*Por Brunna Condini
A chegada de Linn da Quebrada no BBB22 colocou os debates de gênero em evidência dentro do reality. Na apresentação no jogo, ela afirmou: “Não sou homem, nem sou mulher, sou travesti”. E esta semana falou do seu objetivo na disputa do prêmio de R$ 1,5 milhão. “Quero ganhar esse jogo. Preciso ganhar esse jogo. Quero viver para sentir o Brasil torcendo por alguém como eu, com o meu corpo, com a minha história. Com tudo o que eu sou! O Brasil precisa ver corpos como o meu”. Mas o que pode ser obstáculo para a tão sonhada vitória de Linn?
Beta Boechat (ela), é trans não-binária, publicitária, consultora de diversidade e palestrante, e criadora de conteúdo para a internet sobre aceitação corporal, autoestima e diversidade, e a convite do site comenta a importância de ter Linn da Quebrada no Big Brother Brasil. “Ter uma pessoa em rede nacional se assumindo travesti é mais que inédito. É revolucionário. Quantas casas, quantas famílias hoje não estão entendendo e desmistificando pessoas trans e travestis assistindo uma pessoa como a Linn na TV? E podemos ver que, desde a Ariadna, que sofreu casos de transfobia absurdos, dentro e fora da casa, muita coisa mudou, mas transfobia e desinformação continuam”, observa Beta.
“Ser uma travesti exposta em rede nacional com certeza não é algo fácil. As pessoas de fora da casa iniciam um processo de entender e humanizar essa figura da travesti que ainda carrega diversos equívocos no imaginário popular. Já as pessoas de dentro da casa, elas têm medo. Não sabem como lidar, não se atentam às ‘pequenas’ violências diárias, como errar pronomes, por exemplo, e acabam buscando aliança com iguais, excluindo quem parece diferente”.
Logo após o Jogo da Discórdia de segunda-feira (dia 24), em que os participantes precisaram montar seus pódios da Final, Linn foi para a área externa da casa e se demonstrou mexida por não ter feito parte de nenhum pódio. Fato que, depois disso, a cantora buscou ainda mais encontrar aliados no confinamento se aproximando mais de Jesse, Natalia e Rodrigo. “Acho que a entrada da Linn separada dos outros já mexeu com ela, porque relações se criaram nos dias anteriores. Esse Big Brother também está bem atípico. No anterior, na primeira semana, já víamos rixas entre os grupos, que estavam bem definidos. Nesta edição, isto não está muito claro ainda. Então, mesmo ela se aproximando de algumas pessoas inicialmente, acho que as alianças ainda estão se estruturando. A votação do último Paredão mostrou isso. Acho que a Linn ainda vai criar outras alianças no jogo, e pode ser que aproxime mais do Tiago Abravanel e do Vynni. E como mulher negra ela também tem outras identificações, como com a Natalia e a Jesse”.
Beta conclui sobre como enxerga o panorama para a cantora no momento. “Linn é uma travesti que vive seu corpo de forma pública. Que mesmo com tanta violência, continua uma pessoa empática, paciente, aberta a acolher o outro, e isso assusta quem espera outra atitude de uma travesti. Quanto à longevidade dela no jogo, não acredito que esteja mirada para ser excluída. Ao mesmo tempo que não foi para o pódio, também não recebeu votos no último Paredão, o que mostra bem essa exotificação que ela tem sofrido na casa”, analisa.
“Seria incrível ela ganhar essa edição. Acho que a história que está acontecendo agora, da questão dos pronomes, e dela se sentir mal com isso, faz com que ganhe uma atenção do público. Acho que Linn tem sido muito protagonista e isso pode trazer mais olhares para ela, levando-a à vitória. Ainda está cedo para falarmos disso, mas Juliette em algum nível também teve essa trajetória. Só que existe uma diferença bem grande de termos uma travesti, mulher negra nessa posição. Não sei se a história se repete com a mesma força, mas acredito que o protagonismo dela tem sido bem marcado e que não saia tão cedo”.
Não dá para errar mais
Ao longo de seus primeiros dias no reality, Linn teve conversas sobre gênero com Eslovênia, Naiara Azevedo, Rodrigo e Laís. Papos que culminaram na intervenção de Tadeu Schmidt, em conversa ao vivo sobre a forma correta de tratamento da artista, já que na primeira semana de confinamento Linn sofreu com alguns participantes do reality não chamando-a por pronomes femininos. “Linna, você tem o pronome ‘ela’ tatuado acima da sobrancelha. Queria que você explicasse porque você fez essa tatuagem e também que dissesse, mais uma vez, reforçando, como as pessoas devem se dirigir a você, devem tratar você”, disse Tadeu. “Fiz essa tatuagem, na verdade, por causa da minha mãe. Porque no começo da minha transição, a minha mãe ainda errava e me tratava no pronome masculino. E eu falei: ‘mãe, vou tatuar ‘ela’ aqui na minha testa que é para ver se a senhora não erra”, esclareceu Linn. “E acho que também assim é uma indicação pra todas as outras pessoas. Então ficou na dúvida? Lê, e daí vocês lembram que eu quero ser tratada nos pronomes femininos”.
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