*Por Brunna Condini
É hoje! Nesta segunda-feira tem início a 21ª temporada do ‘Big Brother Brasil’. Com 20 moradores, entre inscritos e convidados, o reality show comandado por Tiago Leifert vai oferecer ao público 100 dias (tempo superior às outras edições) de entretenimento e voyeurismo das relações humanas. A edição, já chamada de ‘o Big dos Bigs’, promete!
Convidamos o especialista em teledramaturgia e pesquisador de audiovisual Valmir Moratelli, para comentar a aguardada edição. “É interessante perceber a escolha dos participantes. Pela primeira vez há um número significativo de negros, sendo quatro mulheres (Karol Conká, Camilla de Lucas, Pocah e Lumena) e cinco homens (Lucas Penteado, Nego Di, Projota, João Luiz e Gilberto). O que isso significa? Antes do jogo começar, pode parecer que não significa nada ou quase nada. Mas já diz muito sobre a tendência da emissora de estar em sintonia com o apelo de grupos da sociedade, que exigem ser representados na grade televisiva”.
A mistura aposta na pluralidade e envolve o modelo e professor de educação física Arcrebiano; o instrutor de crossfit capixaba Arthur; o fazendeiro Caio ;de Anápolis, Goiás; a influenciadora carioca Camilla de Lucas; a atriz Carla Diaz; o ator Fiuk, o pernambucano Gilberto; o professor mineiro João Luiz ; a advogada e maquiadora paraibana Juliette. E ainda, a cantora Karol Conká ; a modelo e influenciadora cearense Kerline ; o ator paulista Lucas Penteado ; a psicóloga e DJ baiana Lumena ; o comediante Nego Di; a funkeira carioca Pocah, o rapper Projota, o cantor sertanejo Rodolffo, a consultora de marketing Sarah, a dentista Thaís e a youtuber Viih Tube.
Por decisão popular, Lumena, Juliette e Arthur – da Pipoca – e Fiuk, Viih Tube e Projota – do Camarote – já entram imunes na primeira semana de jogo e ocupam, provisoriamente, um local à parte, longe dos demais confinados. Além disso, caberá aos seis, em consenso, indicar alguém ao paredão. Os 14 participantes da casa principal nem imaginarão que têm companhia de outros moradores até o momento do encontro.
A atração que teve como vencedora a médica negra Thelma Assis em 2020, aumentou a aposta em diversidade para dar a tônica do jogo. Além de ter o maior número de negros como participantes da história do programa, também terá o maior número de jogadores LGBTQIA+ em sua história. Do camarote, as cantoras Karol Conka e Pocah já declararam em entrevistas que são bissexuais. Já segundo o site Uol, João Luiz e Gilberto, integrantes da Pipoca, são gays. A psicóloga e DJ Lumena, por sua vez, é lésbica.
Se no BBB20 vivíamos ainda os primeiros momentos da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social, neste, quase um ano se passou, muitas mortes no país (217.037 até hoje), crises políticas, econômicas e sociais. E se pensarmos, que dentro da casa terão participantes declaradamente engajados e preocupados com a realidade ao redor, potentes em seus discursos, podemos já pensar em discussões acaloradas. Isso, dentro de um confinamento, pode gerar grandes reflexões apesar do calor da ‘panela de pressão’ que a convivência no reality pode se tornar.
Segundo Valmir Moratelli, esta será a primeira edição a ser realizada ainda sob os ecos recentes do movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), que voltou a ganhar espaço após o cruel assassinato de George Floyd, em Mineápolis, em maio passado”, observa Moratelli. “A escolha dos participantes também chama a atenção pela característica de seus discursos como figuras públicas. Desses apenas João e Lumena não são conhecidos do público. Karol Conká estampa na música o feminismo negro, assim como Pocah, que reverbera o empoderamento nas batidas do funk. E o que dizer da obra de Projota, um manifesto sobre a situação do país?”.
Participação como ‘ato político’?
Com uma seleção tão plural, não é fácil apostar de cara em um ‘queridinho’ da preferência do público. Até porque os ‘dados’ ainda não rolaram. Valmir Moratelli destaca ainda, que o BBB tem se utilizado dos elementos efervescentes na sociedade, pretendendo acompanhar seus passos. “Tal como ocorreu na última edição, em que a médica Thelminha levou o prêmio, os participantes negros do reality têm uma missão e tanto pela frente. Serem vozes de uma importante parcela da população exausta de ser invisibilizada. Mas só lembrando que é dever de todos, independentemente da cor ou gênero, combater os discursos de ódio e intolerância entranhados nessa onda conservadora que assola o país desde 2016. A maior participação de negros em TV é uma conquista sem volta, abre novas frentes de trabalho e outras visões para a sociedade. E isso vale muito mais do que o prêmio de um reality”, analisa.
“O fato de ter hoje participantes ‘menos alienados’ ou seja, mais preocupados com seus discursos políticos, mais engajados nas questões sociais, reflete exatamente o momento que atravessamos. É interessante observar este percurso da escolha dos participantes nos últimos 20 anos e ver como isso marca diferentes posições que a sociedade atravessou. Já tivemos, por exemplo, participantes que venceram o programa e eram considerados alienados. A própria atração já foi taxada de que não faz pensar, não traz nada de novo. E se pensarmos, é exatamente o contrário. Claro que o primeiro objetivo do BBB é entretenimento, mas não é só isso. A versão Brasil deste reality mostra que ele também reflete questões importantes e que estão enraizadas em nós e que o tempo todo se alteram. Pode ser que o BBB25 – e acredito que tem fôlego para isso – não precise trazer mais esta questão racial tão evidente, esteja mais diluída, por exemplo. Pode ser que esta conquista já tenha avançado bem. E têm pautas que o Big Brother ainda precisa avançar, como o fato de ter um casal gay lá dentro. Ainda parece ser um assunto tabu, quem sabe nesta edição isso se desfaça?’.
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