*Por Felipe Rebouças
Primeiro ela passou oito dias no bairro do Humaitá, completamente isolada, para afastar qualquer dúvida sobre a infecção de coronavírus. Depois, a partir do último final de semana, certificada de que estava tudo bem, deu início ao confinamento em São Gonçalo, no outro lado da ponte, fazendo companhia aos pais. Onde se encontra até hoje. Assim foram as primeiras semanas de quarentena da atriz Michelle Batista, que vive Maria Antônia na novela Amor Sem Igual, da TV Record, ainda com a exibição de capítulos inéditos no ar. Personagem com nuances e transformações dentro da trama que vêm a calhar num momento em que o sinal de alerta está ligado para todos.
Isso porque a própria atriz que viveu Maria Antônia no dia a dia das gravações – interrompidas desde semana passada – fala ao HT sobre o impacto que acontecimentos marcantes tem sobre a vida de uma pessoa em forma de experiência. “A Maria Antônia é uma figura que sofre distúrbios de bipolaridade e vive inquieta com o que está por vir a cada capítulo”, afirma Batista. Nesse lugar de fala, ela faz um paralelo entre a situação vivida pela sua personagem em Amor Sem Igual e sua condição, e de bilhões de pessoas, enquanto confinada.
No folhetim, Maria Antônia (Michelle Batista) é estuprada por Leandro (Gabriel Gracindo). Esse acontecimento transforma totalmente a vida dela, que ao se dirigir ao pai Oxente (Ernani Moraes), para relatar o ocorrido, passa a sofrer intensas variações de humor e oscila entre comportamentos tristes e depressivos até reações enérgicas de choro.
Na conta oficial da personagem no Instagram, @mariantoniacord, criada pela produção da novela, é possível observar comentários empáticos, desejando força à ela num momento tão complicado. “Adoro essa ferramenta, pois acompanho o retorno do público, e em momentos dramáticos da trama como esse consigo notar a reação genuinamente humana que uma personagem da ficção gera nas pessoas”, revela a atriz.
Ainda que o motivo pelo qual a personagem vivida por Michelle tenha sofrido graves alterações comportamentais seja incomparável com qualquer outro, suas consequências se assemelham com traumas contemporâneos. A angústia vivida por Maria Antônia se aproxima da sensação alegada entre os confinados do mundo todo neste período de quarentena.
“Inevitavelmente, pela quebra da rotina acelerada que nos acostumamos, alimentamos uma inquietude dentro de nós. Eu, por exemplo, um dia estava em gravação, contracenando com diversas pessoas diferentes e num piscar de olhos estava trancada dentro de casa”, pondera. Dessa perspectiva, a atriz corrobora a tese de que o confinamento serve, especialmente, para refletir sobre tudo. “Seja sobre sua rotina de trabalho, a forma que cumprimenta, ou não, as pessoas ao seu redor e sobre como estamos tratando o lugar que habitamos”, afirma, ao lembrar que os primeiros casos de coronavírus surgiram a partir do contato humano com animais que estavam dentro do limite do seu habitat natural de origem.
Ao cansar-se de pensar, procure um bom livro, tome um café da manhã reforçado e com a calma que costuma ser rara, faça aulas de yoga, arrume o quarto, cozinhe e ligue para seus parentes queridos, recomenda a atriz. “Senão sairmos da inércia, a tendência é nos tornarmos um poço de ansiedade”, alerta. Entre um capítulo e outro da novela, já que agora ela finalmente tem tempo para assistir ao seu próprio trabalho, Michelle buscar colaborar na construção de uma rede solidária em São Gonçalo, tendo em vista a condição de vulnerabilidade do município vizinho a Niterói. “Tento utilizar minha influência nas redes sociais para aumentar a visibilidade dos projetos sociais que atuam aqui no região”, afirma.
Artigos relacionados