*Por Brunna Condini
A estreia do BBB21 na segunda-feira (dia 25) atingiu a melhor audiência desde 2018, alcançando 27,2 pontos, o que superou a estreia da atração no ano passado, que conquistou 25 pontos na largada. Isso só mostra o quanto o formato continua agradando e as mudanças no programa vêm conquistando a atenção do público. O investimento em um cast cada vez mais plural também é um dos principais ingredientes para atrair o interesse, já que um programa como este pode, além de entreter, provocar reflexões com grande impacto nos espectadores.
E por falar em impacto, um pouco antes da estreia do reality, a jornalista, escritora e fundadora do Movimento Corpo Livre, Alexandra Gurgel, fez um post em seu Instagram, em que questionava a atenção com o tema ‘inclusão’ por parte do programa. “Faltou representatividade no BBB pra você? Não dá pra acertar sempre né? Ou dá? Será que fica pro próximo? O que você acha? Comenta! Vale lembrar que ano passado Babu e Victor Hugo trouxeram grandes debates sobre gordofobia na TV e continuamos precisando falar sobre isso! Eu amo assistir! Só queria me sentir representada! E vc?”, escreveu.
Em vídeo do mesmo post, a influenciadora ainda apontou: “Saiu a lista de todo mundo que vai para o BBB e muita gente comentou: “Caramba! Quanta gente preta! Quanta representatividade, é isso aí! Mas é o mínimo para um país que é 57% preto. É o mínimo também para um programa que está na sua 21ª edição. Pela primeira vez a gente tem uma grande representação preta de verdade. E uma galera não teve o mínimo: pessoas gordas, pessoas fora do padrão, pessoas PCD’s, pessoas trans, não tiveram o mínimo de representatividade. A gente ama assistir o programa, também queremos nos sentir representados. Ficou devendo, hein Boninho!”.
Ficou? Existe ou deve existir medida para avançar em representatividade na TV aberta num programa como este? O que o BBB 21 não incluiu? Reflexão posta na mesa, chamamos Maria Carolina Medeiros, doutoranda em Comunicação na PUC-Rio e pesquisadora de narrativas sobre mulheres, e nosso parceiro em matérias que refletem a teledramaturgia, sua área de estudo, o pesquisador Valmir Moratelli, para nos ajudarem a pensar sobre o tema. “Este ‘Big Brother’ foi anunciado como a edição da diversidade, ‘o Big dos Bigs’. De fato, este representa um avanço em relação a edições anteriores pela quantidade de participantes negros, quase a metade. Mas é preciso esclarecer que o termo ‘diversidade’ não comporta apenas brancos/negros. A palavra ‘diversidade’, o seu significado, já sugere uma amplitude, uma abrangência maior. Para um programa ser diverso também precisa abranger outras representações que vão além do corpo negro. É preciso que se tenha obesos, idosos, indígenas, pessoas com deficiência e etc… Eu diria que é impossível representar todo tipo de diversidade em um só programa, porque até entre grupos que já tiveram algum tipo de representação em edições passadas, como participantes idosos, por exemplo, há uma infinita possibilidade de recortes: idosos de periferia, idosos de elite, idosos gays, idosos negros, idosos médicos ou professores. Assim como dentro do termo ‘deficiência’ tem uma vasta diversidade (cego, surdo, cadeirante, anão…). Dentro do termo ‘sexualidade’, a mesma coisa. E por aí vai”, pontua Moratelli.
E acrescenta: “Faço sempre a seguinte comparação: ‘diversidade’ é um grande barco e todo mundo pode pegar carona nele. Se alguém fica de fora desse barco, então ele não pode ser chamado de ‘diversidade’. Arrume outro nome para ele! O avanço dessa edição está em trazer maior participação de negros e negras, isso é um fato a ser mencionado e aplaudido, principalmente porque nossa televisão ainda é marcada por uma branquitude que não corresponde à realidade. Mas não se pode se contentar de que temos agora um ‘Big Brother’ que acalma a ânsia por diversidade. Estamos falando de um programa que se passa no Brasil, um dos países mais miscigenados do mundo, com uma população diversa. A diversidade deve ser entendida em toda sua abrangência, todo mundo é diferente em algum ponto, por isso é um tema que nunca estará encerrado. Devemos lutar pela aceitação do outro, combater todo tipo de preconceito e marcar que as diferenças é que nos fazem únicos e plurais”.
Afunilando: representatividade entre homens e mulheres
Quando pensa no Big Brother Brasil, Maria Carolina Medeiros, observa a necessidade de outro tipo de representatividade ocupando espaços. “No que parece uma busca por assegurar audiência e se alinhar às necessárias pautas sobre diversidade, a TV Globo recrutou 20 participantes para esta edição do BBB, dos quais dez são mulheres. Isso significa que as mulheres estão equiparadas aos homens em representatividade? A resposta é não. O próprio conceito de diversificar já nos dá pistas: diversidade é norteada em relação à branquitude, em relação ao homem. Todo o restante é “outro”. Um grupo que não seja unicamente composto por homens brancos seria diverso. Será mesmo? Mulheres são quase 52% da população brasileira e negros e pardos (homens e mulheres) somam 56%, segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2019. Eis uma consequência da falta de representatividade: se antes, sobretudo os negros, tinham menos espaço no BBB, hoje ter nove participantes não-brancos, entre homens e mulheres, faz parecer que há o que celebrar”, reflete a pesquisadora.
Ela salienta também, que historicamente as mulheres cobram representatividade social em muitos lugares, a TV é mais um deles. “Isso faz com que comemoremos quando há participação feminina, como se o “ser mulher” fosse algo homogêneo. Entretanto, que mulher é essa que aparece na TV? Das dez participantes do BBB 21, seis (a maioria) são brancas. Em que pese o racismo estrutural que define como padrão de beleza a mulher branca, todas as dez têm corpos magros e jovens. Mesmo dentro deste grupo pretensamente diverso, faltam mulheres gordas, mulheres indígenas (há um debate sobre se Pocah é negra ou indígena, mas não se sabe como ela se declara), mulheres trans, mulheres velhas, mulheres portadoras de deficiência. O BBB 21 nos mostra algum avanço e é preciso reconhecê-lo, mas sem perder de vista que falar de representatividade é falar de interseções entre gêneros, raças, corpos, idades e identidades. E isso ainda está longe de acontecer. Sigamos cobrando”.
Faz sentido para vocês? Por aqui, nós do site, seguimos ouvindo, procurando esclarecer, dando espaço e aprendendo. E claro, aguardando as próximas cenas do reality.
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