*Por Karina Kuperman
“Quero que a minha arte chegue ao mundo todo”. Com esse pensamento, o italiano Vicenzo Richy arrumou suas malas e partiu para o Brasil. No ar em “As aventuras de Poliana”, no SBT, ele sabia, mesmo antes de começar a gravar, que tinha “uma missão” por aqui. “Realmente meu plano era tentar uma carreira em Hollywood, mas o Brasil foi tipo a curva do destino para me preparar para o que está por vir. Devo muito a esse país maravilhoso, aqui me tornei artista”, conta ele, que vive o patinho feio Vinicius na trama da emissora paulista.
“O Vinicius foi um presente dos meus desejos. Eu queria muito um personagem que se distanciasse de mim por completo, e que soubesse cantar, dançar e tocar algum instrumento. E o Vini veio com tudo isso e mais um pouco. A desconstrução se deu a partir do corpo. Ele carrega uma mensagem muito bonita e importante de superação, de auto-estima e de como lidar com o bullying também. Ele vem conquistando a audiência pela compaixão e inspirando bastante pessoas que passam por essa experiência terrível”, diz o galã que, na vida real, é completamente diferente do “patinho feio” da história. “O melhor é que as pessoas ficam confusas. Sou parado na rua e dizem: ‘É você mesmo? Nossa, mas você é tão diferente? Até a sua voz…’. Isso me deixa feliz, porque vejo que meu trabalho está sendo bem feito”, pontua.
“As aventuras de Poliana” é uma trama longa se comparada às outras novelas. Os atores ficam no ar por mais de um ano. “A novela não conta apenas uma história. Ela é rica em conteúdo que qualquer personalidade possa se interessar. Acredito que os próprios roteiristas foram descobrindo novos horizontes ao longo da novela. É uma obra aberta, não tem muito como se preparar, é como a vida real, cena por cena se adaptando”, explica ele, que já conhecia algumas das novelas do Brasil enquanto morava na Itália. “Eu me lembro de uma novela brasileira que chegou até a Itália e que foi um sucesso, “Terra Nostra”. Eu era bem pequeno, mas me lembro que Thiago Lacerda foi o sonho da mulherada italiana. E, por coincidência do destino, ele foi o primeiro ator a contracenar comigo na minha carreira na TV, na novela ‘Alto astral’“, conta. Falando do início, aliás, Vicenzo lembra: não foi fácil se adaptar ao nosso português.
“No começo tive dificuldades por conta de sotaque. Me lembro de um teste de uma novela na Globo e o produtor de elenco me disse: ‘Vincenzo você está no perfil, tem as caraterísticas do personagem, mas o seu sotaque italiano não funciona para a televisão’. Isso me serviu de motivação para correr atrás das minhas dificuldades e falar como um brasileiro nativo e aprender diversos sotaques de Norte a Sul. Sair da zona de conforto, para o ator, é uma dádiva”, explica.
Além da televisão, Vicenzo está tendo a oportunidade de, pela primeira vez, fazer cinema. O ator divide seu tempo entre a novela e as filmagens do longa “Helena“, baseado na obra homônima de Machado de Assis. “Eu já tinha ouvido falar em Machado de Assis nos diversos cursos de teatro. Na minha primeira leitura de uma de suas obras, eu me apaixonei. É lindo o jeito que ele descreve cada personagem e nos proporciona um mergulho na história. Machado é um gênio da literatura. Já adquiri outras obras para o meu acervo de leituras”, conta.”Helena foi seu maior romance e o primeiro livro de ficção brasileira traduzido em mandarim. É sucesso no mundo todo. Eu interpreto Estácio que, junto a Helena, protagoniza a história. É o meu primeiro longa e, além da pressão de estar realizando meu maior sonho que é me ver nas telas do cinema, estou contando a história de um dos maiores autores do mundo. Não podia ter estreia melhor. Como disse antes, quanto mais fora da minha zona de conforto, melhor é”, garante ele, que tem vivido um grande desafio: “É uma linguagem diferente, português arcaico, com diversas palavras que eu nunca sequer tinha ouvido falar em minha vida. O meu processo de estudo foi junto ao dicionário. Estamos contando uma história de 1850, fiz muitas pesquisas, vi muitos filmes, tentei ver gestos e etiqueta da época”, conclui.
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