*Por Simone Gondim
A 19ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, exibida neste domingo (11), foi tão melancólica quanto boa parte das cerimônias sem plateia realizadas em meio aos riscos da Covid-19. Em vez de um teatro lotado e dos holofotes do tapete vermelho, um estúdio frio, marcado pela ausência do público e dos indicados, foi o cenário para as apresentadoras Marina Person e Adriana Couto tentarem, sem muito sucesso, dar uma cara de festa ao evento, que durou cerca de duas horas. O grande vencedor da noite foi “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que levou as estatuetas de roteiro original, direção, longa-metragem de ficção, efeitos visuais e montagem de ficção, além de empatar na categoria Melhor Ator – Silvero Pereira, o Lunga, e Fabricio Boliveira, que deu vida a Wilson Simonal na cinebiografia “Simonal”, foram os escolhidos pelo júri.
Na cola de “Bacurau”, outra produção que fez sucesso tanto no Brasil quanto no exterior: “A vida invisível”, de Karim Aïnouz, recebeu o Troféu Grande Otelo de roteiro adaptado, atriz coadjuvante (Fernanda Montenegro), direção de arte, fotografia e figurino. Já o prêmio de Melhor Atriz ficou com Andrea Beltrão, a protagonista de “Hebe – A estrela do Brasil”. A categoria trilha sonora não surpreendeu, sendo os vencedores Wilson Simoninha e Max de Castro, por “Simonal”. E “Cine Holliúdy” abocanhou três prêmios: na versão longa-metragem, ator coadjuvante para Chico Diaz e Melhor Comédia; na TV aberta, foi eleito o melhor seriado.
Infelizmente, os discursos dos premiados não passavam a emoção de quem receberia a estatueta em casa. Como todos foram gravados antes da abertura dos envelopes, predominava o tom protocolar de agradecimento por estar entre os indicados, com algumas menções à importância do cinema para a cultura nacional. O texto lido pelas apresentadoras ao longo da noite também não ajudava – a linguagem corporal das duas, em vários momentos, deixava transparecer um certo desconforto por estarem falando somente com as câmeras.
Dos números musicais, todos gravados remotamente, o que incomodou menos foi o de encerramento, com Pedro Luís e Teresa Cristina cantando três sucessos de Chico Buarque – “Quando o carnaval chegar”, “Vai trabalhar, vagabundo” e “Bye bye Brasil”. Joyce Moreno e Francis Hime fizeram um dueto em “Cinema Brasil”, mas o resultado deixou a desejar, com a sincronia entre os dois visivelmente comprometida, uma vez que os artistas estavam em lugares diferentes. A canção que abriu a cerimônia, “Luzia Luluza”, de Gilberto Gil, interpretada por Paulinho Moska, foi interrompida mais de uma vez por intervenções desnecessárias de Marina Person e Adriana Couto. Embora a letra seja bastante clara e traga o ponto de vista de um homem em um táxi, a caminho de uma sessão de cinema, alguém da organização do evento teve a péssima ideia de botar Marina e Adriana dizendo textos que soavam como uma espécie de adendo aos versos de Gil.
Só resta aos fãs de cinema torcerem para que, em 2021, o desejo de Marina Person no discurso que marcou o fim da cerimônia se torne realidade e a 20ª edição do prêmio seja realizada em um teatro lotado, com direito a uma plateia que vibra a cada resultado e discursos emocionados dos ganhadores.
Confira a lista completa de premiados por categoria:
- Melhor longa-metragem ficção: “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Produção: Emilie Natacha Lesclaux, por Cinemascópio Produções Cinematográficas e Artísticas;
- Melhor longa-metragem documentário: “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, de Marcelo Gomes. Produção: João Vieira Jr. e Nara Aragão, por Carnaval Filmes, e Marcelo Gomes e Ernesto Soto, por Misti Filmes;
- Melhor longa-metragem comédia: “Cine Holliúdy – A chibata sideral”, de Halder Gomes. Produção: Mayra Lucas, por Glaz Entretenimento, e Halder Gomes, ATC Entretenimento;
- Melhor longa-metragem animação: “Tito e os pássaros”, de Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto. Produção: Gustavo Steinberg, por Bits Filmes;
- Melhor longa-metragem infantil: “Turma da Mônica – Laços”, de Daniel Rezende. Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha e Karen Castanho, por Biônica Filmes, Charles Miranda e Cassio Pardini, por Quintal Digital, Cao Quintas, por Latina Estúdio, Marcio Fraccaroli, por Paris Entretenimento, e Daniel Rezende;
- Melhor direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, por “Bacurau”;
- Melhor primeira direção de longa-metragem: Leonardo Domingues, por “Simonal”;
- Melhor atriz: Andrea Beltrão, por “Hebe – A estrela do Brasil”;
- Melhor ator: empate entre Silvero Pereira, de “Bacurau”, e Fabricio Boliveira, de “Simonal”;
- Melhor atriz coadjuvante: Fernanda Montenegro, por “A vida invisível”;
- Melhor ator coadjuvante: Chico Diaz, em “Cine Holliúdy – A chibata sideral”;
- Melhor direção de fotografia: Hélène Louvart, por “A vida invisível”;
- Melhor roteiro original: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, por “Bacurau”;
- Melhor roteiro adaptado: Murilo Hauser, Karim Aïnouz e Inés Bortagaray, por “A vida invisível”;
- Melhor direção de arte: Rodrigo Martirena, por “A vida invisível”;
- Melhor figurino: Marina Franco, por “A vida invisível”;
- Melhor maquiagem: Simone Batata, por “Hebe – A estrela do Brasil”;
- Melhor efeito visual: Mikaël Tanguy e Thierry Delobel, por “Bacurau”;
- Melhor montagem ficção: Eduardo Serrano, por “Bacurau”;
- Melhor montagem documentário: Karen Harley, por “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”;
- Melhor som: Marcelo Costa, Alessandro Larroca, Eduardo Virmond, Armando Torres Jr., ABC e Renan Deodato, por “Simonal”;
- Melhor trilha sonora: Wilson Simoninha e Max de Castro, por “Simonal”;
- Melhor longa-metragem internacional: “Parasita”, de Bong Joon-ho;
- Melhor longa-metragem ibero-americano: “A odisseia dos tontos”, de Sebastián Borensztein;
- Melhor curta-metragem animação: “Ressurreição”, de Otto Guerra;
- Melhor curta-metragem documentário: “Viva Alfredinho!”, de Roberto Berliner;
- Melhor curta-metragem ficção: “Sem asas”, de Renata Martins;
- Melhor série animação TV fechada/OTT: “Turma da Mônica Jovem” – 1ª temporada (Cartoon Network). Direção Geral: Mauricio de Sousa e Roger Keesse. Diretor: Marcelo de Moura. Produtora brasileira independente: Mauricio de Sousa Produções.
- Melhor série documentário TV fechada/OTT: “Quebrando o tabu” – 2ª temporada (GNT). Direção Geral: Guilherme Melles e Katia Lund. Diretor: Pio Figueiroa. Produtora brasileira independente: Spray Filmes;
- Melhor série ficção TV fechada/OTT: “Sintonia” – 1ª temporada (Netflix). Direção Geral: Kondzilla, Guilherme Quintella e Felipe Braga. Diretores: Kondzilla e Johnny Araújo. Produtora brasileira independente: Los Bragas;
- Melhor série ficção TV aberta: “Cine Holliúdy” – 1ª temporada (TV Globo). Direção Geral: Patricia Pedrosa. Diretores: Halder Gomes e Renata Porto D’ave. Produtora brasileira independente: Glaz Entretenimento.
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