Larissa Bracher estreia em novela de época e compara com os novos tempos: “Sinto que o Brasil também está acordando, estamos com mais consciência da nossa importância e grandeza”


A artista conta como é viver sua personagem e sobre a indicação ao prêmio shell pela peça “Genderless – Um Corpo Fora da Lei”

Um Brasil da época de Dom Pedro I e Dona Leopoldina, marcado pela chegada da corte portuguesa em 1808. Mais tarde, um império autônomo sem vínculos com a antiga metrópole. Nessa trama, uma das amantes do imperador, a Baronesa de Sorocaba conhecida por Benedita de Castro Canto e Melo revive no corpo da atriz Larissa Bracher em “Novo Mundo”. Ela é irmã da famosa mulher de Dom Pedro, a Marquesa de Santos.  Ambas tiveram casos com rei e eram conhecidas por suas desavenças. “É maravilhoso fazer parte de uma família que realmente existiu. As duas eram filhas de militares importantes. A Marquesa, interpretada pela Agatha Moreira, ficou um pouco mais conhecida porque o relacionamento que ela teve com ele foi maior do que o da minha personagem”, informa Larissa.

É o primeiro papel de época da atriz na televisão. “Tinha feito apenas no teatro. É uma delícia viver essa experiência. É um corpo diferente, a gente não pode usar gírias, temos que nos apoiar muito no texto, o português é mais correto e rebuscado. Fisicamente também há alterações. Não podemos cruzar as pernas e a postura deve ser diferente, por exemplo. E isso contribui para a caracterização um pouco mais formal do personagem”, exemplifica. Apesar de ser sua estreia nesse formato, Larissa não enfrentou dificuldades e está amando fazer parte da trama. “Tem sido um prazer trabalhar na novela. Desde um primeiro momento a equipe se uniu muito. Estou muito feliz com o meu núcleo, adoro trabalhar com a Agatha. Acho muito gostoso fazer um personagem que existiu. Tenho muito respeito por personagens históricos. Fico muito feliz de fazer uma personagem com esse nível de rivalidade, ela é quase uma vilã”.

A atriz Larissa Bracher em ensaio (Foto: Studio Faya)

A atriz traça um paralelismo entre o passado colonial e o presente moderno. “Naquela época, houve muitas revoltas no país. Agora, sinto que o Brasil também está acordando, estamos com mais autoconsciência da nossa importância e grandeza. Por um tempo, a nossa sociedade estava adormecida. Além disso, ainda temos um aspecto de submissão da colônia. É mais importante o povo que vem, por isso nos tornamos um povo muito adaptável e acabamos comprando as influências de fora muito facilmente. Por exemplo, a Carlota Joaquina tinha pavor de piolhos, um dia teve um surto no Rio e passou a usar turbante. Desse jeito, as pessoas pensaram que era moda e aderiram ao vestuário”, explica.

Ao mesmo tempo, segundo Larissa, naquela época o Brasil é visto como a esperança. Um novo mundo que estavam descobrindo. Visualizavam um país de ótimos negócios, trabalho e prosperidade. “Me lembra a nossa tentativa atual de buscar no espaço um novo mundo. A corrida espacial que quer trazer esperança para a nossa sociedade”, conta a atriz. O nosso país é marcado por escolhas feitas neste passado. Entre elas, Larissa elenca a forma como a república foi declarada. “Tivemos uma república tardia comparada às outras da América. Isso marca os problemas que temos hoje. Nossa democracia é recente e, além disso, passamos por períodos violentos de ditadura. Para completar, foi um movimento de cima para baixo, não foi o povo que declarou o novo regime. Dizem que aconteceu de madrugada, Floriano Peixoto estava quase de pijamas”, explicita.

(Foto: Studio Faya)

Durante as gravações, Larissa ainda consegue se lembrar de algumas outras marcas muito importantes para o nosso país. “Essa época do Novo Mundo é o grande DNA do brasileiro. Começamos o grande caldeirão de miscigenação que somos hoje. Chegavam os portugueses vindos da corte e os negros da África. Isso trouxe um aspecto mais fronteiriço de cultura”, lembra. Pela novela se passar na época da chegada dos lusitanos, a mistura de etnias é um elemento muito ilustrado nas cenas.

Recentemente, a atriz foi indicada ao prêmio Shell na categoria inovação e ao prêmio APTR pela peça “Genderless – Um Corpo Fora da Lei”. Apesar de não ter ganhado, o título ajuda a mostrar como sua atuação foi valorizada. “O espetáculo fala sobre o australiano Norrie May Welby que nasceu homem e se tornou mulher. Depois de dez anos, ele conquistou na justiça a ideia do gênero X, andrógeno. Eu fazia esse personagem no meu monólogo. Foi um projeto de muita visibilidade”, informou. O show fazia parte do projeto Rio Diversidade que buscava atentar sobre a questão LGBT no meio. Quatro monólogos de grandes diretores como o Guilherme Leme, que comanda a de Larissa.

A atriz já participou de várias oficinas de teatro ao redor do mundo. Aprendeu técnicas em Cuba, na França e no Estados Unidos. “Sou a rainha do workshop. Já saiu até no meu mapa astral. Acho muito legal o resultado da troca de diferentes culturas. É fundamental olhar para outras teorias e universos, porque todos olham para o ser humano. Gosto de conhecer, cada vez mais as coisas e estudar em várias línguas”, conta.

(Foto: Studio Faya)

O gosto por estudar levou a atriz a ter um diploma de Life Coach que são um conjunto de técnicas para entender o movimento humano, com o apoio na neurolinguística e na hipnose. “Rompe com os padrões de conhecimento, tirando os indivíduos da zona de conforto”, exemplifica Larissa que já ajudou, durante os sete anos com o projeto, os artistas Gabriel Leone e Camila Rodrigues com esta ferramenta. Pensando nisso, ela está prestes a lançar um curso, ainda sem nome, em seu site oficial para outros atores também serem beneficiados. “Todos estamos buscando algo, inclusive os personagens. Não importa que seja algo de época ou futurista, estamos sempre lutando por um objetivo. Quando percebi isso, passei a aplicar as técnicas nos meus colegas de trabalho”, conta.

No último dia 4, uma polêmica na Globo envolvia o ator José Mayer que foi acusado de assédio por uma figurinista que trabalhava com ele. O caso gerou um movimento entre várias funcionárias e famosas que levantaram a #chegadeassédio. O protesto é visto por Larissa como algo muito positivo no momento que estamos vivendo hoje. “O assédio existe quando há um desequilíbrio e você pode perder algo importante como o emprego. Por isso está diretamente ligando ao poder e a hierarquia. Isso causa humilhação e diferencia a vítima. Acho que tudo acontece para o bem. É importante para os diretores e chefes saberem que isso existe. A condição humana deve vir em primeiro lugar do que a riqueza, cargo de trabalho, cor e gênero”, sugere.