*Por Brunna Condini
O primeiro Paredão do BBB 22 foi formado no último domingo (23) e tirou o clima inicial de ‘colônia de férias’ da atração. Naiara Azevedo foi indicada pelo líder, Douglas Silva, e puxou Luciano Estevan com o ‘contragolpe’. Natália e Jade Picon foram as mais votadas pela casa, mas a influenciadora digital se livrou da berlinda na prova ‘bate-volta’. Hoje saberemos quem vai ser o primeiro participante a deixar a casa, e as enquetes apontam que será Luciano. Ao que parece, a obsessão pela fama do bailarino despertou a antipatia do público. Mas, por que o desejo declarado pelos holofotes do participante incomoda tanto as pessoas, sendo que somos um país que produz muitas celebridades instantâneas?
“É um ótimo debate, porque querendo ou não, a busca pela fama é um tema recorrente em todos os realities. A fama remete a uma espécie de ‘passaporte’ para oportunidades e privilégios em um país tão desigual quanto o nosso. Ser famoso através de um mérito pessoal ou por participar de um programa como esse faz que o indivíduo consiga traçar caminhos antes intransponíveis por causa de barreiras sociais. Mas, o Luciano é o típico participante que sai no primeiro Paredão e que, provavelmente, nem seja lembrado depois. Pode ser cruel o que digo, mas ele não conseguiu imprimir uma marca e isso é preciso num jogo desses. Não disse a que veio até agora. E em uma sociedade como a nossa, ‘parecer ser’ é, muitas vezes, mais importante até do que ser, para chamar a atenção”, observa Valmir Moratelli, autor e pesquisador em teledramaturgia.
“Quando o Luciano diz que entrou no BBB para ser famoso, o que ele está querendo, é ter mais visibilidade, espaço, para outras conquistas. Mas ele não colocou essas outras conquistas como meta, colocou o meio, e não a consequência disso. Não vejo como problema, o que vejo como uma questão, e o público rejeita participantes assim, é que o Big Brother é um programa de ‘faz de conta’. O participante precisa ‘ser alguma coisa’ para o espectador, de forma que ele torça para que o confinado consiga seu objetivo. E, conquistar a fama por si só, é muito raso. Se Luciano falasse que gostaria de ser famoso com objetivos, seria diferente. Senão é como ter esse ‘passaporte’ e não saber para onde ir, fica um pouco sem rumo. Por isso se discute muito o fato da fama poder ser um componente social muito evasivo se não tiver uma meta clara. Em realities, geralmente o que funciona é que esse objetivo esteja atrelado a ajudar outras pessoas”.
Nascido e criado em Florianópolis, em Santa Catarina, aos 28 anos, Luciano é ator e bailarino. Na infância, passada na periferia de sua cidade, com apenas 5 anos e na contramão dos seus irmãos, que sempre viveram a cultura do hip hop, ingressou na aula de balé clássico. Ele disse em entrevista antes de entrar no programa, que sempre gostou de ser o centro da atenções, e, atualmente, interpreta o personagem Lipe no canal de YouTube ‘Gato Galactico’. E nunca escondeu sua principal ambição. “Ser rico e famoso a ponto de não conseguir andar em um shopping”, brincou. “O problema do discurso do Luciano é esse: ele não entender que a fama é consequência de algo. E somos um país que produz muitas celebridades instantâneas, aquelas que surgem e desaparecem rapidamente, o que alimenta isso. Se o resultado das enquetes se confirmar, ele tem tudo para se tornar uma delas, ao sair na primeira semana. Não me parece uma pessoa que vai conseguir alcançar níveis maiores de fama. Até por conta de número de seguidores que tem hoje, beirando os 300 mil. Tem participantes que entraram com ele e estão com 3 milhões. Isso mostra que faltou sabedoria e até malícia para entrar em um jogo como esse, que dá tanta visibilidade”.
Por que as pessoas querem ser famosas?
Segundo especialistas, em um mundo com mais de 7,5 bilhões de pessoas, muitas encaram a fama como solução para os seus problemas, como via de oportunidades e até como uma forma de lidar com a insegurança e a baixa autoestima, já que o famoso recebe muita atenção. Muitos querem ser reconhecidos por suas aptidões, mas outros, desejam e buscam a fama pela fama, ou seja, como forma de destaque e ascensão social. É uma sociedade que alimenta e se alimenta de celebridades, independente de como chegaram lá. E também que costuma exaltar o que está em evidência. Olhando por esse recorte, quem pode julgar Luciano de querer se sentir valorizado sendo famoso, quando possivelmente não se sente sendo um simples anônimo? “Esse é mesmo o reflexo de um país desigual. Ser famoso te credita a alcançar postos maiores. Em algumas sociedades mais igualitárias, a fama pode vir através da educação, de uma aptidão artística. Em nosso país, também é uma forma de alcançar um status social. Tem gente que por isso, sonha em ser jogador de futebol, modelo e Big Brother. O programa inclusive, criou essa ideia de que as pessoas podem mudar de vida através dele. E de fato mudam, mas muitas não mudam também, o que pode frustrar expectativas. Por isso a questão da fama deveria ser relativizada, sendo consequência de algo e não o objetivo final”.
Mas o fato do Luciano estar sendo considerado chato nas redes sociais, vem do desejo dele pela fama, ou acredita que por ele querer ser famoso de qualquer forma, isso mostra que ele pode ser um chato? “Minha visão como telespectador é que falta empatia para o Luciano. Ao contrário das outras duas que estão com ele no Paredão, e isso pesa na hora de conquistar o público. Um dos pilares da fama é a questão do talento, você ter uma aptidão em determinada área que gere admiração. E ele não se colocou até agora como uma pessoa apta a conquistar essa fama fazendo algo. Então, falta comunicação, um discurso a favor de si mesmo, empatia”.
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