*Por Felipe Rebouças
Como reconquistar a atenção do público após vinte anos de programa em um cenário de queda de audiência? Parece que a equipe do Big Brother Brasil 20 soube responder esta pergunta. Após edições recentes atingirem recorde mínimo de audiência da Rede Globo para o horário das 23h, o BBB20 mostra que a grife do maior reality show do país ainda tem sua força. Ao selecionar anônimos e digitais influencers para compor o grupo de confinados, a produção apostou alto… e acertou. O resultado pode ser visto diariamente nas redes sociais, na plataforma de streaming da emissora e na própria audiência.
Apenas no Rio e em São Paulo, houve aumento médio de 10% – equivalente a dois pontos – em relação ao ano passado. De acordo com o Ibope, cada ponto em São Paulo representa 75 mil domicílios, enquanto no Rio 47 mil. No primeiro mês, o programa provocou aumento de 70% no consumo semanal da plataforma Globoplay, que oferece serviço de pay-per-view 24 horas. Já nas redes, o impacto é observado tanto no feed de notícias quanto na lista de assuntos mais comentados, principalmente nas noites de paredão e no famigerado Jogo da Discórdia, no qual os participantes expõem “verdades” surdidas uns aos outros. Nas plataformas oficiais do reality, já são mais de um bilhão de impactos (curtidas, comentários e compartilhamentos), 46% acima da última edição.
Seja pela escolha do elenco ou pelas relações formadas no decorrer do programa com base em afinidade, esta edição está movimentando o debate público justamente com as pautas do cotidiano brasileiro atualmente. “O BBB é um recorte da nossa sociedade, é normal que misoginia, machismo, sororidade e feminismo estejam sendo discutidos agora. Porque esses são os assuntos que estamos abordando nos telejornais, nas mesas de bar e no sofá de casa nos últimos anos”, afirma o pesquisador em teledramaturgia, Valmir Moratelli.
Ainda que a estrutura do programa tenha sido mantida, com base em confinamento transmitido full time em rede nacional, a nova configuração do programa, rejuvenescida, com a apresentação de Thiago Leifert, há três anos na função, sucedendo Pedro Bial, tem aumentado também o engajamento do público. “O modelo antigo, baseado em colocar uma lente de aumento no anonimato estava se esgotando. Ao escolher “famosos” e anônimos, o programa atraiu a atenção das pessoas. Todo mundo ficou se perguntando como esses núcleos diferentes iriam interagir. Felizmente rolou a mistura e hoje é difícil distinguir quem estava de cada lado do muro”, comenta Moratelli, fazendo menção ao muro que dividiu famosos e anônimos no primeiro dia de programa.
Além disso, a presença de figuras como Pyong, Manu Gavassi, Mari Gonzalez e Babu Santana, com trabalhos desenvolvidos fora da casa, tanto na música, no Youtube ou no cinema, atrai fã-clubes à participação interativa. Outro elemento importante externo é a casa de vidro, que inseriu Daniel e Ivy ao jogo, trazendo informações novas e atualizando a opinião do público sobre os acontecimentos dentro do confinamento.
Dos cinco eliminados até aqui, quatro são homens. Todos faziam parte do grupo em questão, responsável por dar nota às participantes, inclusive aquelas comprometidas com pessoas de fora da casa, e por plantar uma discórdia da fidelidade, para saber qual das sisters seria capaz de trair o namorado. O único remanescente é Prior. Ele sobreviveu ao paredão do último domingo, que eliminou Boca Rosa, primeira mulher a sair do programa. Para Moratelli, tudo no jogo muda a cada semana, como em uma novela, e Prior foi de vilão à vítima ao se tornar o único que sobrou de seu grupo.
“O programa tenta novelizar a vida. É uma ficção com contornos reais, expressões e emoções reais. Quem é mocinho um dia, pode virar vilão. O casal que faz os olhos de todos brilharem pode ser alvo da casa na reta final. É um entretenimento baseado numa narrativa de novela”, explica o especialista.
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