Atriz americana de ‘Meninas Malvadas 2’, Maiara Walsh estreia na TV brasileira, na série ‘Reis’, e fala sobre abuso


Conhecida por séries como “Cory na Casa Branca”, Desperate Housewives, Diários do Vampiro, e Agentes da S.H.I.E.L.D, Maiara vai viver na série personagem que sofre com relação tóxica e abre o coração que na vida real também vivenciou essa experiência. A também diretora, roteirista e cantora, rodou no ano passado seu primeiro longa, o thriller psicológico Bight, onde também atua, com foco nos relacionamentos abertos. “Falamos sobre como eles podem ser complicados, sobre quando o amor está acabando e o que as pessoas fazem para tentar renová-lo”, enfatiza

* Por Carlos Lima Costa

Maiara Walsh tornou-se conhecida nos Estados Unidos e no mundo ao participar da série Cory na Casa Branca, da Disney Channel. Acumulou participações em outras séries como Desperate Housewives, Diários do Vampiro, e Agentes da S.H.I.E.L.D., enquanto no cinema brilhou como a vilã de Meninas Malvadas 2. Agora, a atriz, cantora, roteirista e diretora norte-americana está prestes a estrear na televisão aberta brasileira interpretando um dos principais personagens na quarta e na quinta fases da série Reis, na Record TV, que conta a história do Rei Davi, onde um dos temas da trama de Abigail está muito presente na sociedade atual: o relacionamento abusivo. “Ela tem muita sabedoria, é inteligente, mas casa com Nabal, vivido por Vinícius Redd, um ator incrível. Nabal é um homem charmoso, mas muito abusivo”, adianta a atriz, que já viveu uma relação tóxica.

“Eu nunca vivenciei a violência física, mas emocionalmente, com certeza. Quando eu era bem mais jovem, com 19, 20 anos, tive um namorado bem controlador. Foi horrível pra mim. Eu me perdi completamente, nem sabia mais quem eu era depois. Foi difícil acabar a relação, estava com medo de terminar, porque eu o amava e sentia que nunca ia amar do mesmo jeito. Então, sinto muito o que a Abigail passa nesse casamento. Como falei, eu nunca experimentei violência física, graças a Deus, mas, conheço muitas mulheres que passaram por isso. E me conectei muito com o sofrimento dela, de amar uma pessoa e pensar que ela vai mudar. Mas Abigail sofre com a violência física e verbal e aprende que as pessoas abusivas não mudam”, enfatiza.

Maiara, atriz americana, filha de mãe brasileira, estreia na TV aberta, na série Reis, da Record (Foto: Joe Angeli/Assistente: Andrew Donatello)

No meio desse momento conturbado, ela ajuda Davi (Cirillo Luna), em um momento muito sério, a não cometer um pecado. Quando Nabal morre, Davi a pede em casamento. “O carinho entre eles é muito bonito. Com Davi ela tem a oportunidade de experimentar o amor saudável que ela sempre queria”, adianta Maiara, filha de pai americano e mãe brasileira, que nasceu em Seattle, Washington, mas chegou a viver dois anos da infância, em São Paulo, e passou férias no Brasil algumas vezes.

Eu nunca vivenciei a violência física, mas emocionalmente, com certeza. Com 19, 20 anos, tive um namorado bem controlador. Foi horrível pra mim. Eu me perdi completamente, nem sabia mais quem eu era depois – Maiara Walsh

TRAJETÓRIA MARCADA POR SÉRIES DE SUCESSO

Maiara sempre amou as artes e desde criança quis ser cantora e atriz. Mas começou a frequentar aulas de atuação com 13 para 14 anos, quando fez seu primeiro teste e gravou um comercial. “Eu fiquei bem feliz e achei que fosse fácil, mas não é. Somente aos 18 anos, fiz Cory na Casa Branca, onde começou minha carreira de verdade”, frisa ela, que dois anos mais tarde, começou também a escrever roteiros. “Eu amo esse processo, as histórias, e, ano passado, dirigi meu primeiro longa”, conta, referindo-se ao thriller psicológico Bight, cujo roteiro foi co-escrito por ela, que também atua. São apenas quatro atores no elenco do filme sobre relacionamentos abertos e como eles podem ser complicados. “Minha personagem é uma mulher que está em uma relação há 6, 7 anos e não está feliz. Sempre trabalhando, não está presente no relacionamento dela. A história se passa em um único dia e durante a noite são revelados vários segredos que vão destruir esses relacionamentos. A minha personagem tentou uma vez com o par dela ter essa relação aberta e não gostou. O outro é aberto, mas é um relacionamento tóxico”, conta Maiara, que nunca viveu essa experiência.

“Mas tenho amigos que viveram e desses, só conheço um que deu certo. Esse filme pra mim é uma exploração de relacionamento, o que acontece depois de 6, 7 anos quando o amor está acabando e o que as pessoas fazem para tentar renová-lo. É meio sobre isso, sobre como o amor desaparece e como ser honesto é importante dentro de uma relação”, explica ela, que nos últimos dez anos escreveu roteiros de televisão e cinema, conquistando prêmios como o de Melhor Diretora pelo curta Young Blood, de ficção científica.

Maiara Walsh é conhecida por séries como Cory na Casa Branca, Diários do Vampiro e Agentes da S.H.I.E.L.D. (Foto: Joe Angeli/Assistente: Andrew Donatello)

A terra natal de Maiara é uma das maiores indústrias do cinema mundial. Mesmo assim, faz tempo que ela vem desejando atuar no Brasil. “Eu só cheguei aqui dia 15 de junho. Tudo ainda é muito novo para mim, mas estou adorando morar aqui nesse momento. Quando acabar a série, retornarei para os Estados Unidos, mas queria passar alguns meses lá e outros meses no Brasil. Seria o ideal. Eu sempre quis trabalhar no país, mas não sabia como começar, até que, em 2019, a minha agente entrou em contato. O primeiro teste que me enviou foi para Coisa Mais Linda, da Netflix. Fiquei feliz, porque eu assistia e achava a série linda, mas a minha personagem que ia ser grande, entrou apenas em um episódio, porque com a pandemia cancelaram a série”, recorda. Depois, ela atuou no filme Diários de Intercâmbio, com Larissa Manoela, mas a parte dela foi rodada em Nova York. “Agora, é que realmente estou vivendo a experiência de morar e trabalhar no Brasil”, frisa ela, que acaba de estrear na série Good Trouble, da Disney’s Freeform, que está passando no Hulu.

Amo o que faço. Nunca paro de trabalhar. Eu trabalho sete dias por semana, direto, sempre. Sou uma pessoa muito criativa. Preciso criar. Nem é uma escolha pra mim. Fico muito depressiva se eu não estou criando algo – Maiara Walsh

Quando surgiu a oportunidade de ingressar na série Reis, Maiara tinha acabado de construir um estúdio criativo, em Los Angeles. “É um espaço para sessões de fotos, eventos imersivos, um lugar onde todos os artistas podem se unir e conversar sobre arte, sobre a vida. Eu faço jantares lá e eu construo várias coisas, gosto de fazer arte. Mas segui minha intuição. Foi difícil escolher, porque mudei a minha vida inteira, mas ao chegar aqui senti que fiz a escolha certa. Estou gostando muito da minha personagem e também de trabalhar com esse elenco. São atores incríveis e agora meus amigos. Os sets são bem feitos e a equipe é bem legal”, enaltece ela.

Maiara veio sozinha. A mãe, Magda, professora de inglês, o pai, James, pintor e autor de três livros, e a irmã, continuam nos Estados Unidos. Ela já havia visitado o Rio duas vezes. “Morar aqui é um experiência diferente, porque não estou de férias, estou trabalhando. Tem um clima bonito, gosto do calor, do mar e estou fazendo amizades que eu acho que vou ter o resto da vida”, observa ela, que deve gravar até o final do ano. A língua não é um problema. Maiara fala bem o português. Aprendeu quando passou dois anos no Brasil e ao retornar para os Estados Unidos, conversava em português com a mãe de vez em quando. “Agora, é que estou estudando a língua realmente, porque gosto de me comunicar e me expressar. Quando cheguei, estava me sentindo mais travada, mais tímida. Agora, converso mais, me arrisco mais e eu estou me sentindo melhor. Sei que em seis meses, vou sentir ainda melhor, porque eu canto e quero cantar em português, quero escrever em português, então, pra mim, dominar a língua é um desafio a conquistar”, assegura.

CULTURA BRASILEIRA

E aponta como vê a produção na indústria de cinema e TV brasileira em relação a dos Estados Unidos. “Eu fiquei muito impressionada com a construção dos sets no Brasil e as equipes são unidas. Lá os atores têm espaços só para eles mesmo sozinhos, como trailer. Mas isso não importa pra mim, porque gosto quando o elenco fica junto durante uma produção americana. Mas são pequenas diferenças. E uma diferença engraçada pra mim, aqui no almoço sempre tem arroz e feijão e eu amo arroz com feijão. Como todos os dias, mas lá você nunca vai ver isso”, diverte-se ela, que já conhecia o prato.

A atriz americana gosta das músicas de Caetano Veloso, assistiu a novela O Clone, quando era bem jovem e adora comer feijão com arroz (Foto: Joe Angeli/Assistente: Andrew Donatello)

Ela também conhece um pouco das novelas brasileiras. “Quando era uma criança eu adorei O Clone. Amava essa novela. Agora, que estou aqui quero conhecer mais a cultura brasileira. A música eu ouço desde a infância. Gosto, por exemplo, de Caetano Veloso. Cantar em português, seria um sonho”, ressalta ela que ainda não lançou nenhum álbum. Mas, agora, entre os dias 15 e 22, vai disponibilizar um pouco de suas músicas nas plataformas. “Sou bem eclética, gosto de tudo. A minha música reflete isso. Não gosto de me encaixar em só um estilo, então, tenho umas que tem um pouco de eletrônica. Nesse momento, vai ser tudo em inglês”, explica ela que assina as letras. Tem baladas pop, blues rock.

E assim, ela segue em várias vertentes. “Amo o que faço. Nunca paro de trabalhar. Eu trabalho sete dias por semana, direto, sempre, eu amo as artes, as histórias e sou uma pessoa muito criativa. Preciso criar. Nem é uma escolha pra mim. Fico muito depressiva se eu não estou criando algo. Quero escrever um roteiro meio inglês, meio português e quero fazer aqui. Não sei quando vai ser, mas já estou começando a escrever, a ter ideias, vai ser sobre música”, conta.

Questionada sobre o cenário político do Brasil, explica que ainda está conhecendo. Estou fazendo as minhas pesquisas, conversando com as pessoas para entender melhor a situação, porque eu acho que votar é importante”, diz ela, que tem cidadania brasileira.

POLARIZAÇÃO POLÍTICA E LIBERAÇÃO DE ARMAS

A polarização política que acontece aqui, também existe nos Estados Unidos, onde após Joe Biden vencer a eleição presidencial, o povo invadiu o Capitólio incitado pelo então presidente e candidato derrotado Donald Trump, que foi alvo de operação de busca e apreensão do FBI e documentos secretos foram descobertos em sua casa. Recentemente, vimos um brasileiro tentar matar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. “Eu acho essa polarização muito triste. As pessoas não estão vendo as outras como seres humanos. Acho perigoso quando não vemos o outro como ser humano, com desejos, família, objetivos, mas sim como descartável, inimigo. Fui criada como budista, então, sinto muito todo mundo como se fosse da minha família. Claro, tem pessoas que eu não quero na minha vida, mas tenho respeito e valorizo a vida. Ela é muito curta, então, ter essa divisão é algo mais triste que existe no mundo”, diz.

“Eu acho que precisa ser bem mais difícil comprar uma arma”, frisa Maiara (Foto: Joe Angeli/Assistente: Andrew Donatello)