A próxima trama das 19h, ‘Vai na Fé‘, estreia em janeiro na Globo, trazendo o universo gospel para a dramaturgia e as rodas de conversa. Mas a autora Rosane Svartman faz questão de frisar que a novela não é religiosa. “A maior parte dos brasileiros tem fé. Então, seria estranho uma mulher como a Sol, a protagonista vivida pela Sheron Menezzes, não ter sua religião. Ela é cristã, evangélica. A religiosidade não é um pilar da trama, mas faz parte do pensar essa história. Um autor precisa ter a sensibilidade de captar o que está latente na sociedade. Nos grupos focais de ‘Bom Sucesso‘, há dois anos, por exemplo, muitos que se declararam evangélicos se identificaram com a protagonista que era católica, com sua fé. Ficamos de olho nesta pesquisa quando fomos construir essa história”.
E responde se essa aproximação do universo cristão foi um pedido da emissora: “A Globo ter promovido pela primeira vez e recentemente um concurso de música gospel, o ‘Altas Promessas’, no Altas Horas, foi uma coincidência. Até pensei em fazer um cross com a novela, mas não daria tempo. Quem sabe se fizerem outra temporada? A ideia é abrir conversas. Acredito que o real poder está no espectador: ou ele dialoga com a novela ou muda o canal. Por isso temos muito cuidado, respeito com os temas”.
Protagonista experiente
Sheron Menezzes acabou de completar 39 anos no final de novembro (26) e recebe a personagem como um presente mais do que esperado. Ela estreou na TV em ‘Esperança’ (2002) também na Globo, e a partir de 16 de janeiro estará na pele de uma personagem que reforça o protagonismo negro no audiovisual e chancela uma carreira construída trabalho a trabalho. A novela marca o retorno de Sheron à emissora após não ter renovado contrato em 2020.
Em cena, ela dá vida à uma mulher cheia de fé, praticante da religião evangélica, mãe, guerreira, moradora de Piedade, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, e vendedora de quentinhas no Centro da cidade. Tudo isso, até receber o convite que muda sua vida: Lui Lorenzo (José Loreto), um cantor pop e conquistador, a chama para trabalhar com ele. Essa reviravolta faz com que Sol reencontre Benjamin (Samuel de Assis), sua paixão na juventude, e Theo (Emilio Dantas), relação que traz lembranças ruins. “É uma personagem que vai fazer as pessoas se identificarem de formas positivas. Isso é muito importante, ainda mais no momento que vivemos. Ela enfrenta as dificuldades com um olhar positivo, como muitas mulheres brasileiras. É fundamental que as pessoas liguem a TV e se sintam representadas com essa personagem, com a família dela. É alguém que mantém a fé apesar das adversidades, apesar de qualquer coisa. Me identifico, essa personagem me inspira”, detalha Sheron.
Um país diverso deve espelhar isso em seus setores de atuação, em suas manifestações culturais, na arte, na cultura e no audiovisual, que tem poder de alcance global, certo? Nem sempre. Sabemos, por exemplo, da desigualdade de oportunidades entre atores brancos e negros no Brasil. Mas, felizmente, nos últimos anos temos visto movimentos para que isso mude. ainda assim, a representatividade de personagens negros na TV não está de acordo com a realidade brasileira. Tanto, que após duas décadas de trajetória, a atriz chega à sua primeira protagonista em telenovelas somente agora: “Orgulho de mim. É uma conquista, batalhei por isso”. A novela de Rosane Svartman dirigida por Paulo Silvestrini traz ainda no elenco Che Moais, Elisa Lucinda, Bella Campos, Carol Dieckmann, Carla Cristina, Samuel de Assis, Claudia Ohana, Zé Carlos Machado, entre outros. Discreta, Sheron conta ainda, que a novela tem provocado nela o desenvolvimento de um lado que costuma reservar. “Amo dançar, cantar, mas sempre tive vergonha em público. Esse trabalho tem me mostrado que consigo fazer, tenho deixado o medo de lado”.
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