tenho medo por ser mulher e viver no Brasil. Aqui uma mulher é estuprada a cada oito minutos! A cada dois minutos uma mulher é agredida!”.
Realizando sonhos
Ela acredita que arte pode transformar fazendo refletir através do que é exibido. Tanto e cada vez mais, pelos novos contornos que vem ganhando em tempos de pandemia. Isoladas em suas casas, as pessoas têm produzido e consumido cultura como entretenimento e ponte para comunicação com o mundo. “A arte, tão demonizada atualmente pelo desgoverno que nos rege, tem salvado ainda mais. Esse tema que será debatido na novela, a violência doméstica, é um assunto urgente e importantíssimo. São números altíssimos de violência, diária. Toda mulher precisa saber como se proteger”. E complementa: “Falando da pandemia, vivemos um cenário desolador. Muita tristeza pela frente. Estamos exaustos e precisamos resistir. Acho que assistir os atores vivendo a pandemia na novela reforça a importância do isolamento social, do uso de máscaras e das medidas de higiene. Estamos exaustos? Estamos. Mas a causa é pela sobrevivência de todos e isso é tão nobre. Que a gente busque ser nobre”.
Natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ela veio morar no Rio de Janeiro aos 18 anos, em busca do sonho de ser atriz. “A história da minha vida até aqui (42 anos), é de amor pela interpretação. Cheguei no Rio e fui morar em um internato de freiras. Depois fui estudar na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Tablado. Cursei jornalismo. Carreira de atriz não é fácil, é a vocação que faz a gente caminhar. Sempre quis fazer teatro e TV. E nunca pensei em outra profissão. Na verdade, só pianista, quando ainda era adolescente e isso era uma possibilidade. Também amo arquitetura, mas não virei arquiteta”.
Beatrice conta ainda, que na TV tem acompanhado o Big Brother Brasil 21. “Esse é bem a vida da gente, só que a vida deles é vigiada 24h. Na nossa vida real dá para disfarçar ainda. Torço pela Juliette, pelo João Luiz, pela Camilla de Lucas e pelo Gilberto“, revela, aos risos. Participaria de um reality como esse? “Sabe que depois de assistir esse BBB me animei, mas seria impossível. Sou celíaca e ia ter muitas questões alimentares no reality!”.
Artigos relacionados