Atriz Lana Rhodes, que já foi Paquita, estará no doc das assistentes de palco de Xuxa e fala sobre falta de diversidade


Lana Rhodes está participando do novo documentário sobre as assistentes de palco da Xuxa: “Pra Sempre Tão Bom – Paquitas”, com estreia prevista para o segundo semestre. Nascida no Paraná, ela recorda sobre os bastidores dos famosos Xuxa Park e Planeta Xuxa. “O documentário aborda como a minha mulher adulta observa o que aquela menina viveu, e que tinha um pensamento absolutamente diferente do que ela tem hoje. E, principalmente, mostra um mundo que pensava de uma forma distinta da possibilidade de enxergar o que temos hoje. Naquela época, nós achávamos que muitas coisas eram normais, mas, atualmente, temos consciência de muitos detalhes que poderiam agredir e traumatizar tanta gente”, pontua

A ex-paquita Lana Rhodes revela detalhes sobre a vida no mundo corporativo

*por Luísa Giraldo

Lana Rhodes comemorou as bodas de prata de sua carreira como artista no ano passado. A atriz já participou de oito novelas e sete espetáculos musicais pelo país, embora uma de suas passagens mais marcantes no audiovisual brasileiro tenha sido como assistente de palco de Xuxa Meneghel nos programas Xuxa Park e Planeta Xuxa. O segundo semestre de 2024 marca o lançamento do documentário “Pra Sempre Tão Bom – Paquitas”, com o ponto de vista das ex-Paquitas e o conturbado relacionamento profissional e pessoal entre Xuxa e Marlene Mattos. Com exclusividade ao site Heloisa Tolipan, Lana relembra o passado como Paquita, do que acontecia por trás das câmeras, de ter interpretado a versão mais jovem de Xuxa no especial de TV “Xuxa 20 Anos” e da trajetória profissional no mundo artístico e, agora, corporativo.

 Com cinco episódios, “Pra Sempre Tão Bom – Paquitas” terá um formato semelhante a “Xuxa, o Documentário”, lançado em 2023. Além de ex-Paquita, conhecida como “Catuxa“, Ana Paula Guimarães é a diretora do documentário produzido pelo Globoplay. Em consonância, a Globo promete trazer à tona algumas das histórias dos bastidores e das “severas cobranças vividas pelas Paquitas” entre o final da década de 90 e início dos anos 2000. A divulgação foi realizada no evento “Upfront 2024″, da emissora, em outubro do ano passado.

 Lana enxerga as Paquitas como personagens e entende que o papel ampliou o olhar dela “da comunicação, da imaginação, da beleza das pessoas verem a Xuxa com um olhar quase ingênuo”. “O documentário aborda como a minha mulher adulta observa o que aquela menina viveu, e que tinha um pensamento absolutamente diferente do que ela tem hoje. E, principalmente, mostra um mundo que pensava de uma forma distinta da possibilidade de enxergar o que a gente tem hoje. A primeira providência que tomei quando recebi o convite para participar do documentário foi procurar o Adalberto Neto, um amigo que é ativista político preto. A ideia era ouvir o que ele pensava de um universo que eu vivi de dentro, sendo uma menina jovem, imatura e branca, para que, hoje, eu não seja negligente com ele. Naquela época, nós achávamos que muitas coisas eram normais, mas, atualmente, temos consciência de muitos detalhes que poderiam agredir e traumatizar tanta gente”, analisa.

A atriz Lana Rhodes relembra do passado como paquita

A atriz Lana Rhodes relembra do passado como Paquita (Foto: Eduardo Rodrigues)

Durante o anúncio do documentário, a Globo deu a entender que direcionaria os holofotes do produto à empresária Marlene Mattos. Desde o ano passado, com a abordagem da trajetória conflituosa de Xuxa e Marlene em “Xuxa, o Documentário” e com a comemoração dos 60 anos da artista, a mídia tem voltado as atenções para o relacionamento.

Tanto a Xuxa como a Marlene, no universo de cada uma, construíram caminhos. Uma coisa era ser uma mulher branca, linda, exuberante, com carisma gigante, que foi construída para ser a rainha do Brasil. Outra era ser uma mulher nordestina, fora do padrão estabelecido pela sociedade passada, com uma natureza onde as pessoas viviam questionando a sua sexualidade. As duas têm vidas, vivências, estéticas e pensamentos muito diferentes, mas tenho um carinho enorme por elas — Lana Rhodes

Após relembrar os tempos como assistente de palco, a atriz paranaense descreve que se aproximou de Xuxa pelas vivências em comum das duas como mulheres adultas. Ela explica, por outro lado, que se distanciou de Marlene pelas divergências nas experiências de vida, e não por algo que “saiba ou pense sobre ela”.

Lana avalia o reencontro entre a artista e a diretora em 2023. “A gente vive em um mercado capitalista e que precisa de polêmicas e notícias. O encontro da Marlene e da Xuxa no documentário foi muito pontual, aconteceu como deveria acontecer e as pessoas agiram conforme a natureza delas. Ali, vejo duas pessoas que comentam os fatos a partir das suas naturezas. Os abusos existem em qualquer tipo de trabalho e todos devem ter cuidado quando estão em espaços de poder e com o uso dele. Não existe um comparativo de comportamento entre duas pessoas com naturezas e existências tão diferentes”.

O mito do cabelo pintado para o programa

Todas as assistentes de palco da Xuxa eram jovens louras, o principal pré-requisito para trabalhar como Paquita. Quando questionada sobre a falta de diversidade no elenco dos programas, Lana Rhodes reflete sobre os estigmas e a exclusão de outros perfis na televisão dos anos 1990.

O mito de pintar o cabelo era, na verdade, um estigma construído. Atualmente, como mulher adulta, fico me perguntando como eu não questionava o fato de não terem meninas pretas trabalhando comigo – Lana Rhodes

Atriz e cantora, Lana Rhodes recorda da relação entre Xuxa Meneghel e Marlene Mattos

Atriz e cantora, Lana Rhodes recorda da relação entre Xuxa Meneghel e Marlene Mattos (Foto: Eduardo Rodrigues)

“Não existia uma coerção, algo instituído em que as meninas eram obrigadas a pintar o cabelo – até mesmo porque eu tinha o cabelo louro –, mas era muito natural que aquilo existisse. Acredito que se trata de uma instituição da beleza padronizada que veio desta geração de Paquitas e, consequentemente, de mulheres, desde a Marilyn Monroe (1926-1962), com a ideia que uma mulher deveria ser loura para ser atraente”, desabafa.

Lana admite que passou a desenvolver reflexões mais profundas sobre o racismo estrutural no audiovisual brasileiro das décadas passadas por causa da filha de 14 anos, Manuela Knust. A geração da moça constantemente faz críticas à falta de representatividade e a reprodução de comportamentos e falas preconceituosas.

A artista também questiona a polêmica da sexualização das assistentes de palco. “A ideia de que as Paquitas eram um pouco sexualizadas era maquiada, mas diferente da forma na qual as mulheres pretas tinham seus corpos sexualizados, como àquelas dançavam na ‘Boquinha da Garrafa'”. Esse padrão instituído socialmente como adocicado, como se tivesse uma doçura na sensualidade, parecia interessante para a figura das Paquitas. Hoje, essas ideiais são questionáveis para mim”, frisa.

Não era uma instituição [da beleza e da preferência por jovens louras] do programa, mas social em que todos deveriam ser responsabilizados por não estar atentos àquilo – Lana Rhodes

Trajetória artística

Com carinho, a atriz relembra da relação com a expressão artística. “Sempre fui artista. A arte existe em mim por vocação desde que comecei a ter coerência na minha existência. Desde criança, cantava em festivais no interior do Paraná. As pessoas me chamavam de ‘Xuxinha’ por ser muito loura e ser a artista prodígio da minha cidade”, disse Lana, que já interpretou a versão mais jovem de Xuxa no especial de TV “Xuxa 20 Anos”. Alguns outros trabalhos dela foram com as personagens Becky, em “Rebeldes“, Esmeralda em “Caminhos do Coração”“Mutantes” e Elisa em “Os Tempos do Imperador”.

Segundo a atriz, o concurso de Paquitas foi uma oportunidade de entrar no mundo artístico. Ela afirma que a carreira como artista mirim já existia, porém diz ter ganhado grande projeção com a oportunidade. Determinada a se mudar para o “Rio de Janeiro, o centro das artes no país”, Lana enviou uma carta à Marlene Mattos com a inscrição como Paquita. Aproximadamente 8.500 cartas foram analisadas no processo seletivo e apenas oito delas, incluindo a de Lana, foram escolhidas para compor o novo grupo de Paquitas do Xuxa Park, em 1991. Aos 12 anos, a menina assumiu o cargo como ajudante de palco.

Artista há mais de 25 anos, Lana Rhodes reflete sobre a falta de representatividade e diversidade no audiovisual brasileiro dos anos 90

Lana Rhodes reflete sobre a falta de representatividade e diversidade no audiovisual dos anos 90 (Foto: Eduardo Rodrigues)

“Costumo pensar que a impossibilidade de uma menina preta ser paquita pode ter traumatizado muitas pessoas. Então, não posso falar apenas do meu ponto de vista e do meu sonho realizado. Essa personagem que eu vivi nos anos 2000 e que me fez tão feliz me faz pensar, atualmente, que nós podemos fazer de forma diferente”.

Mundo corporativo

 No período matutino, Lana se dedica ao mundo corporativo, o que faz com que ela deixe os trabalhos como atriz para o período noturno. Embora o trabalho na Rede D’Or tome bastante do seu tempo, ela acredita que os dois ofícios se complementam. A atriz avalia que a arte também permitiu que ela se debruçasse nos estudos sobre o ser humano.

“Estou fazendo arte mesmo fora do mundo artístico porque, dentro do meu escopo de trabalho, a minha maior tarefa é lidar com pessoas, já que estou na área de relacionamentos. Estar com pessoas é o meu maior objeto de estudo desde que me entendo como gente no mundo artístico. Desde os 14 anos, estudo sobre as pessoas, a filosofia e a psicologia”, descreve a assistente especial para assuntos institucionais da empresa.

A artista explica que a figura dela chama atenção no mundo corporativo, até mesmo porque muitas pessoas já a conhecem do segmento artístico. Para ela, o costume de falar no palco e a desenvoltura nos relacionamentos foram habilidades desenvolvidas em sua outra carreira.

A ex-paquita Lana Rhodes reflete sobre a misoginia e o padrão de beleza

A ex-paquita Lana Rhodes reflete sobre a misoginia e o padrão de beleza (Foto: Eduardo Rodrigues)

Lana não se sente julgada no ambiente de trabalho corporativo. “Tive a sorte e o privilégio de trabalhar com muitas pessoas inteligentes que, geralmente, sentam e me fazem perguntas. Brevemente, o preconceito ou a estranheza diminuem. Com a humildade de querer aprender com as pessoas que estão há mais tempo naquele ambiente do que eu, consigo converter esses pensamentos”.

Atriz (quase) homônima pornô

Lana Rhodes é constantemente confundida com a atriz norte-americana de filmes adultos Lana Rhoades, de 27 anos. Apesar do publico associá-la à estrangeira, Lana se diverte com a situação e não se preocupa. Ela acredita que “qualquer pessoa com o mínimo de observação compreende” que elas são pessoas diferentes.

“Durante a pandemia, o que associou muito a minha imagem à dela foi a busca dos nossos nomes no Google. Ela aparece antes de mim nos resultados de busca por ser uma atriz mundialmente famosa. Acho graça da situação e, inclusive, nas redes sociais, muitas pessoas me seguem por achar que sou ela e acabam ficando no meu perfil por gostarem dos meus conteúdos. Demora um tempo para que elas entendam que a nossa dinâmica de exposição é diferente, mas elas dizem que passam a acompanhar o meu trabalho”, comenta.

O que, de fato, incomoda a atriz é a entrega dos resultados da atriz pornô e a quantidade de buscas no Google que não correspondem à artista brasileira. Lana confessa até mesmo ter pensado em trocar de nome artístico pela curiosa coincidência, porém decidiu não se estressar por algo que está fora de seu controle.