*Por Brunna Condini
O ator Samuel de Assis, sergipano nascido em Aracaju e radicado em São Paulo há 20 anos, está em três plataformas de streaming ‘bombadas’ do momento, com personagens inacreditavelmente diversos: nas séries ‘Insânia’, da Star+, ‘Lov3‘ da Amazon Prime Video, e ‘Resga Hits‘ da Globoplay. Não é pra qualquer um ter oportunidade de mostrar tantas facetas ao mesmo tempo. A produção da Globoplay inclusive rendeu para o ator mais do que audiência e visibilidade. Samuel, o Samuca, se tornou parceiro da atriz Deborah Secco para além do set. “Nos gostamos de cara e ficamos muito amigos. Estou convencendo Deborah a dirigir, o que é uma grande vontade dela. E Deborah é boa nisso. Para você ter uma ideia, ela ajudou a dirigir a mim e ao Alejandro Claveaux em várias cenas de ‘Resga Hits‘. Informalmente, claro, porque os diretores estavam lá. Só de Globo, ela tem quase a minha idade (39 anos). O Hugo Moura, marido da Deborah, é um excelente diretor de fotografia, então já estamos trabalhando em ideias para um projeto. Vem coisa boa por aí”, anuncia, com exclusividade.
“Eu, Deborah e outros parceiros e amigos temos muita vontade de começar uma produção do polo oposto ao habitual. Geralmente, hoje no Brasil, as produções se iniciam com quem idealiza, vende para determinado canal ou plataforma de streaming, e aí só depois chama diretor, produtores, preparador de elenco, ainda sem o elenco, imagine só. Os atores são os últimos a serem escalados, acho isso um erro, porque pode contribuir diretamente para a criação. Deborah se identifica com esse pensamento e eu propus à ela que fizéssemos os nossos projetos. Precisamos transformar os atores cada vez mais em idealizadores, invertendo dessa ‘pirâmide’ chamada produção. E isso é exatamente o que pretendemos trabalhando juntos”.
O ano de 2022 será mesmo especial para o ator. Ele também será dirigido por Lázaro Ramos em ‘Vocês, quem são?’, agora em versão presencial. “Na pandemia, para não surtar, criei espetáculos. Ano passado foi o ‘Poesia e melodia’. Uma produção com poesias de poetas negros, contemporâneos, com músicas do Luiz Melodia (1951 -2017). Criei o texto com Márcio Macena, diretor da minha companhia, a ‘Não companhia de Teatro’. Fizemos online. E neste ano, criei um segundo espetáculo, o ‘Vocês, quem são?’, com o Jonathan Raimundo, um historiador e pesquisador de causas pretas. Também fiz online, de forma reduzida. Mandei o espetáculo virtual para o Lazinho e pedi que ele dirigisse em 2022 e ele topou. Então, ano que vem estaremos no palco presencialmente, eu e dois percussionistas contando essa história. Posso dizer que o ano começa bem. No final de janeiro, eu já gravo mais uma série e emendo com a peça”, vibra.
Com 21 anos de trajetória profissional, o artista celebra o fato de sempre ter vivido da profissão, que buscou por intuição e com determinação. “Em um país como o nosso, isso é quase impossível. Não foram só maravilhas nestes anos de carreira, claro, mas é uma satisfação poder dizer que que sempre vivi da arte de atuar”, orgulha-se. “Quando era pequeno, amava fazer ‘shows’ em casa, cantava muito Roberto Carlos. Fazia até maquete, com miniaturas do show, reproduzindo tudo. Dirigia, produzia. Aliás, esse é um desejo de criança que ainda não realizei, mas vou realizar em 2022, com fé em Deus: dirigir shows”.
Nos últimos anos, além do teatro, Samuel esteve em uma dezena de séries, incluindo os sucessos ‘Cidade Invisível‘ e ‘3%’, da Netflix, e ‘Aruanas‘ da Globo e Globoplay. Mas até chegar aqui, o caminho como ator foi desbravado com inquietude e coragem. “Aos 12 anos entrei para um grupo de teatro do centro espírita que minha madrasta frequentava. Ali vi que era o que eu queria fazer da minha vida. Meu pai era coronel da polícia militar em Aracaju. Quando disse que queria fazer teatro, ele só me olhou e não falou nada, essa foi a resposta dele”, recorda. “Acabei entrando para a faculdade de Química, porque ainda não tinha teatro para cursar lá em Aracaju. Pensei em dar aula de Química, mas no segundo semestre de faculdade desisti da ideia, não era meu caminho. Resolvi vir para São Paulo e fazer teatro. Tinha 18 anos. Anjos surgiram na minha vida e me apresentaram à EAD, a Escola de Artes Dramáticas da USP. Depois, fiquei cinco anos no Teatro Oficina, que foi a maior escola, maior faculdade que fiz na vida. Zé Celso é o meu Deus-mor. Tenho muito carinho e admiração por ele. Tudo que construí na vida como ator, devo a ele e ao Oficina”.
E determina: “Quero chegar a um lugar de reconhecimento que sei que eu mereço. Quero viver bem da minha profissão, sem grandes preocupações. Sem ter que ‘matar muitos leões por dia’ por ser preto, nordestino. Quero esse lugar que é meu e já está aqui, já estou a caminho, chegando nele”.
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