Autora da série ‘Rensga Hits’, Renata Corrêa revela sobre temporada 2: ‘Pensando em abordar o tema saúde mental’


A autora também vai escrever ‘Vai na Fé’, próxima novela das 19h da Globo. Renata topa nossa brincadeira de dizer quem seriam os personagens de ‘Rensga hits’ na vida real e também revela sobre a próxima temporada: “Temos pensado em abordar o tema da saúde mental. Quando olhamos para nossos personagens, eles são muito jovens, então colocam tudo da vida ali. E quando você coloca tudo em algo, o que resta para você?”

*Por Brunna Condini

“Quero um Emmy. Não é isso que todo autor quer? Também quero um”, divide Renata Corrêa, escritora e roteirista em sua estreia como autora em ‘Rensga Hits‘, série da Globoplay, que pelo sucesso de público já tem mais duas temporadas encomendadas. “Sempre treino o discurso da vitória embaixo do chuveiro”, diverte-se Renata, que também vai escrever ‘Vai na Fé’, próxima novela das 19h da Rede Globo, ao lado de Rosane Svartman.

Sobre os bastidores da produção que traz o protagonismo feminino no universo sertanejo com leveza, amor e humor, ela revela: “Gravamos no auge da pandemia, então escrevi, tratei com elenco e equipe, sempre online. E eles queriam muito que eu fosse ver de perto as gravações em Goiânia, foi um trabalho muito afetivo. Infelizmente, cheguei no dia em que o avião da Marília Mendonça caiu. Foi algo emocionante que vivemos ali, porque todo o elenco se juntou em um quarto do hotel. Ficamos cantando as músicas dela. Foi uma maneira de homenageá-la e tê-la com a gente naquele momento”.

Renata Corrêa, escritora e roteirista estreia como autora de “Rensga Hits”, série original Globoplay (Foto: Ana Alexandrino)

Renata Corrêa, escritora e roteirista estreia como autora de “Rensga Hits”, série original Globoplay (Foto: Ana Alexandrino)

Quero falar sobre personagens complexos, e trazer um protagonismo feminino que não seja raso ou bobo – Renata Corrêa, autora

A série que acompanha uma jovem cantora (Alice Wegmann) tentando a sorte no sertanejo, virou um fenômeno de repercussão nas redes sociais desde a sua estreia. “Moramos em um país que dizem ter 250 milhões de jogadores de futebol analisando os jogadores, mas tem também 250 milhões de autores de dramaturgia (risos). Somos apaixonados por histórias. Não consigo precisar o porquê do sucesso da série, mas tenho alguns palpites. Acho que trazer esse universo musical, sertanejo, sem ‘olhar de cima’, fazer uma crítica, honrando, fazendo uma homenagem, foi o mais importante. O outro ponto é que tem muito humor. Temos vivido momentos difíceis em que, muitas vezes, precisamos deste escapismo, deste lugar onde as coisas dão certo. O ‘Rensga‘ é um lugar utópico em que valores como coragem, amor e o talento vencem. É ausente de cinismo. É quase um alívio para quem assiste”.

Alice Wegmann em cena do sucesso 'Rensga Hits' (Reprodução/ Globo)

Alice Wegmann em cena do sucesso ‘Rensga Hits’ (Reprodução/ Globo)

Saúde mental no foco

As longas horas em cima do palco e na estrada (ou no ar), evidenciam cada vez mais a necessidade de falar e cuidar da saúde mental de quem leva alegria através das suas canções. “Temos pensado em abordar o tema da saúde mental na próxima temporada. Quando olhamos para nossos personagens, eles são muito jovens, então colocam tudo da vida ali. E quando você coloca tudo em algo, o que resta para você? Temos pensado nisso na sala de roteiro. Esse momento é uma virada na vida de uma pessoa tão jovem. Então, nos próximos episódios podem esperar eles metendo muito os pés pelas mãos. também vamos mostrar que, para quem vê de fora, parece tudo muito fácil, mas é trabalho duro. É muita estrada antes de se tornar uma estrela. É preciso poder falar sobre o tema de forma mais livre, saudável”.

A vida imita a arte e vice-versa

Renata topou nossa brincadeira de imaginar quem seriam os personagens da série, no universo sertanejo real. “É um exercício pensar nisso, porque os atores fizeram composições maravilhosas, pegaram o que a gente escreveu e transformaram em algo muito deles. Mas vamos lá”:

Raissa Medeiros (Alice Wegmann) – “Essa personagem tem muito da Marília Mendonça. A Alice estudou muito a Marília, desde o gestual até detalhes da carreira. Quando escrevemos a personagem pensamos nesta mulher determinada, do afeto, mas meio bruta, que dá seus gritos também (risos).

Glaucia (Lorena Comparato) – “Ela é um mix. Cantora glamourosa, que interpreta muito essa zoeira que faz com os homens, que fala o que pensa. Então penso muito na Naiara Azevedo“.

Alice Wegmann e Lorena Comparato brilham em 'Rensga Hits' (Divulgação/ Globo)

Alice Wegmann e Lorena Comparato brilham em ‘Rensga Hits’ (Divulgação/ Globo)

Theo e Thamyres (Sidney Santigo e Jennifer Dias) – “Penso em algumas duplas, que são meio ‘realeza’, como Sandy e Júnior, e claro, Maiara e Maraísa, que são irmãs, gemeanejas deste universo. Uma dupla de irmãos super grudados, que você não sabe muito onde começa um e termina o outro. E a trama deles tem a ver com isso, descobrir que são seres individuais para além da dupla”.

Deivid Cafajeste (Alejandro Claveaux) – “Representa esses meninos do sertanejo universitário, das baladas, bebedeira. E claro, até pela referência do nome, pensamos no Wesley Safadão. O nome da pessoa já diz sobre o que ela canta (risos)”.

Enzzo Gabriel (Maurício Destri) – “Ele representa esses ‘príncipes’ do sertanejo, como Luan Santana, Henrique e Juliano, esses caras super românticos, que tocam o coração da mulherada”.

Através da lente feminina

Cria de Oswaldo Cruz, bairro bairro da Zona Norte, a roteirista sempre priorizou trabalhos com foco no humor, na emoção e no protagonismo feminino. “Minha avó teve seis filhas, quero muito honrar essa ancestralidade nos meus trabalhos. Todas foram mulheres donas da sua história”. E aproveita para anunciar: “Estarei em cartaz na Sede das Companhias, na Lapa, Centro do Rio de Janeiro, a partir de 23 de setembro, com a peça ‘A Fábrica de Cachorros – Instruções Feministas para Tempos Fascistas‘. A personagem dialoga com o público sobre como pode acabar com o machismo do mundo. Quero falar sobre personagens complexos, e trazer um protagonismo feminino que não seja raso ou bobo, onde as mulheres são só empoderadas e incríveis, porque isso nos coloca em outra ‘caixinha’, aquela de não poder errar, de não poder ser complexa, difícil, genial”.

É preciso falar sobre o tema da saúde mental de forma mais livre – Renata Corrêa, autora

E revela projetos sonhados. “Acho que chegou a hora da TV fazer adaptações de Nelson Rodrigues (1912-1980) pela perspectiva das mulheres. Ele tem personagens femininas fortes. Meu sonho é fazer um projeto em que apenas mulheres olhem para essas personagens do Nelson, autoras, diretoras. E tem outro projeto, afetivo, sobre a o romance do meu avô e da minha avó materna. É uma história entre dois países. Meu avô sofreu um acidente e ficou um ano sem memória, enquanto isso, ela recebeu cartas que diziam que ele tinha morrido, então acabou noivando de outro homem. Não é a toa que sou uma autora que adora grandes reviravoltas, a trajetória da minha família é de grandes reviravoltas. Queria muito contar essa história dessa empregada doméstica e desse caminhoneiro. Ela acabou indo para o Chile com a família que trabalhava, e ele, quando recobra a memória, não a encontra mais. Se eles não tivessem muito amor, eu não estaria aqui”.