*Por Brunna Condini
Ela faz cinema e, agora, também televisão. Conhecida do público ao integrar o elenco de filmes como ‘Aquarius’ (2016) e ‘Bacurau’ (2019), Bárbara Colen colhe os louros de sua estreia em novelas, com ‘Quanto Mais Vida, Melhor!’, no horário das sete da Globo. Na trama, ela vive Rose, uma ex-modelo internacional, que parou de trabalhar a pedido do marido, o renomado cirurgião cardíaco Guilherme, vivido por Mateus Solano.
Bárbara aplaude a pluralidade do elenco escalado para a trama escrita por Mauro Wilson, que mistura nomes famosos com rostos ainda pouco conhecidos do grande público. “A sociedade está clamando por diversidade. As pessoas querem se ver representadas, existe uma demanda social para isso. A dramaturgia na TV vem acompanhando as mudanças. Por isso, hoje, eu posso fazer essa mocinha de novela, que bom!”, celebra, acrescentando à análise: “A televisão tanto absorve as transformações de uma sociedade, quanto influencia. Então, saber que muitas mulheres se veem em mim é muito importante, essa mulher negra neste papel, neste lugar. Sou uma negra de pele clara, filha de mãe negra. O colorismo fez muita gente acreditar que não é negra. É muito bom podermos falar sobre isso hoje. No Brasil, a discussão racial tem que ser mais profunda, envolve muitas questões. A complexidade da discussão também diz muito sobre a nossa sociedade. Me orgulho desta identidade, que é o mais importante”, completa.
A atriz já contou que se inspirou na uber model Gisele Bündchen para dar vida à personagem, e aqui detalha mais sobre a escolha: “Ela me inspirou em um lugar até muito parecido com as personagens de cinema que já fiz. Tem essa potência. E para ocupar o lugar que conquistou no mundo, é um ser humano muito inteligente, hábil em relações humanas e muito resiliente. Uma mulher que saiu de uma cidade do interior e ganhou o mundo. Virou um símbolo nacional. A Gisele também tem esse lugar do simples e do elegante juntos. Elaboramos a Rose assim, com uma elegância de estar no mundo”.
Realizada com seu primeiro trabalho em um folhetim, Bárbara exalta o gênero. “Em nosso país a teledramaturgia é o carro-chefe. O Brasil domina com maestria essa linguagem e acho que qualquer ator brasileiro precisa ter contato com ela. Até porque, os atores da minha geração cresceram vendo novela. Até a adolescência, eu era muito noveleira. E é fascinante o alcance que essas tramas têm no Brasil. A sensação de você realmente estar se comunicando com um grupo enorme de pessoas, de várias regiões e classes sociais, me traz uma satisfação imensa como artista”. E observa: “Ser reconhecida nas ruas dá muito frio na barriga (risos). É estar exposta, né? E para muita gente. Milhões de pessoas. Todo dia me assisto e fico nervosa, sou muito perfeccionista. Mas curti muito o processo, dei muita sorte de cair neste grupo. Existe uma escuta, uma horizontalidade, da direção aos colegas. Todos os medos que eu tinha se dissiparam”.
Se na trama dirigida por Allan Fiterman sua personagem é casada com um homem extremamente possessivo e ciumento, que estabelece uma relação de dependência, na vida a história é outra para a atriz. “Sempre fui muito independente. O meu trabalho é prioridade na minha vida. Então, sempre enxerguei as relações como dois seres humanos independentes que se unem para viver coisas juntos, mas cada um com sua própria vida. E para a viver a Rose, tive que sair desse lugar muito certo pra mim, e me colocar na cabeça dela, sem julgamentos. Até porque o marido pediu que ela parasse de trabalhar, mas ela optou por isso. É bonito quando você vê que tem uma escolha ali. No caso dela, por ficar mais perto da família, ter tempo para criar o filho (Antônio, interpretado por Matheus Abreu). Sendo uma escolha, acho que está tudo certo”.
Se tivesse uma segunda chance, como na premissa da novela, o que faria diferente? “Nada. Acho que todas as escolhas que fazemos, trazem a gente para o que somos. Tudo que vivi construiu a Bárbara que sou hoje (se emociona). Me possibilitou chegar onde estou”, reflete a mineira de Belo Horizonte, que antes de abraçar a carreira artística, fez Direito e trabalhou no Ministério Público. “Me orgulho muito da coragem que eu tive para ir em frente. Sou muito coração de manteiga (risos). Falo disso e acabo me emocionando. Acho mesmo que temos que celebrar nossas conquistas e saber que esse caminho trilhei com minhas pernas, às custas de muito trabalho, renúncia, escolhas, dedicação. Me orgulho de ter tido coragem de fazer o que tocava meu coração. Largar uma profissão, abraçar outra e neste tempo fazer um monte de coisas interessantes, alinhadas com o que acredito, meu projeto artístico”.
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