BBB21 com ‘participações políticas’? Pluralidade do elenco analisada pelo pesquisador de audiovisual Valmir Moratelli


Hoje, após a exibição de ‘A Força do Querer’ na Globo, começa o BBB 21, com participantes para lá de interessantes e cheios de atitude. As expectativas são grandes e as relações prometem levantar questões efervescentes na sociedade, além daquele entretenimento básico, é claro! Vem saber!

*Por Brunna Condini

É hoje! Nesta segunda-feira tem início a 21ª temporada do ‘Big Brother Brasil’. Com 20 moradores, entre inscritos e convidados, o reality show comandado por Tiago Leifert vai oferecer ao público 100 dias (tempo superior às outras edições) de entretenimento e voyeurismo das relações humanas. A edição, já chamada de ‘o Big dos Bigs’, promete!

Convidamos o especialista em teledramaturgia e pesquisador de audiovisual Valmir Moratelli, para comentar a aguardada edição. “É interessante perceber a escolha dos participantes. Pela primeira vez há um número significativo de negros, sendo quatro mulheres (Karol Conká, Camilla de Lucas, Pocah e Lumena) e cinco homens (Lucas Penteado, Nego Di, Projota, João Luiz e Gilberto). O que isso significa? Antes do jogo começar, pode parecer que não significa nada ou quase nada. Mas já diz muito sobre a tendência da emissora de estar em sintonia com o apelo de grupos da sociedade, que exigem ser representados na grade televisiva”.

A mistura aposta na pluralidade e envolve o modelo e professor de educação física Arcrebiano; o instrutor de crossfit capixaba Arthur; o fazendeiro Caio ;de Anápolis, Goiás; a influenciadora carioca Camilla de Lucas; a atriz Carla Diaz; o ator Fiuk, o pernambucano Gilberto; o professor mineiro João Luiz ; a advogada e maquiadora paraibana Juliette. E ainda, a cantora Karol Conká ; a modelo e influenciadora cearense Kerline ; o ator paulista Lucas Penteado ; a psicóloga e DJ baiana Lumena ; o comediante Nego Di; a funkeira carioca Pocah, o rapper Projota, o cantor sertanejo Rodolffo, a consultora de marketing Sarah, a dentista Thaís e a youtuber Viih Tube.

Os participantes da edição 2021 do Big Brother Brasil que começa hoje (Divulgação)

Os participantes da edição 2021 do Big Brother Brasil que começa hoje (Divulgação)

Por decisão popular, Lumena, Juliette e Arthur – da Pipoca – e Fiuk, Viih Tube e Projota – do Camarote – já entram imunes na primeira semana de jogo e ocupam, provisoriamente, um local à parte, longe dos demais confinados. Além disso, caberá aos seis, em consenso, indicar alguém ao paredão. Os 14 participantes da casa principal nem imaginarão que têm companhia de outros moradores até o momento do encontro.

O ator e cantor Fiuk, do grupo Camarote, é um dos imunizados por escolha do público (Divulgação)

O ator e cantor Fiuk, do grupo Camarote, é um dos imunizados por escolha do público (Divulgação)

A atração que teve como vencedora a médica negra Thelma Assis em 2020, aumentou a aposta em diversidade para dar a tônica do jogo. Além de ter o maior número de negros como participantes da história do programa, também terá o maior número de jogadores LGBTQIA+ em sua história. Do camarote, as cantoras Karol Conka e Pocah já declararam em entrevistas que são bissexuais. Já segundo o site Uol, João Luiz e Gilberto, integrantes da Pipoca, são gays. A psicóloga e DJ Lumena, por sua vez, é lésbica.

Se no BBB20 vivíamos ainda os primeiros momentos da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social, neste, quase um ano se passou, muitas mortes no país (217.037 até hoje), crises políticas, econômicas e sociais. E se pensarmos, que dentro da casa terão participantes declaradamente engajados e preocupados com a realidade ao redor, potentes em seus discursos, podemos já pensar em discussões acaloradas. Isso, dentro de um confinamento, pode gerar grandes reflexões apesar do calor da ‘panela de pressão’ que a convivência no reality pode se tornar.

A cantora Karol Concá é conhecida pelo talento e a potência em seus discursos (Divulgação)

A cantora Karol Concá é conhecida pelo talento e a potência em seus discursos (Divulgação)

Segundo Valmir Moratelli, esta será a primeira edição a ser realizada ainda sob os ecos recentes do movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), que voltou a ganhar espaço após o cruel assassinato de George Floyd, em Mineápolis, em maio passado”, observa Moratelli. “A escolha dos participantes também chama a atenção pela característica de seus discursos como figuras públicas. Desses apenas João e Lumena não são conhecidos do público. Karol Conká estampa na música o feminismo negro, assim como Pocah, que reverbera o empoderamento nas batidas do funk. E o que dizer da obra de Projota, um manifesto sobre a situação do país?”.

O rapper Projota está no BBB21 e também ganhou imunidade na primeira semana (Divulgação)

O rapper Projota está no BBB21 e também ganhou imunidade na primeira semana (Divulgação)

Participação como ‘ato político’?

Com uma seleção tão plural, não é fácil apostar de cara em um ‘queridinho’ da preferência do público. Até porque os ‘dados’ ainda não rolaram. Valmir Moratelli destaca ainda, que o BBB tem se utilizado dos elementos efervescentes na sociedade, pretendendo acompanhar seus passos. “Tal como ocorreu na última edição, em que a médica Thelminha levou o prêmio, os participantes negros do reality têm uma missão e tanto pela frente. Serem vozes de uma importante parcela da população exausta de ser invisibilizada. Mas só lembrando que é dever de todos, independentemente da cor ou gênero, combater os discursos de ódio e intolerância entranhados nessa onda conservadora que assola o país desde 2016. A maior participação de negros em TV é uma conquista sem volta, abre novas frentes de trabalho e outras visões para a sociedade. E isso vale muito mais do que o prêmio de um reality”, analisa.

Thelma Assis, vencedora do BBB20: “Os participantes negros do reality têm uma missão e tanto pela frente. Serem vozes de uma importante parcela da população exausta de ser invisibilizada” (Divulgação)

“O fato de ter hoje participantes ‘menos alienados’ ou seja, mais preocupados com seus discursos políticos, mais engajados nas questões sociais, reflete exatamente o momento que atravessamos. É interessante observar este percurso da escolha dos participantes nos últimos 20 anos e ver como isso marca diferentes posições que a sociedade atravessou. Já tivemos, por exemplo, participantes que venceram o programa e eram considerados alienados. A própria atração já foi taxada de que não faz pensar, não traz nada de novo. E se pensarmos, é exatamente o contrário. Claro que o primeiro objetivo do BBB é entretenimento, mas não é só isso. A versão Brasil deste reality mostra que ele também reflete questões importantes e que estão enraizadas em nós e que o tempo todo se alteram. Pode ser que o BBB25 – e acredito que tem fôlego para isso – não precise trazer mais esta questão racial tão evidente, esteja mais diluída, por exemplo. Pode ser que esta conquista já tenha avançado bem. E têm pautas que o Big Brother ainda precisa avançar, como o fato de ter um casal gay lá dentro. Ainda parece ser um assunto tabu, quem sabe nesta edição isso se desfaça?’.