BBB24 – Fernanda nos faz pensar se para ter protagonismo no reality e na vida é preciso estar bem e ser positivo sempre

Publicado por Heloisa Tolipan em 20/02/2024

Vista como uma figura essencial no reality hoje, porque fala o que pensa e movimenta o jogo, a niteiroense divide opiniões a respeito do que diz, mas até quem não simpatiza muito com o seu jeito de ser, a reconhece autêntica e forte no jogo. Após vencer o Paredão da última terça, em que a maior parte dos participantes no confinamento esperavam que ela saísse pelos ‘erros’ cometidos lá dentro, com direito a barracos e polêmicas, Fernanda se empoderou mais e pode até ter uma vida maior no game. Até quando não se sabe, mas a trajetória dela nos faz pensar sobre as armadilhas da exigência de uma positividade compulsiva – e muitas vezes tóxica – em um programa como esse e no mundo real. Para nos ajudar a pensar sobre o tema, convidamos Gell Macedo, autora e roteirista de ficção, documentário e variedades. “Quantas vezes já nos pegamos processando pensamentos negativos ou buscando maneiras de fugir dos nossos refluxos emocionais e ideais inalcançáveis de felicidade?”, indaga

*Por Brunna Condini

Dividindo opiniões dentro e fora do Big Brother Brasil 24, Fernanda Bande, de 32 anos, vem levantando reflexões e debates com seu humor ácido e falas controversas. A quem ache que ela é a vilã da atual edição. Até mesmo a última eliminada, Deniziane, a identificou como a algoz do programa no momento. Aliás, no Paredão entre Fernanda, Anny e Matteus, a niteiroense levou a melhor, o que gerou muita surpresa no confinamento, já que Fernanda não se esforça para agradar e fazer a linha “boa moça”, como é esperado, no BBB e na vida, quando falamos de uma mulher. A própria Fernanda pareceu chocada com sua permanência.

Fato que os barracos protagonizados até aqui pela modelo e confeiteira não são de se orgulhar. Ela tem a língua afiada e já não pestanejou em ofender seus oponentes no jogo. Por outro lado, Fernanda oscila demostrando inteligência emocional em muitas ocasiões, como quando evitou um novo bate boca com Beatriz recentemente. Também vemos na participante uma personalidade destemida e potente, o que muitas vezes transborda em agressividade e reatividade. No entanto, a ‘loba’, como tem sido chamada pelos internautas, gíria agora usada como um adjetivo para descrever mulheres corajosas, tem nos levado a refletir sobre como é vivenciar verdadeiramente o BBB, sem se esforçar para fazer um personagem que provavelmente facilitaria sua estadia lá.

A participante expõe o que não é bom, perfeito, suas dores e rancores. Afinal, para atrair simpatia no reality e na vida, é preciso estar bem ou querer estar, o tempo todo? “Abri o X, antigo Twitter, e me deparei com uma conversa das participantes do BBB24, Fernanda e Pitel, que me fez refletir sobre a tal positividade tóxica. Afinal, ninguém é feliz o tempo todo. Fernanda disse para Pitel: “Eu não sou uma pessoa alegre e feliz da vida. Eu sou uma pessoa que detesto muitas coisas da minha vida que me deixaram triste. Posso ver a alegria em várias coisas, posso dar risadas em várias coisas, posso trazer alegria para outras pessoas, mas assumir que eu sou uma pessoa feliz e alegre, não sou”. Quantas vezes já nos pegamos processando pensamentos negativos ou buscando maneiras de fugir dos nossos refluxos emocionais e ideais inalcançáveis de felicidade?”, destaca Gell Macedo, autora e roteirista de ficção, documentário e variedades.

A controversa participante do BBB24, Fernanda, abre frentes de discussão e movimenta o jogo (Reprodução/ Globo)

E segue sua análise. “Fernanda ainda acrescentou: “É mais fácil fazer você feliz. Por que sou uma pessoa condicionada a relacionamento? Porque é mais fácil fazer o outro feliz, dizer todas as qualidades todos os dias, mas não consigo fazer 1% disso para mim. Eu preciso de muita terapia”. Quantas vezes você vestiu a fantasia do palhaço e divertiu os amigos, foi a graça da festa, o “raio de sol” num relacionamento e, em seguida, se jogou na cama catando os cacos de uma vida sem qualquer sentido?”, indaga a especialista.

Fernanda pode se equivocar, errar a mão, mas apresenta lealdade à sua essência, à matéria da qual é feita. Isso, somado ao que compartilha sobre sua vida fora reality, como o fato de ser mãe solo de dois filhos (Marcelo, de 11 anos, e Laura, de 5), um deles atípico, de estar no BBB por eles, também gera identificação com o público. E, apesar disso, a jogadora mostra seu lado B sem reservas, o que também não é usual em uma atração em que muitos participantes já entram com seus arquétipos escolhidos e personagens ensaiados. Fernanda não reprime suas emoções e não força simpatia. Será esse um bom jogo ou o único jogo possível pra ela?

Fernanda e Alane protagonizam briga no BBB24 (Reprodução/ Globo)

“Fernanda é o retrato do “Stanczyk”, um dos bobos da corte mais famosos da história, no quadro pintado pelo artista polonês Jan Matejko, em 1862. Assim como “Stanczyk”, Fernanda parece ter perdido algo de muito valor e que custou-lhe caro. Mas, longe de abraçar a filosofia do “vai dar certo”, “vai passar”, “a vida é bela”, ela encara as próprias dores e as revela tal como são: cruéis e muita vezes insuportáveis. Quando Fernanda se expõe, ela faz um pedido de socorro. Porque, afinal, ninguém deveria ser triste o tempo todo”, completa Gell.

Fernanda, participante do Big Brother Brasil 24, suscita debate sobre positividade tóxica com seu comportamento que vai na contramão da maré (Foto: Ricardo Vieira/gshow)

Até onde a confeiteira vai no game, não se sabe. Acabou de ser o ‘azarão’ em um Paredão com participantes que eram tidos como mais queridos que ela. Mas ao que parece, Fernanda não tem medo nem de ser exatamente o que é, na luz e nas sombras, nem de jogar. Sua espontaneidade vem movimentando o reality, mesmo com opiniões tão diversas a seu respeito nas redes. Mas até quem não curtia muito a participante passou a enxergar seu potencial como jogadora e uma maior clareza na sua comunicação – mesmo um tanto impaciente muitas vezes. Fernanda não é uma otimista compulsiva e demonstra mesmo entender, que se nada mais der certo, ainda assim, ela vai seguir em frente, recebendo a vida como é: doce, amarga, boa ,cruel, feliz, triste. Ou como traduziu o escritor Guimarães Rosa:

O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”

Coragem! E continuamos acompanhando os próximos capítulos do reality.