* Por Carlos Lima Costa
Entre os jovens, ser popular, ter milhões de seguidores nas redes sociais pode ser visto como uma nova versão dos velhos tempos daquele grupo dos mais populares nas escolas e dos quais muitos queriam fazer parte, para se sentir pertencente a um grupo. Verônica, personagem de Juhlia Ficer, na série Todas As Garotas em Mim, da Record TV, faz um contraponto a esse mundo permeado de ilusão e do qual sua intérprete não se interessa também em fazer parte. “Ela é vista como uma menina meiga, romântica, de muitos valores, segura de si e não se importa com o lugar de ter que provar algo para alguém ou em ser a mais bonita da escola, a mais arrumada, chique, porque não vê verdade nisso. A maioria dos adolescentes tenta encontrar isso, porque é uma maneira de se afirmar e pertencer a um grupo, mas ela vê tudo isso como um mundo visual, estético, preza pelos valores, pela verdade, pela sinceridade na amizade. Ela é amiga que todo mundo precisa ter”, frisa a atriz, que anteriormente participou da novela Gênesis, na mesma emissora.
Atualmente, aos 22 anos, Juhlia frisa que aos 17, esse já era o comportamento dela. “Eu também sempre fui dedicada em tudo que estudava e nunca me preocupei com esse lugar de ficar pertencendo a algo. Valorizava as amizades da maneira que ela valoriza, porque sou uma pessoa que precisa muito confiar em quem está por perto. Prefiro ter poucos amigos e confiáveis, do que ficar interagindo com vários. As pessoas tem uma vida que é sempre um parecer, como se fosse uma máscara. Eu nunca busquei isso. Antes eu era muito tímida, passei a ser bem comunicativa, mas de forma natural. Nunca me importei de ser a popular da escola. Nada de ser, fazer, acontecer. Esse lugar eu nunca tive, nem nas redes sociais. A personagem também não sente necessidade de provar quem é, por exemplo, usando os melhores looks ou sendo amiga dos mais populares e isso irrita as meninas dessa turma, pois ela deveria se sentir intimidada diante dela, mas não abaixa a cabeça em nenhum momento”, acrescenta.
As pessoas têm uma vida que é sempre um parecer, como se fosse uma máscara. Eu nunca busquei isso – Juhlia Ficer
Juhlia explica que necessariamente não é uma regra, mas hoje em dia é raro conhecer um jovem que não tenha rede social. “Eu não conheço. Muitas vezes, parece que ter seguidores é o que define quem você é. Quanto mais você tem, melhor você é. É como se usasse os seguidores como uma moeda para provar algo a alguém. Então, as pessoas se preocupam com isso, porque o mundo das redes sociais fica nessa questão de tentar provar quem é melhor, se preocupa mais com o visual, com a estética ou no que você diz ser nas redes sociais e não necessariamente no que você é na vida real. Acho que isso acaba entrando em um lugar de futilidades sim, porque a gente se preocupa só em provar algo para alguém, mas não necessariamente em ser o que se é. E tem como conciliar os dois, ser autêntico na rede social, só que uma parte do mundo é midiática, está cética, está fácil se perder ali para tentar provar algo para alguém, como é fácil ver alguém popular na escola ser assim também nas redes sociais. E, provavelmente, é popular exatamente por esse motivo, por ser um influencer, ter inúmeros seguidores”, analisa.
Cartas abertas para ela mesma na rede social
Aos 17 anos, Juhlia já não estava na escola e sim na faculdade, mas igual a personagem já se comunicava de maneira mais madura. E em seu Instagram, vem mostrando uma maneira pessoal de se expressar, postando textos que ela escreve e define como cartas abertas para ela mesma. “Normalmente são desabafos e reflexões que tenho sobre a vida em dias que estou inspirada, sinto que estou amadurecendo em algum ponto e que posso abrir isso. De alguma maneira, esse texto pode fazer alguém repensar sobre algo, sabe, porque volta e meia eu mesma leio coisas antigas que escrevi, me impressiono de ter escrito aquilo e aí parece que eu estou reaprendendo comigo mesma. Já aconteceu de eu reescrever uma carta pra mim, porque li uma antiga e constatei que havia evoluído”, comenta.
Ela conta que um dos mais recentes textos até se relaciona com a Verônica em algum lugar. Juhlia percebeu que estava com dificuldade de expressar os seus sentimentos. “Como atriz, me coloco na pele do personagem, então, é o lugar onde me encontro em completa liberdade pra viver aquilo ali de verdade. Mas eu tenho dificuldade de expor meus sentimentos até para amigos, para o lugar romântico. Há uns três meses, escrevi uma carta pra mim mesma falando que ia tentar mudar isso, que eu ia tentar ter mais coragem para falar de coração quando sentisse, sem prender o impulso, o que normalmente faço. Se eu sentisse um impulso em falar para uma pessoa o quanto gosto dela e o quanto ela é importante na minha vida, eu falaria. Repenso tanto que acabo não colocando para fora. Comecei a ter mais coragem, a pagar pra ver o que ia dar”, assegura ela, que volta a falar da empolgação de participar da série Todas as Garotas em Mim.
Na turma dos mais inteligentes da escola, além de Verônica estão os amigos dela Erick (Diego Kropotoff) e e Diogo (Euller Scarpinelli). Tudo que ela vê na Mirella, protagonista da história, e em todas as amigas dela que são da turma de populares é falsidade, mentira. Ela encontra verdade com os amigos que tem ali. “A Verônica é uma garota que vai tentar sempre abrir os olhos da Mirella e dos amigos, mesmo que precise ser muito sincera e, às vezes, dá uma machucadinha, porque ela se importa. Na verdade, às vezes, ela é sincera demais, porque quer o melhor para quem ela gosta, tem um coração muito bom. Em alguns momentos, a Mirela a magoa, mesmo assim ela perdoa, porque é uma grande amiga”, explica Juhlia, que planeja no futuro se especializar também em roteiro e direção.
Como atriz, me coloco na pele do personagem, mas na vida real tenho dificuldade de expor meus sentimentos – Juhlia Ficer
Atualmente, em vez do sets, Juhlia podia estar atendendo pacientes em um consultório, afinal desejava ser médica. Aos 16 anos, quando ía prestar o vestibular, ela passou o ano inteiro na dúvida se queria cursar Medicina ou Artes Cênicas. Os pais haviam estudado teatro e sempre lhe falaram com muita paixão sobre como era. E achou que essa seria a última oportunidade dela. “Então, fui estudar teatro e me apaixonei completamente. Vi que é o lugar onde realmente me encontro com liberdade para ser quem eu talvez não consiga ser no mundo real por causa dos meus medos”, conta.
Quais são os medos de Juhlia? “Eles são muito conectados a se entregar mesmo. Eu sou muito desconfiada e isso pode sim ser conectado num lugar muito romântico, mas nem sempre nele. Eu sou desconfiada em confiar nas pessoas. É algo que pra mim precisa ser aos poucos. Acho que se destaca mais no lugar romântico da nossa vida, porque é um lugar que talvez mexa mais com o visceral e com a paixão. Normalmente, é fácil que eu seja direta e prática no trabalho, onde me sinto confortável. Me jogo de cabeça. Mas com relações pessoais, tenho muita dificuldade”, frisa ela que está solteira.
“Acho que vem dessas minhas dificuldades. Já tem mais ou menos uns quatro anos provavelmente que eu tive um namoro pela última vez. Acho que são muitos filtros, tenho essa dificuldade de me entregar. Mas não é que eu não acredite na paixão e no amor. Na verdade, eu sou muito romântica, sentimental. O amor é uma das coisas mais lindas do mundo. Mas tenho dificuldades de lidar com os sentimentos, é o lugar que tira o meu chão. Se tira do chão, não é prático, não consigo controlar, fico com medinho”, acrescenta ela, cujo primeiro trabalho no audiovisual foi o filme Tudo Bem no Natal que Vem, da Netflix.
Natural de Goiânia, onde os pais estavam a trabalho, mas criada em Vitória, no Espírito Santo, Juhlia se mudou para o Rio, aos 17. Ela veio estudar teatro e os pais, formados em cinema, vieram na expectativa de retomar o sonho de conseguir levar isso como profissão. Hoje, continuam mantendo uma loja de assistência técnica em celular, mas em paralelo eles têm uma produtora e desenvolvem alguns projetos. “Adoramos trabalhar juntos, preparar um roteiro e projeto. Na pandemia, gravei com eles um cover da música Us, do James Bay. Eu gosto muito de cantar. Por muito tempo isso foi algo que eu tinha medo de revelar e guardava só pra mim. Tenho como paixão principal, com certeza, ser atriz, mas cantar sempre mexe comigo. Ainda hei de conseguir um personagem que eu possa levar em paralelo o canto e a música”, torce. E já planeja outras parcerias com os pais. A próxima deve ser um curta-metragem.
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