*Por Brunna Condini
O BBB23 estreou há pouco mais de uma semana e já vem levantando temas importantes, como a discussão em torno das relações abusivas e tóxicas. Sobre o que se trata já sabemos, mas é sempre bom lembrar: “É uma relação que vai levantando ‘bandeiras vermelhas’ de desrespeito, toxicidade, desqualificação do outro, e é importante não deixar que isso evolua, porque toda relação deste tipo costuma dar sinais desde o princípio. E os que estão ao redor muitas vezes identificam alguma coisa errada e não comentam. Isso não ajuda o casal e não auxilia a mulher a perceber onde está entrando”, destaca a psicóloga Maria Rafart.
Desde o início da semana, a atração levou o assunto para as redes e rodas de conversa quando o apresentador Tadeu Schmidt alertou Gabriel Tavares e Bruna Griphao diante dos outros participantes e do Brasil, para os rumos nada saudáveis na forma de se relacionar dos dois. Gabriel foi acusado de machismo e desrespeito a Bruna. Muita gente presenciou. Por que só a participante Tina ousou ‘dar nome aos bois’ e dizer que o casal estava sendo ‘tóxico’? Por que ainda não entendemos que em ‘briga de marido e mulher’ e relações deste tipo, pode e se deve ‘meter a colher’? O que devemos esperar acontecer? Devemos esperar? Importante lembrar que toda vez que uma mulher se sentir desrespeitada ou cerceada – palavra que a própria Bruna usou algumas vezes – deveria ter a atenção necessária e ser acolhida. Violências sutis ou explícitas deixam marcas. Ninguém deseja estar em uma relação para se sentir sem valor ou agredida, não é mesmo? Falar é preciso! E intervir, se for o caso, também!
“É comum que o ditado de não ‘meter a colher’ ainda seja levado a sério. Como há um estereótipo de que mulheres permanecem em relações abusivas, ‘porque querem’. Este tipo de reflexão leva muitas pessoas a não oferecerem ajuda e suporte. Os mecanismos de dependência emocional ainda são ignorados por grande parte da população e são muito mais complexos do que apenas o querer: envolvem a forma como o apego foi instaurado na vida de alguém desde criança, questões de experiências familiares, sociais e até de dependência química – estudos recentes mostram a importância do neurotransmissor dopamina nas relações de ‘vai e volta'”, esclarece Maria Rafart.
Na ocasião que Tadeu Schmidt levantou a ‘bandeira vermelha’ de atenção para o casal, muitos participantes da casa se solidarizam, mas o que se percebeu é que não foi uma surpresa geral. A relação de Bruna e Gabriel já vinha dando claros indícios de toxicidade. Surpresa foi, quando depois da Prova Bate e Volta, Gabriel se livrou do Paredão e MC Guimê comemorou empolgado a vitória do rapaz. Os internautas não perdoaram dizendo que o rapper estaria ‘passando pano’ para machista. Em sua defesa, e provavelmente já antevendo as críticas, Guimê disse que o retorno de Gabriel seria uma segunda chance para o modelo. A atitude do MC foi questionada aqui fora e lá dentro, já que no Jogo da Discórdia desta segunda (23), Marvvila falou para o cantor, demostrando bom senso e sororidade: “Você aplaudiu o Gabriel. Se você é muito amigo dele, era o momento de chegar em um canto e dizer: ‘estou contigo, porém, você está errado e precisa aprender’. Não era o momento de você gritar pra todo mundo quando ele ganhou. Como mulher, me senti muito tocada. Quem merecia um grito de ajuda naquele momento era a Bruna. Você ter explanado daquele jeito, naquele momento, eu achei insensível”. Entendemos Marvvila. Sem clima para ‘brodagem’ nesta altura, concordam? Até porque essas ‘suavizadas’ alimentam atos machistas e violência contra as mulheres. Por isso é tão importante trazer o tema à luz e nomear exatamente o que rola.
Nem Lexa, esposa de Guimê, deixou de comentar no Twitter a situação de Bruna e Gabriel. “Eu não sou o Guimê e não concordo com muitas coisas que ele fala. Espero que as pessoas saibam separar isso. Eu nunca apoiarei agressão. Guimê nunca foi essa pessoa comigo. E eu nunca passarei esse pano”, postou a cantora.
No entanto, por conta da repercussão do episódio, ela decidiu se afastar do debate e das redes por um tempo. “Eu já tô achando que a galera perdeu a mão e tá exagerando. Parece que o @mcguime cometeu um crime… Tão falando absurdos pra mãe dele, pra mim e até pra minha mãe. E quem fez a besteira nem foi ele. As pessoas tem que separar o jogo. Guimê já falou 300x que não concorda com o cara. Agora eu vou dar um TIME de BBB pela minha querida saúde mental, amém irmãos?”, escreveu nesta terça-feira (24) na mesma rede.
Para além da discussão se essa relação poderia ou não prosperar pós-alerta ou se foram sinais importantes para aproveitar e parar de início, é interessante perceber que com a chuva de comentários negativos na casa durante o Jogo da Discórdia, Gabriel se desculpou, mas também destacou que as pessoas ‘gostam de chutar cachorro morto’, evidenciando a vulnerabilidade que a situação o colocou no jogo. Ora, ele se colocou na situação. Escolhas mesmo que absolvidas, foram escolhas. “Posso virar um mártir para outros homens, se entenderem minha parte e perceberem que eu errei. Se eles olharem para dentro, assim como estou me olhando, pedindo desculpas pelo erro. Você vai ver que eu me arrependi, vou colocar o joelho no chão, pedir desculpas. Usar isso para me tornar um homem melhor”, disse.
Tomara que o episódio seja usado como instrumento de reflexão e mudança de comportamento para ele, principalmente. Se atingir mais alguém que também precise, é lucro. Mas o que se deixa como reflexão aqui, é o porquê de muita gente ainda acreditar que intervir em uma situação abusiva é invasão de privacidade. “Desde sempre, a sociedade trava lutas para delimitar o que pertence ao privado e o que pertence ao coletivo. Se um casal briga muito, com gritos, é mais provável que a vizinhança encare aqueles comportamentos como pertencentes à esfera privada, e não interfira nesta dinâmica. Pouco a pouco, contudo, a maior informação sobre relações tóxicas e abusivas tem mostrado a face oculta desse tipo de relacionamento, e o que se vê é um número maior de pessoas que questiona a situação e de fato oferece ajuda. A mesma coisa acontece com a solidariedade feminina, a chamada sororidade: vemos nascer maiores redes de apoio a mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade organizadas por outras mulheres. De maneira informal, também se amplifica esta solidariedade. No entanto há um caminho grande a percorrer ainda, pois frequentemente mulheres em situação abusiva são julgadas por outras”, conclui a terapeuta.
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