*Por Brunna Condini
Vamos falar de rivalidade feminina no BBB23? Desta vez faltou a ‘puxada de orelha’ do Tadeu Schmidt em Key Alves, Gustavo (Caubói) e Fred Nicácio, pelos comentários feitos sobre Larissa? O trio mencionou por diversas vezes que a professora de educação física ‘dá em cima’ de Gustavo. Key e Fred inclusive se referiram à ela com xingamentos machistas do tipo ‘piranha’ e ‘cachorra’. Lamentável desde sempre, mas vindo de duas pessoas que no reality (e ao que parece na vida), pregam a liberdade de ser, é para se pensar. Nesta sexta-feira (10), Key arrematou o Superpoder Curinga, que dá direito a mandar alguém direto para o Paredão, sem prova Bate e Volta. Será que ela indica Larissa ou vai deixar essa indicação para o parceiro Gustavo, que conquistou a liderança novamente ontem? Vamos conferir domingo.
Como por aqui desejamos plantar menos julgamentos e mais pensamentos, convidamos a psicóloga Maria Rafart, a ex-BBB 12 e influenciadora digital Jake Leal, e uma espectadora do BBB, a DJ Fernanda Fox, DJ residente do JET da Glória Groove, lésbica e feminista, para pensar junto conosco sobre o tema: por que achamos natural esse tipo de rivalidade e até quando vamos validar esse modo de agir entre mulheres? Vem que tem textão e reflexão!
Fato é, que estimular a rivalidade entre duas mulheres não é engraçado, nem tão pouco romântico. E muitas vezes vimos Gustavo quase se gabar ao afirmar que Larissa fica ‘atrás dele’, inclusive indo conversar quando o ‘alecrim dourado’ está tomando banho. Nos poupe, não é mesmo? Os três têm sido fortemente criticados nas redes por conta do desrespeito à Larissa, que segue em uma relação com o outro Fred na atração, e sequer imagina o nível (baixo) de comentários dos adversários no game sobre ela. Key também tem demonstrado ciúmes em relação à Bruna Griphao quando a atriz se aproxima do namorado. Insegurança extrema que vem estimulando a rivalidade em tempos que deveriam exaltar a sororidade?
“O patriarcado é uma estrutura que baseia a nossa sociedade, na qual homens subjugam mulheres, seja de forma direta, como indireta também. A desunião entre mulheres ajuda a perpetuar este mecanismo: mulheres se comportam como rivais uma das outras, como se estivessem o tempo todo competindo entre si. Exemplo clássico deste tipo de rivalidade é a questão estética: é muito comum mulheres se referirem umas às outras como ‘feias’, ‘gordas’, ‘velhas’, no propósito de colocar a si mesmas em uma condição presumidamente superior. Inclusive o uso destes adjetivos que mencionei, de forma pejorativa, é algo altamente questionável: por quê, afinal, usar um conceito estático de beleza?”, indaga a psicóloga.
“A rivalidade feminina se dá também através da difamação: chamar outra mulher de ‘vadia’, por exemplo, a colocaria em uma condição moral inferior. Uma mulher ‘séria’ não se comportaria de forma vulgar, como se o seu valor estivesse todo baseado na sexualidade seguindo cânones de moral conservadora. Para termos uma ideia do quão prejudicial é este mecanismo, basta trocar as posições, e ver o quão absurdo seria se um homem se referisse ao rival como ‘feio’ ou ‘vulgar’ ou ‘homem fácil’. Simplesmente não conseguimos imaginar este mecanismo funcionando entre os homens! Eles não são criados para competir entre si, e sim, para estimular a competição entre mulheres. Triste realidade”, completa.
Na pele
Convidamos a baiana Jakeline Leal, que tinha 22 anos quando entrou no reality há 10 anos e era estudante de zootecnia na época, para dividir sua experiência em relação ao tema. Jake se mostrava uma participante intensa e chegou a afirmar que “chorava fácil”, até em ‘inauguração de mercado’, evidenciando sua sensibilidade. Mas mostrou força também, tanto que logo na primeira prova de imunidade ficou 30 horas dentro de um carro sem beber água, comer ou ir ao banheiro, tendo sido a penúltima a deixar a prova. Fez aliança com Kelly e Fabiana, mas também conquistou desafetos. Tanto que na 12 a edição que contou com oito mulheres e oito homens exatamente, não conquistou o apoio da maioria feminina, não resistindo ao segundo Paredão que disputou. Faltou sororidade ou afinidade? “Senti muita rejeição e perseguição dos integrantes da casa na minha edição. Fui recordista na prova de resistência passando quase 30 horas dentro de um carro, também ganhei um salto de bungee jump por ser a mais animada da festa pela votação do público, mas quando voltei, grande parte da casa ficou me perseguindo, me vetando das provas e me mandou para dois Paredões seguidos. Lembro que teve menina que disse que não tinha votado em mim e votou. A rivalidade feminina sempre existiu, só estamos enxergando isso como algo agressivo agora, mas sempre esteve lá”, diz.
E opina: “Eu sou muito autêntica e espontânea, pessoas que se destacam sempre vão ser as que levam mais ‘pedradas’, afinal ninguém ‘joga pedra em árvore que não dá fruto’. A Key pode se sentir insegura se comparando à outra ou insegura com o relacionamento em si, isso faz com que ataque outra mulher para se sentir superior. Se as pessoas concordam com seus ataques, ela tem a sensação de aprovação que precisa para se sentir melhor”.
Rivalidade feminina como entretenimento
Espectadora do BBB e fã de realities, a DJ Fernanda Fox, pontua sobre o tema. “A gente cresce ouvindo sobre rivalidade, disputando espaços entre mulheres como se não pudéssemos nos unir, como se não pudéssemos ir além juntas. Difícil ver que uma emissora com o tamanho da Globo ainda venda rivalidade feminina como entretenimento. Não é entretenimento, nunca foi e nunca será. Acho abominável que essas cenas sejam transmitidas, não somente estimula isso entre mulheres que assistem, como também dá força e colabora para que seja normalizado. Claramente a Key não enxerga mulher alguma como sua aliada, mas sempre como oponente. Ela mesma deixou claro que não gosta e não tem amizades com mulheres. Isso é estimulado desde que nos conhecemos por gente”, salienta.
Frisando que é é justamente a falta de união entre as mulheres que sustenta o patriarcado, diferente de como costumeiramente se estabelecem as relações masculinas, ela acrescenta: “Os homens se amam, se idolatram, vemos isso, principalmente, quando se apoiam mesmo em casos negativos sobre outros homens. Nós deveríamos ser assim, nos apoiar, ensinarmos umas às outras que juntas, somos mais fortes. A Key fala tanto da Bruna, mas a Bruna está sempre lá… enaltecendo, elogiando, criando uma rede de afeto da maneira que é possível dentro do reality. O dia que juntarmos mais forças do que usarmos contra as outras, lutando para conquistar homens, disputando como se não pudéssemos caminhar unidas, a gente derruba o patriarcado e nasce uma nova era”.
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