BBB21: Em rede nacional, o cancelamento radical entre ‘brothers’ com discurso extremo que excluí sem direito à defesa

Os 20 participantes do BBB 21 no início do jogo há uma semana (Reprodução)

*Por Brunna Condini

Julgamento, perdão, cancelamento, violência verbal, condutas abusivas… Quem pode julgar ou perdoar em um reality? Essas são algumas das questões que vêm sendo levantadas na nova edição do BBB, que justamente começou com um dos temas eleitos pelos próprios participantes: ‘cancelar o cancelamento’. Será? Era de se esperar que o Big Brother Brasil 21 se tornasse uma panela de pressão, mas não tão rápido. Nesta segunda-feira (dia 1º), foi o dia do ‘Jogo da Discórdia’ e o desafio dos participantes foi opinar sobre quem eram os ‘canceladores’ do BBB21, ou seja, quem julgava ‘de cima para baixo’ outros participantes. A proposta do jogo repercutiu intensamente na internet.

Nos últimos dias, o assunto ‘cancelamento’ esteve na roda mais do que nunca. Conflitos ao redor de Lucas Penteado vem agitando a atração. O comportamento do ator na festa Herança Africana, no sábado (dia 29) foi muito criticado pelos companheiros de confinamento. No entanto, as tretas pesadas que duraram a madrugada até a tarde de segunda-feira quase levaram Lucas a abandonar o reality.

Lucas Penteado viveu conflitos com vários participantes da casa na festa Herança Africana (Reprodução)

Aqui fora, a jornalista Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, falou sobre as atitudes do artista e a reação da cantora Karol Conká, que, segundo muitos internautas, beirou a tortura psicológica: “Sou mãe de um menino preto e educo meu filho explicando para ele a importância do respeito e do limite, mas acima de tudo do amor próprio e que ninguém tem o direito de tratar mal. O que essa mulher (Karol Conká) tem feito é de uma perversidade sem tamanho. Nada justifica essa postura. Sim, no dia da festa Lucas Penteado foi inconveniente, errou, mas buscou se redimir. É possível não querer mais se relacionar com ele, mas jamais promover tamanha perversidade com intuito de desestabilizar o jovem. (…). Atacar o emocional de alguém também é ser violento! Que alguém adote alguma postura, porque ela não é obrigada a conviver com ele e muito menos a gente de assistir esse espetáculo de horrores promovido por uma mulher considerada uma grande artista, mas que tem escolhido verdadeiramente tripudiar sobre a dor de alguém. O tombo quando chegar vai derrubar”.

A fala da jornalista deu um bom resumo dos conflitos em que o participante esteve envolvido. O fato é, que de lá para cá, Lucas segue isolado. Por outro lado, nas redes sociais, muitos acreditam que participantes como, e principalmente, Karol Conká, e também Fiuk, Nego Di, Camilla de Lucas andam pegando pesado, muito pesado. A hashtag #KarolConkaExpulsa foi parar nos trend topics do Twitter. O momento mais forte foi quando a cantora Karol Conká gritou com Lucas: “Só vai comer quando eu sair da mesa. qualquer coisa me bota no paredão, que eu tenho minha vida, minha carreira bonita lá fora”. A reflexão proposta aqui não é sobre os limites que Lucas Penteado tenha ultrapassado e, sim, sobre a prática do julgamento que leva a comportamentos intolerantes até para quem defende a boa troca. É sobre quem tem medo de ser ‘cancelado’ e pode acabar ‘cancelando’ ao redor.

Tribunal BBB21

O excesso de ‘discursos’ e ‘regras’ ditados nesta edição por alguns participantes já vem incomodando internamente, embora tudo ainda esteja meio ‘em cima do muro’. Recentemente Carla Diaz apontou quando viu Nego Di dar mais uma ‘lição’ em Lucas: “É muita palestrinha”.

(Reprodução Twitter)

Do lado de fora, a cantora Ludmilla e Jojo Toddynho se revoltaram com as atitudes de Karol Concá em relação a Lucas. Emicida, Felipe Neto, Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos também se referiram  ao ocorrido nas redes. E na internet, mais de 400 mil tweets pediram que a cantora seja expulsa por ‘torturar a saúde psicológica’ do participante. Teve até quem na noite de ontem foi até a porta do Projac pedir a expulsão de Karol Conká, cujos números de seguidores vem descendo ladeira abaixo nas redes sociais com suas falas preconceituosas mesmo com assessoria divulgando um pedido de desculpas.

“O programa está mostrando que se formou um tribunal paralelo dentro da casa, numa tentativa de punir participantes que incomodam os demais. Lucas é o alvo da vez. Mas os demais homens já foram acusados de portar masculinidade tóxica pela Lumena. Fiuk, por exemplo, tenta limpar a barra sendo um personagem solidário que não convence, já que ataca Juliette. Karol Conká, uma das juízas desse tribunal paralelo, derrapou no discurso antipreconceito e não faz ideia de que, aqui fora, já foi acusada até de xenofobia (quando criticou a paraibana Juliette). Esse papel de juízes de fachada só serve para manipulação entre eles mesmos, aqui fora o ‘Supremo Tribunal’ permanece controlado pelo telespectador, sem paciência para quem não entende a bandeira que diz defender”, observa o pesquisador e especialista em teledramaturgia Valmir Moratelli.

“Afinal, podemos estar começando a perceber que é possível lacrar sem tombar ninguém. E para isso, um discurso mais humano e horizontal possa ser uma ótima saída” (Reprodução)

A psicóloga Júlia Maia esclarece ainda sobre as consequências do comportamento. “Quem cancela se coloca no lugar de juiz do mundo, sem a percepção da própria humanidade, apontando para os erros alheios com uma severidade de caráter repressivo sem tamanho”, salienta. “Dificilmente pessoas que têm esta força de repressão conseguem alinhá-la à maleabilidade e ao jogo de cintura que a vida em sociedade e o reality necessitam. Somos seres humanos e nessa condição, estamos em constante transformação. Se definir como detentor da verdade e partir para julgamentos que cancelam o outro, na prática, se opõem à humanidade que a vida em sociedade necessita. Não podemos esquecer que estamos vendo no BBB a mesma política de cancelamento radical que observamos na internet, um discurso extremo que excluí sem direito à defesa. Talvez, o que nos chame a atenção seja o fato de que, diferente das redes sociais, onde as ações se limitam a alguns caracteres, agora as personalidades são observadas 24 horas em seus discursos e ações, tornando o contrataste das falas para as atitudes mais evidentes. Do ponto de vista psicológico, o autoritarismo de opiniões gera inúmeras consequências, não só para quem é cancelado, como para quem cancela. A cultura do cancelamento, onde o que me parece ser o mais importante é lacrar, não traz benefícios. Não à toa, os motivos e as consequências do cancelamento têm chamado tanto atenção no BBB21. Afinal, podemos estar começando a perceber que é possível lacrar sem ‘tombar’ ninguém. E para isso, um discurso mais humano e horizontal possa ser uma ótima saída”.