BBB21: “Karol Conká ofendeu pessoas que sabem como é viver com vitiligo”, diz o modelo Vitor Maccla com a condição


Mais uma vez assuntos levantados no programa causam e o site foi atrás de esclarecimento e do bom debate. Conversamos com o modelo e músico Vitor Maccla, que tem vitiligo, a respeito da fala de Karol Conká sobre Michael Jackson. O dermatologista Igor Manhães também esclareceu sobre o tema e jogou luz em qualquer tipo de preconceito. “Alô @karolconka o Michael Jackson não quis ficar todo branco. Na verdade, ele tinha um tipo raro de vitiligo que é o vitiligo universal. Desde criança sofri preconceito por ter vitiligo, e uma das frases que mais ouvia era a de que eu queria ficar branco como o Michael”, desabafou Vitor

*Por Brunna Condini

O Big Brother Brasil 21 segue colocando assuntos na roda. E mais uma vez, a rapper Karol Conká está envolvida em uma polêmica. Desta vez, foi uma opinião a respeito ‘da branquitude’ da pele de Michael Jackson (1958-2007). Na verdade, a cantora em papo com Fiuk e outros participantes afirmou que o cantor teve vitiligo por “querer ser branco”, ou seja, de alguma forma foi portador da doença por ser preconceituoso com a cor da sua pele. “Teve vitiligo, foi emocional. Ele queria ficar igual ao Fiuk e ficou feio, cara. Ele era lindo, ficou com a pele mais branca que a sua”, disse a cantora ao Fiuk. “Eu nunca mais vi nenhuma outra pessoa ter um vitiligo que a mancha pega o corpo inteiro”. E completou. “No colégio, eu usava um moletom escrito ‘negro é lindo’ e falavam assim: ‘Se fosse lindo Michael não tinha ficado branco'”, afirmou Karol, que tem muitas opiniões sobre tudo ou quase tudo. Pelo menos é o que tem demonstrado dentro do reality. No entanto, seu desconhecimento acerca da condição característica causou comoção na internet.

Karol Conká fala sobre Michael Jackson: “Teve vitiligo, foi emocional. Ele queria ficar igual ao Fiuk e ficou feio, cara” (Reprodução)

Michael Jackson já havia falado publicamente sobre o tipo raro de vitiligo que tratava, onde quase todo o corpo perde a pigmentação. O dermatologista Igor Manhães explica o vitiligo. “É uma doença de pele de causa autoimune. Ou seja, a pessoa tem um mecanismo em que as próprias células de defesa atacam outras do corpo, nesse caso, os melanócitos produtores da melanina, pigmento que dá cor a pele. Como toda doença autoimune, também tem influência emocional. Em períodos de estresse cursam com piora e aumento das lesões claras do paciente ou aparecimento de novas. Dessa forma, o vitiligo piora com estresse mas esse não pode ser infligido propositalmente a uma pessoa”, destaca o especialista. “Os tratamentos podem ser realizados com corticóides tópicos, orais ou injetáveis e fototerapia, onde o paciente é exposto a luz em cabines próprias estimulando a repigmentação das lesões de pele. Em pouquíssimos casos, a extensão das lesões pode comprometer área maior que da pele sã, e para alguns pacientes pode ser ofertada a possibilidade de clarear o restante da pele que mantinha a cor original. Lembro, que são pouquíssimas essas situações e essa conduta por ser muito polêmica. No caso do Michael Jackson, é sabido que ele vivia sob grande pressão emocional e não se sabe se realmente optou por tratar seu vitiligo ou deixou a doença progredir e tentou clarear a pele. Assunto muito controverso, levantado recentemente na mídia, não se pode dizer que o cantor queria ‘se tornar branco’ mas o vitiligo foi uma doença que o afligia e não podemos afirmar quais foram as condutas terapêuticas adotadas quando ele era vivo”.

“O vitiligo piora com estresse mas esse não pode ser infligido propositalmente a uma pessoa”, destaca o dermatologista Igor Manhães

A conta oficial do ídolo pop no Instagram, coincidentemente ou não, se pronunciou após as declarações de Karol no Big Brother Brasil: “‘Sou um negro americano e tenho orgulho de ser um negro americano”, diz a legenda do post. “Michael Jackson era um verdadeiro pioneiro e ativista. Por meio de sua música e curtas, ele compartilhou a mensagem de amor, paz e igualdade”, escreveu sua equipe. O post celebra o mês da história negra nos Estados Unidos.

 

(Reprodução Instagram)

O modelo e músico Vitor Maccla se pronunciou em seu Instagram sobre a fala da rapper em rede nacional: “Alô @karolconka o Michel Jackson não quis ficar todo branco. Na verdade, ele tinha um tipo raro de vitiligo que é o vitiligo universal. Desde criança sofri preconceito por ter vitiligo, e uma das frases que mais ouvia era a de que eu queria ficar branco como o Michael. Este tipo de fala produz narrativas preconceituosas e atacam o bem-estar de um grande número de pessoas que convivem com vitiligo. Quem tem vitiligo não quer mudar sua origem racial. O vitiligo não muda a identidade racial de ninguém”.

Vitor Maccla: "Quem tem vitiligo não quer mudar sua origem racial. O vitiligo não muda a identidade racial de ninguém" (Reprodução Instagram)

Vitor Maccla: “Quem tem vitiligo não quer mudar sua origem racial. O vitiligo não muda a identidade racial de ninguém” (Reprodução Instagram)

Em conversa com Vitor o site conseguiu esclarecer melhor o tema. Em seu post você reforça o desconhecimento e preconceito acerca da condição. Qual o prejuízo de uma fala como a da Karol Conká para tantos telespectadores? “Esta fala fere as narrativas de afirmação racial que o próprio Michael Jackson já deu. Inclusive em entrevista no programa da Oprah Winfrey. Acontece que ele desenvolveu um tipo raro de vitiligo o vitiligo universal. Sim! Existem vários tipos de vitiligo: como o focal, segmentar, mucosal , acrofacial , comum e o universal. O vitiligo universal é considerado raro e acomete cerca de 70 a 80% do corpo da pessoa, ausentando na maioria dos casos a melanina por completo da pele do indivíduo. Afirmar o que ela disse categoricamente em um programa de rede nacional ofendeu toda uma comunidade de pessoas que vivem com vitiligo no Brasil”, desabafa Vitor.

Muitas pessoas têm inúmeras dificuldades em conseguir emprego, se relacionar socialmente. Então, tecer narrativas de empoderamento sobre o vitiligo é cada vez mais necessário” (Foto: Vinicius Costa)

Muitas pessoas têm inúmeras dificuldades em conseguir emprego, se relacionar socialmente. Então, tecer narrativas de empoderamento sobre o vitiligo é cada vez mais necessário” (Foto: Vinicius Costa)

E acrescenta: “Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, quase um milhão de pessoas só no Brasil convivem com o vitiligo. A doença acomete 0,5% de pessoas em todo o mundo. No mundo comemora-se no dia 25 de junho, data de falecimento do Michael, o Dia Mundial de Conscientização do Vitiligo. Michael é considerado o ícone do vitiligo por toda comunidade. Colocar esse discurso de que ele não assumia sua cor, sua raça, é construir uma narrativa infundada sobre o seu vitiligo e sua negritude. Falas como essa da Karol me remetem à minha infância na década de 1990, onde o preconceito era muito forte. Lembro que a maioria dos bullying que eu sofria eram associados a piadinhas do tipo: “Você vai ficar que nem o Michael Jackson!”. É preciso lembrar também que toda a comunidade do vitiligo reagiu prontamente nas redes sociais contra essa fala. Todos nós nos sentimos atacados pela desinformação. A condição característica é algo que ainda gera muito preconceito no cotidiano de quem a vive. Muitas pessoas têm inúmeras dificuldades em conseguir emprego, se relacionar socialmente. Então, tecer narrativas de empoderamento sobre o vitiligo é cada vez mais necessário”.

O modelo levanta ainda uma reflexão sobre o tipo de influência que as figuras públicas podem ou devem exercer quando participam de uma atração com esse alcance: “Essa tônica de trazer ‘influenciadores’ tem sido prática recorrente no programa, mas nos coloca frente aos seguintes questionamentos: quem são essas pessoas que nós seguimos na internet? Quem são elas de fato na vida real? O Big Brother é a vida real? O fato é que tudo que se fala lá dentro pode ecoar de um modo muito maior. No atual sistema de informação em que vivemos, a mídia constrói e tece narrativas com uma velocidade muito maior do que em outros tempos. A responsabilidade do que se fala lá dentro deve ser maior, bem como o cuidado que o programa tem que ter em desenvolver as suas edições. E também em relação ao cuidado da direção do programa com a saúde mental dos participantes que ficam sujeitos à tamanha exposição”.

Os participantes do Big Brother Brasil 21: entre anônimos, artistas e influenciadores (Divulgação/ Globo)