*Por Brunna Condini
Eliminado do BBB23, Gabriel Tavares (Fop) tem lidado com a repercussão da sua saída em meio a polêmicas e foi duramente criticado por conta das suas atitudes grosseiras e consideradas abusivas no relacionamento com outra participante, Bruna Griphao. Tanto, que contou até com alerta ao vivo dado por Tadeu Schmidt. Seu comportamento considerado abusivo em relação à Bruna, movimentou fãs do reality e internautas. A hashtag #foragabriel ficou nos Trending Topics no Twitter. O catarinense de 25 anos fez questão de demonstrar arrependimento, lá dentro e aqui fora, falando de um processo de aprendizado, no entanto o espectador não passa mais ‘pano’, nem no BBB.
“O público do Big Brother está se alfabetizando ao longo dos anos em relação às pautas identitárias, ‘desculpas’ não são mais uma solução. As relações pessoais apresentadas no programa precisam desenvolver novos elementos e não repetir velhos dramas. A cada edição, novas pautas, por isso se torna latente o machismo voltando em mais uma edição. O público atento a isso, não aceita erros já cometidos anteriormente”, analisa Valmir Moratelli, pesquisador em teledramaturgia, jornalista e roteirista.
Nas redes, evidenciaram o comportamento de Gabriel violento com uma mulher e preconceituoso com outro participante, Bruno: Gabriel comparou o cabelo dele à textura de grama sintética, e em outro episódio, também fez um comentário gordofóbico sobre o corpo do alagoano. E um dia antes da decisão do Paredão, chamou o colega de ‘Penélope Gordosa’, em referência à personagem Penélope Charmosa, que sempre usava rosa —uma das cores que Bruno curte.
Sendo o BBB hoje bem mais do que um espaço de convivência em busca do ‘ouro’, já que muitas pautas importantes foram colocadas em destaque nas últimas edições, o que diria para quem ainda acredita que tanto o programa quanto o público foram duros com Gabriel? “O julgamento não é rígido a partir do momento que estamos discutindo essas pautas aqui fora já há algum tempo. É preciso evoluir. É preciso se discutir, mas também sabendo que racismo, homofobia e feminicídio são agressões puníveis por lei. Existe uma constituição que prega leis duras para estes tipos de crime. Então, se um rapaz branco, privilegiado, de classe média e que participa de um programa com uma audiência de milhões de espectadores, entre crianças, adolescentes, homens e mulheres, comete a besteira de falar durante uma conversa com a menina que estava se relacionando, que poderia dar uma cotovelada nela, no mínimo está fora da realidade e não está preparado para o convívio social. Esse tipo de comportamento é absurdo e aciona gatilhos perigosos, em uma sociedade que ainda sofre altos e alarmantes índices de feminicídio. Então é óbvio que ele teve que ser punido, a saída dele mostrou isso”, frisa Moratelli.
Muito a caminhar
Consequências
“Como psicóloga e testemunha do sofrimento de pessoas que são vítimas de falas preconceituosas e de relacionamentos abusivos, só tenho a comemorar. A roda não foi inventada: a diferença, é que hoje mais pessoas se dão conta de que comportamentos e falas deste padrão não podem persistir. E isto se revela no resultado de eliminações em realities também – a tese de ‘entrei no BBB para aprender e sair diferente’ não pega mais”, observa a terapeuta Maria Rafart.
“O comportamento de Gabriel foi típico daqueles que a gíria chama de ‘hétero tops’. Para o ‘hétero top’, o mundo é androcêntrico (gira ao redor dos homens) e binário (nada do que esteja fora deste espectro deve ser considerado). Foi assim que o machismo resistiu tantos anos na face da Terra, naturalizando relações abusivas. Falas racistas disfarçadas de brincadeira entram no mesmo pacote. A segunda chance de Gabriel terá que passar por uma curadoria de imagem, semelhante àquela de Karol Konká, usando várias estratégias que demonstrem que o rapaz mudou. Se o público vai comprar a ideia ou não, saberemos mais tarde”, completa.
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