BBB22: ‘Natália precisou ser empoderada para se afirmar’, diz modelo Vitor Maccla que milita sobre o vitiligo


A nova temporada do Big Brother Brasil estreia nesta segunda-feira (17), cercada de expectativas, misturando mais uma vez, grupos de anônimos e famosos, somando 20 participantes. O reality que completa 20 anos em 2022, promete continuar polemizando, mas também pautando temas relevantes para a sociedade. Entre os participantes, a modelo Natália Deodato, que tem vitiligo e colocará a condição autoimune na roda. Convidamos o modelo e músico Vitor Maccla, que também tem vitiligo e conhece Natália, para comentar e esclarecer: “Ela é uma mulher potente! Se rolar preconceito lá, acho que vai tirar de letra e ainda vai poder usar isso a seu favor. O maior desafio dela será controlar os impulsos, além de ‘ler’ o jogo e entender as melhores pessoas para se aliar. Espero que Natália se alie a pessoas que levantem pautas importantes para a sociedade em torno da luta contra preconceitos e pela diversidade”

*Por Brunna Condini

É hoje! O BBB 22 estreia após ‘Um Lugar ao Sol‘ na Globo, cercado de expectativa e já com questões na roda. Dos 20 participantes, três ainda seguem protocolos de isolamento por estarem com Covid-19, e só devem entrar na casa nesta quinta-feira (20), após o quarentena e os exames negativados. No programa de Sonia Abrão, ‘A Tarde é Sua’, foi anunciado que seriam Arthur Aguiar, Jade Picon e Linn da Quebrada, integrantes do grupo Camarote da edição.

Os 20 novos integrantes do programa, entre grupos Camarote e Pipoca, têm uma única missão: sobreviver no jogo (Divulgação/ Globo)

Os 20 novos integrantes do programa, entre grupos Camarote e Pipoca, têm uma única missão: sobreviver no jogo (Divulgação/ Globo)

Mesmo com o ‘desfalque’ na estreia, amada ou odiada, a atração completa 20 anos, com novo apresentador, o animado Tadeu Schmidt, e com a ‘promessa’ dos habituais conflitos, polêmicas e também de pautar assuntos importantes para a sociedade. Nós do site, seguiremos acompanhando o reality e jogando luz nos temas relevantes. E para ‘esquentar’, começamos hoje mesmo falando sobre diversidade e inclusão.

Vamos falade vitiligo? A modelo e designer de unhas Natália Deodato, integrante do grupo Pipoca revelou em sua entrevista antes do confinamento, que descobriu a doença aos 9 anos, quando as primeiras manchas apareceram perto dos olhos. “Natália participou de uma live comigo no meu Instagram (@vitormaccla) há aproximadamente um ano e meio. Na ocasião, eu queria entender como era para ela ser uma mulher negra e com vitiligo. Ficou nítido que a Natália precisou ser muito empoderada para se afirmar com beleza, potência e voz nos espaços que ocupou. Seu caminho se deu superando muitos preconceitos, rejeições e dúvidas com relação à sua capacidade. Ela em consciência dos desafios de ser uma mulher negra e ainda por cima com a condição autoimune”, diz o modelo e músico Vitor Maccla, que também tem vitiligo, e é nosso convidado para comentar o assunto.

A modelo e designer de unhas Natália Deodato, integrante do grupo Pipoca revelou em sua entrevista antes de ser confinada, que descobriu a vitiligo aos 9 anos (Divulgação)

A modelo e designer de unhas Natália Deodato, integrante do grupo Pipoca revelou em sua entrevista antes de ser confinada, que descobriu a vitiligo aos 9 anos (Divulgação)

Vitor declara sua torcida pela participante e acredita que Natália tem inteligência emocional suficiente para enfrentar a competição: “Em um jogo como esse, o relacionamento é a maior dificuldade. Preconceito ela já superou muito ao longo da vida. É uma mulher potente! Se rolar preconceito lá, acho que vai tirar de letra e ainda vai poder usar isso a seu favor. O maior desafio dela será controlar os impulsos, além de ‘ler’ o jogo e entender as melhores pessoas para se aliar. Espero que Natália se alie a pessoas que levantem pautas importantes para a sociedade em torno da luta contra preconceitos e pela diversidade”.

Vitor e Natália em live há pouco mais de um ano: "Espero que Natália se alie a pessoas quem levantem pautas importantes para a sociedade em torno da luta contra preconceitos e pela diversidade" (Reprodução)

Vitor e Natália em live há pouco mais de um ano: “Espero que Natália se alie a pessoas quem levantem pautas importantes para a sociedade em torno da luta contra preconceitos e pela diversidade” (Reprodução)

O vitiligo é considerado uma das enfermidades com maior impacto emocional da dermatologia. Acredita que a pressão do jogo pode ter consequências no agravamento do vitiligo da Natália? “O dela não me parece estar em atividade há algum tempo, é só ver suas fotos nos últimos anos: percebe-se pouca alteração nas manchas. Quando o vitiligo se estabiliza durante muitos anos é mais difícil que evolua exponencialmente. Isso acontece por um longo e árduo processo de aceitação. Esta talvez seja a maior bandeira que ela deva defender no BBB: da aceitação para as pessoas com vitiligo. Para que muitos possam enxergar nela um referencial de beleza com as suas manchas. Um referencial de uma mulher que não se esconde e ocupa os espaços com voz e força”, analisa Vitor.

"Natália vai levantar a bandeira da aceitação para as pessoas com vitiligo. Para que muitos possam enxergar nela um referencial de beleza com as suas manchas" (Divulgação)

“Natália vai levantar a bandeira da aceitação para as pessoas com vitiligo. Para que muitos possam enxergar nela um referencial de beleza com as suas manchas” (Divulgação)

“Também espero que a participação dela no reality indique a milhares de pessoas com vitiligo, que é possível ter uma vida absolutamente normal vivendo com suas manchas, e que não é preciso maltratar seu corpo com remédios e práticas estigmatizantes. Contudo, participando de um programa como o BBB, com exposição a nível nacional, não temos como saber como Natália vai lidar do ponto de vista emocional. Acredito que ela vai tirar de letra! Espero que aguente o tranco e possa transmitir apenas coisas boas. Quem já passou por tudo que Natália já passou na vida, é fortalecida emocionalmente para lidar em situações de pressão”.

Narrativas de empoderamento

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, no Brasil, mais de um milhão de pessoas manifestam essa condição (0,5% dos brasileiros). No mundo, a doença atinge, em média, 1% da população. Ano passado, também no BBB, o assunto já veio à tona, mas ainda sem alguém lá dentro para falar com propriedade sobre o tema. Foi quando a rapper Karol Conká opinou a respeito ‘da branquitude’ da pele de Michael Jackson (1958-2007). Na verdade, a cantora em papo com Fiuk e outros participantes afirmou que o cantor teve vitiligo por “querer ser branco”, ou seja, de alguma forma foi portador da doença por ser preconceituoso com a cor da sua pele. “Teve vitiligo, foi emocional. Ele queria ficar igual ao Fiuk e ficou feio, cara. Ele era lindo, ficou com a pele mais branca que a sua”, disse a cantora.

Na época, Vitor conversou com o site e esclarecemos que o vitiligo é uma doença autoimune que provoca, como sintoma, as manchas brancas na pele. O modelo reforça que é preciso acabar com o desconhecimento e preconceito acerca da condição. “O primeiro olhar e relação com às manchas de vitiligo se dá cercado de medos e anseios. O meu diagnóstico foi dado quando eu tinha 5 anos, por uma médica dermatologista que prontamente orientou a uma prática terapêutica para reversão das manchas. Isto por si só já estipula uma pratica estigmatizante, onde geralmente  sequer é colocada a opção de se ver o vitiligo como apenas uma questão estética e mais uma forma de ser e estar no mundo. Ou seja, desde o início você já se percebe e é visto como doente. Isso provoca um forte impacto emocional negativo”, desabafa. “Hoje isso muda, pois o vitiligo será visto em horário nobre e não através dos estigmas, ligado a tratamentos”.

"O vitiligo será visto em horário nobre e não através de um olhar estigmatizante, ligado a tratamentos" (Divulgação)

“O vitiligo será visto em horário nobre e não através de um olhar estigmatizante, ligado a tratamentos” (Divulgação)